A combinação de custos de produção em alta e redução da oferta de matéria-prima – resultado da guerra entre Rússia e Ucrânia e das altas nos preços internos de energia e frete – fez com que o preço do litro de leite alcançasse nas últimas semanas um patamar que tem espantado os consumidores. O último boletim do leite, publicado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Ealq/USP) mostra que o valor do litro de leite negociado entre as indústrias em Minas Gerais saltou de R$ 2,13 na primeira quinzena de fevereiro para R$ 2,93 na segunda metade de março, uma alta de 37,8%. Para os próximos meses, a expectativa é de mais aumentos nas indústrias, refletindo no preço encontrado pelo consumidor nas gôndolas de supermercados.
Segundo Wallisson Lara, analista de agronegócios do Sistema Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais), com a queda de oferta de matéria-prima causada pela guerra entre Ucrânia e Rússia – grandes exportadores de milho e soja, base da ração para o rebanho –, os custos de produção de leite, que já vinham acumulando alta, fecharam em 25% nos últimos 12 meses. Somam-se à alta dos insumos importados o encarecimento da energia elétrica e do combustível, que não pararam de subir desde o início da pandemia da Covid-19.
Ele afirma que, devido ao aumento elevado dos custos de produção, “o setor vive um cenário catastrófico”. “Os preços pagos ao produtor não acompanharam a inflação, que fechou acima de dois dígitos no ano passado. Com a baixa rentabilidade, a oferta está limitada porque o produtor está desestimulado a investir na atividade”, diz.
De acordo com o analista, sem saída, o produtor tem destinado parte do rebanho que não apresenta produtividade para o descarte a fim de diminuir as despesas. Outra parte é destinada ao mercado da carne, mas não consegue alcançar o preço competitivo do rebanho próprio para o abate. “Mas é uma válvula de escape para tentar manter a atividade”, afirma.
Lara destaca que a compra do leite é altamente sensível ao poder de compra da população. Por isso, a queda no consumo é nítida. “Vemos que o consumo do leite e dos derivados têm andado de lado com queda na oferta, com uma população descapitalizada e com alto índice de desemprego”, relata.
O cenário a médio e longo prazo não é bom, avalia Wallisson Lara. “Não vejo prognóstico de melhora devido à situação econômica do país, já que o comércio é praticamente totalmente interno”, justifica.
Substituição
Grávida de três meses, a professora de música Laís Natali precisa consumir cálcio, mas, por ser intolerante à lactose, só pode tomar leites específicos.
Ela encontrou a opção que costuma comprar com alta de 67% de um mês para o outro – passou de R$ 4 para R$ 6,69. “Naturalmente, ele já é mais caro, mas o preço de hoje subiu acima de R$ 2 em comparação a um mês atrás. Vou ter que consumir lactase (usado para dietas com restrição de lactose) para comprar um leite mais barato; estamos repensando o consumo, trocando muito o leite por suco natural”, diz.
Hoje em Dia / Leíse Costa