1ª LEITURA – Is 42,1-4.6-7
Este é o 1º dos quatro cantos de um personagem misterioso que aparece no livro do profeta Isaías. Isaías apresenta quatro cantos do “Servo de Deus”. 1º) Is 42, 1-9; 2º) Is 49, 1-9a; 3º) Is 50, 4-11; 4º) Is 52, 13-53, 12.
Quais são as características deste personagem misterioso?
a) Deus o ama e o chama (vv. 1a e 6a).
b) Ele possui o Espírito de Deus como os chefes carismáticos (juízes e reis de Israel – cf. BJ). A função de quem possui o Espírito de Deus é defender o povo fazendo justiça aos oprimidos.
c) O Servo vai levar o direito (= a Lei) às nações.
d) Ele é, assim, uma espécie de sacerdote mediador entre Deus e os homens.
e) Ele é profeta ou porta-voz do profeta de Deus. Em síntese, o Servo de Deus é rei-juiz, sacerdote e profeta da justiça.
Como age o Servo de Deus?
a) Não age pela força como os poderosos. Age com mansidão na voz.
b) Não deixará morrer o restinho, que ainda fumega na vida do povo (= “não quebrará o caniço rachado, nem apagará a mecha”…)
Sua missão?
a) Restabelecer a aliança com o povo de Israel.
b) Ser luz para todas as nações. Ele deverá abrir os olhos dos cegos (pessoas ou povos, que ainda não enxergaram o projeto de Deus). Libertar os prisioneiros (pessoas e povos dominados por qualquer tipo de dominação).
Quem é o Servo de Deus?
O próprio profeta? Israel diante das nações? Os primeiros cristãos veem nestes cantos do Servo uma clara profecia, que se realiza plenamente em Jesus. Não poderia ser também uma personificação das nossas comunidades cristãs com uma missão de luz e justiça para a sociedade e o mundo paganizado? ( cf. “Vida Pastoral”).
EVANGELHO – Mt 3, 13-17
A primeira impressão do texto é que o mais importante não é o batismo em si, mas o que aconteceu antes e o que aconteceu depois. O v. 16 diz: “Depois de ser batizado, Jesus logo saiu da água”.
Antes do batismo – vv. 13-15: Diálogo entre Jesus e João Batista
O v. 13 mostra o interesse de Jesus pelo batismo de João. Ele toma a iniciativa de se dirigir ao rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele.
Os vv. 14-15 trazem um curioso diálogo entre Jesus e João, diálogo que é narrado apenas pelo primeiro evangelista. Qual é o pano de fundo deste diálogo? O que está por trás deve ser a polêmica entre os discípulos de Jesus e os de João.
Os discípulos de João achavam que Jesus era o Messias. Jesus, sendo batizado por João, fica parecendo discípulo de João, portanto inferior a João. O evangelista Mateus coloca um ponto final na questão e apresenta a solução em forma de questionamento. João reconhece sua inferioridade e se recusa batizar Jesus, pois é Jesus que na verdade deveria batizá-lo. Mas Jesus o tranquiliza, dizendo: “Por enquanto deixa como está! Porque devemos cumprir toda a justiça”. João Batista, então, fica tranquilo e concorda em batizar Jesus. O diálogo quer mostrar a finalidade do batismo de Jesus e, portanto, o sentido da Sua vida e da Sua ação evangelizadora.
Qual era a finalidade do batismo de João? Era, exatamente, um batismo de penitência e conversão para preparar o povo para a chegada do Messias, pois é o Messias que traria a novidade do batismo com o Espírito Santo e com o fogo (v. 11). Então, por que Jesus, que, além de não ter pecado, era o próprio Messias, por que Jesus quis ser batizado por João? É o próprio Jesus que responde: É porque devemos cumprir toda a justiça. Esta é a frase mais importante do diálogo. Devemos – Jesus fala na 1ª pessoa do plural para incluir não apenas João Batista, mas também seus futuros discípulos, ou seja, toda a Igreja. Esta frase traz as primeiras palavras de Jesus no evangelho de Mateus, que podem ser vistas como uma síntese do seu ministério: cumprir toda a justiça. O que significa cumprir toda a justiça? Mateus entende por justiça a total submissão do homem à vontade de Deus. Jesus cumpre toda a justiça na Sua fidelidade e submissão à vontade de Seu Pai, ao Seu projeto de amor. Deixando-se batizar por João, Jesus se solidariza com toda a humanidade pecadora. E é isto que vemos realmente na vida e atividade de Jesus: solidariedade total com os humildes, os pequenos, os sofredores, os marginalizados. Jesus realiza de modo radical a profecia do Servo de Deus. João resiste à insistência de Jesus, e, mais tarde, até duvida da sua missão (cf. 11, 2), pois estava fora da sua expectativa um Messias nesta linha do Servo de Deus. Para ele o Messias viria como o Messias do fim dos tempos para julgar e exterminar (cf. 3, 1-12). Um Messias humilde, sofredor, solidário, que percorreria o caminho da cruz, foi uma surpresa geral e até mesmo escândalo. Eis o que significa para Jesus cumprir toda a justiça, uma síntese da sua vida e missão, o núcleo do evangelho de Mateus.
Depois do batismo – vv. 16-17
Temos aqui uma teofania ou manifestação do divino. Conservando o núcleo histórico do batismo, o evangelho apresenta, num gênero próprio de apocalipse, o significado teológico da natureza, da vida e da ação de Jesus como Servo de Deus.
“Ele subiu da água” relembra Jesus como novo Moisés atravessando o Mar Vermelho, realizando um novo êxodo (cf. Is 43, 2; 63, 11).
“O céu aberto” significa acesso aos segredos de Deus (cf. Ap 4, 1). É o reino de Deus que se aproxima.
“Ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre Ele”. O Espírito é a força de Deus, é a unção para uma missão profética (cf. Is 61, 1; 42, 1; Lc 4, 14.18). “Pomba” simboliza o povo de Israel; Jesus vai fundar o novo Israel.
“Este é o meu filho amado em quem me comprazo”. O evangelista tem em mente vários textos proféticos (Is 42, 1; 44,2 e Sl 2, 7). Com isto Mateus quer dizer que Jesus inaugura uma era nova de convivência de Deus com os homens através do Seu Filho – Servo que veio na total submissão ao serviço da justiça, sem triunfalismo, mas realizando, ao pé da letra, a profecia do Servo de Deus.
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Diocese de Caratinga