Começa a vigorar nessa quarta-feira, dia 16 de janeiro, a lei municipal nº 3861, de 20 de julho de 2018, que proíbe o uso de canudinho de plástico no comércio de Manhuaçu e distritos. Enquanto a polêmica das sacolas plásticas ainda está longe de um desfecho no Brasil, em Manhuaçu o inimigo também é o plástico, mas no formato de canudo. Danos ambientais e o tempo mínimo de cem anos para decomposição do material geram mobilização, no exterior, para substituição dos canudinhos, e por aqui também.
Desde a sanção por parte da prefeita Cici Magalhães, até a data em que o documento entra em vigência, serão totalizados 180 dias. Prazo que o autor da lei, vereador Juninho Linhares, atual presidente da Câmara Municipal, acredita ter sido suficiente para adaptação dos estabelecimentos que utilizam o objeto. “Pode parecer uma medida insignificante, mas tem grande importância para o meio ambiente. Em alguns estados, como no Rio de Janeiro, só é permitida a utilização de canudinhos biodegradáveis. Estipulamos um prazo para que todos os comerciantes de Manhuaçu e distritos pudessem eliminar seu estoque de canudo de plástico e nesta data em que a lei passa a valer, não serem pegos de surpresa”, destacou o vereador.
Em troca dos canudos de plástico o comércio deverá utilizar os canudos de papel biodegradável. Linhares explica que a medida foi tomada porque é tendência mundial o banimento do uso do plástico em prol da natureza. “Precisamos começar as mudanças por nossa casa, pela nossa cidade, no nosso meio. Ainda que não seja uma exigência em todo o país, queremos tentar colaborar que para nosso rio, nossos peixes e até a gente mesmo, não tenha que sofrer com a degradação da natureza”, acrescentou.
Comerciantes questionam
Apesar do prazo de seis meses que foi dado para o comércio se adaptar, proprietários de estabelecimentos que utilizam o canudinho de plástico fazem uma série de questionamentos. O principal deles é onde encontrar para comprar em Manhuaçu o canudinho biodegradável.
Nossa reportagem visitou algumas lojas de embalagens e distribuidoras e notou que o produto não pode ser facilmente encontrado na cidade. Maioria dos estabelecimentos tem somente o canudinho biodegradável decorativo. Além disso, o custo do produto é alto para a utilização em grande escala. “O valor de um pacote de 500 canudinhos biodegradáveis custa três vezes mais que o de plástico. Nem assim a gente encontra para comprar facilmente. Tenho alguns questionamentos que gostaria de deixar. Por exemplo: Como vou servir um suco ou um refrigerante para um portador de deficiência que não consegue segurar um copo? Vão tirar de circulação esses achocolatados e sucos industrializados que são vendidos nos mercados e que vêm com canudinho na própria embalagem? A fiscalização vai ter condições de visitar todos os estabelecimentos do município, ou só no centro da cidade? – Indagou Rodrigo Xavier Ferraz, proprietário de lanchonete.
Disse ainda que a lei é cheia de falhas. “Eu não sou contra a preservação do meio ambiente e busco me adaptar a tudo que é para colaborar com a natureza, mas penso que uma mudança nesse sentido tem que ser melhor avaliada. Ainda que a gente queira, existem vários obstáculos, como a falta do produto no mercado, que nos impede de fazer isso”, reclamou o comerciante.
Grande vilão do meio ambiente
O canudinho de plástico representa 4% de todo o lixo plástico do mundo e, por ser feito de polipropileno e poliestireno (plásticos), não é biodegradável. A produção do canudinho de plástico contribui para o consumo de petróleo, uma fonte não renovável; e seu tempo de uso é muito curto – cerca de quatro minutos. Mas o que são quatro minutos para nós equivalem a centenas de anos de poluição para o meio ambiente.
Se utilizarmos de exemplo canudos de seis milímetros de diâmetro, o volume ocupado pelo total usado pelos brasileiros em um ano equivale a um cubo de 165 metros de aresta. Se empilharmos os canudos consumidos pelos brasileiros em um ano em um muro de 2,10 metros de altura, seria possível dar uma volta completa na Terra, em uma linha de mais de 45.000 quilômetros de largura!
Presente nas praias, o canudo de plástico também é fonte de formação de microplástico, o formato mais prejudicial do plástico, que já está presente nos alimentos, no sal, nos organismos e até na água potável do mundo inteiro.
Não resta a menor dúvida de que esse objeto é um grande vilão do meio ambiente, mas sua extinção total parece distante. A tentativa em Manhuaçu é válida, porém parece necessitar de uma discussão mais ampla e mais aprofundada.
Klayrton de Souza – Tribuna do Leste