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Tarefa em conjunto: a importância da escola na luta contra a violência infantil

Denúncias de abusos sexuais contra crianças tem partido dos professores às autoridades

A violência é encontrada de diversas formas, em diferentes espaços e pode ser cometida por qualquer pessoa. É um fenômeno, infelizmente, presente cada dia mais, nas práticas da sociedade. Por sua frequência, as pessoas acabam perdendo a estranheza ao vê-la ocorrer; é a forma que o agressor, muitas vezes, consegue impor a soberania.

Apesar de a temática da violência estar cada vez mais exposta nos meios de comunicação em geral, há ainda alguns dispositivos que tentam ocultá-la e/ou negligenciá-la, principalmente quando envolve questões delicadas como agressões que algumas crianças e adolescentes sofrem em suas casas e que acabam ultrapassando os muros residenciais e chegando ao interior da escola.

Sinais como atrasos constantes na escola, comportamentos depressivos podem indicar alguma anormalidade. A família passiva e apática, não demonstrando preocupação ou interesse pelas necessidades da criança, também pode ser indicativo de algum problema familiar.

Em Manhuaçu, um caso de uma criança de 09 anos de idade que há dois vinha sofrendo um estupro coletivo, só veio à tona, graças à percepção da professora que notou mudanças no comportamento da vítima. Fato semelhante ocorreu na cidade de Abre Campo, onde uma criança sofria abuso sexual por parte do pai e a professora realizou a denúncia que terminou com a prisão do acusado.

De acordo com Fátima Mayrinck Brito, secretária Executiva dos Conselhos de Educação da Secretaria Municipal de Educação e conhecedora do Estatuto da Criança e Adolescentes, vítimas que sofrem de violência desse tipo apresentam comportamentos sexuais inadequados para a idade; não tem confiança em adultos; agem agressivamente com brincadeiras sexuais; falam em fugir ou já fugiram de casa; podem ter vergonha excessiva, sentimentos de culpa, ideias ou tentativas de suicídio; baixa autoestima, dentre outros. “A criança passa a maior parte do tempo na escola e isso cria um vínculo afetivo e de confiança muito forte com o professor e se este tem uma suspeita, é importante que fale com o aluno”, afirma Fátima. “O primeiro interlocutor fundamental é a criança e para isso o educador precisa conquistar sua confiança. Afinal, se o menino ou a menina sofreu de fato um abuso, pode considerar aquele adulto também como um inimigo”, ressalta.

Muitas vezes famílias das vítimas evitam que as mesmas se relacionem com a comunidade; aponta as vítimas como promíscua; vê o contato sexual como forma de demonstrar amor familiar; normalmente alega que o agressor não é da família para proteger a mesma.

Os indicadores físicos encontrados nas vítimas de violência psicológica são distúrbios no sono; dificuldade para falar; comportamentos imaturos; urina na cama; falta de apetite e outros problemas de saúde como obesidade, alergias. A família rejeita e aterroriza a criança; descreve a vítima como diferente das outras crianças, como maldosa; exige demais e tem expectativas irreais para a criança.

“Uma vez que a criança deposite a confiança naquele adulto, vai contar o que está acontecendo com ela”, diz. É importante que a conversa aconteça num ambiente tranquilo e seguro, sem interferência de outras pessoas. O professor deve se manter calmo, sem reações extremadas, para não influenciar o relato do aluno.

Cuidado com a criança

“A criança é prioridade em toda essa história. É a parte mais vulnerável, pois passa a sentir culpa e pressão por parte da família” afirma. “Muitas vezes, alguns familiares minimizam a violência à criança como se fosse um problema menor. Por exemplo: ora, como acusar o chefe da família de abuso? Por isso, a escuta, o acolhimento e a proteção do professor àquele aluno se torna importante. A criança se sente mais segura, se há alguém que conhece todas as minúcias de sua situação.”

Segundo Fátima Mayrink, é importante que se formem redes de proteção para as crianças e os adolescentes. “A proteção da criança e do adolescente é um dever de toda a sociedade, não apenas das autoridades”, disse. O professor também precisa de suporte. Às vezes, sozinho não consegue fazer um acompanhamento adequado. Por isso, a instituição deve apoiá-lo e motivá-lo. A formação dos profissionais também se faz fundamental. “Saber lidar com situações de violência sexual e como atuar, a quem notificar, além de compreender o que é infância no século 21, o que diz o ECA, quais as condições sociais de seus alunos, como são suas famílias e o que fazer para garantir os direitos dessas crianças dentro da escola”, completa Fatinha.

No caso de Manhuaçu, o jovem, acusado de abusar sexualmente da garota, foi preso e encaminhado à delegacia de Polícia Civil que investiga o caso. “Primeiramente o delegado de plantão no dia dos fatos, Dr. Felipe Ornelas recebeu a ocorrência e de imediato tomou as metidas pertinentes ao caso e como não estava no estado de flagrância solicitou ao Judiciário um pedido de prisão, que foi prontamente atendido pelo Juiz e cumprido na manhã de sábado, 01/12. Agora estamos apurando a participação de cada um dos envolvidos”, disse Dra. Adline Ribeiro Delegada de Polícia Civil.

Jailton Pereira – Tribuna do Leste

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