Javaporco: espécie exótica alerta a região
Disseminados ao longo do território brasileiro e considerados altamente nocivos às espécies nativas, bem como a agricultura e pecuária, além de representar riscos à segurança e à saúde pública, a espécie exótica resultada do cruzamento do javali com o porco doméstico conhecido como javaporco, tem tirado o sono de diversos produtores rurais. Destrói o que vê pela frente, e os prejuízos que ele causa são incontáveis.
Narrativas sobre problemas ocorridos com pessoas são comuns são destacadas. Em Santa Margarida, no ano de 2016, um produtor rural fazia a limpeza do chiqueiro quando foi atacado por um exemplar do animal, tendo vários ferimentos nas pernas e nos pés, vindo a falecer no local. Sua ocorrência, facilidade de adaptação e de multiplicação tem preocupado órgãos ambientais, produtores rurais, pesquisadores e ambientalistas.
Na região conhecida como Grumarim – que abrange Alto Jequitibá, Caparaó, Divino, Espera Feliz e Luisburgo – pesquisadores de um projeto da UEMG Unidade Carangola captaram em uma de suas câmeras imagens noturnas de um imenso javaporco. O biólogo Daniel Ferraz, que faz parte do projeto, disse que ficou assustado com o registro. “Sempre ouvimos dizer que existia o javaporco nessa região, mas até então nunca tivemos nada de concreto. Como o nosso trabalho é sempre dentro da mata, agora temos que redobrar a atenção e falar do assunto com as pessoas no entorno do Grumarim, pois sabemos que esse animal é muito perigoso”, afirma.
Classificado como uma das 100 piores espécies exóticas invasoras do mundo pela International Union for Conservation of Nature (IUCN), cientistas brasileiros alertam que seu crescimento descontrolado também na Mata Atlântica está impulsionando o aumento das populações de morcegos-vampiros – vetores de doenças como a raiva, criando uma situação de risco para animais silvestres e populações humanas.
Segundo o pesquisador Ivan Sazima, do Museu de Zoologia da Unicamp, os javalis e javaporcos vieram do sul do Brasil, principalmente do estado do Rio Grande do Sul, e avançaram em direção ao sudeste. Ele reitera que se não for tomada alguma providência por parte dos órgãos responsáveis pelo meio ambiente, pode aumentar a incidência de javalis e javaporcos por todo o Brasil. “Tudo isso pode ser previsto com segurança. Os javalis são considerados uma das piores pragas do mundo, devido a sua capacidade de destruir solo, plantas e o que for possível. Também são hospedeiros potenciais de várias viroses e doenças que podem ser transmitidas aos animais silvestres. E, agora, servem de fonte alimentar para o morcego-vampiro, que transmite o vírus da raiva entre outros. Então, há vários riscos, entre eles de aumento da frequência do vírus da raiva nas populações de javalis, animais silvestres e morcegos”, concluiu Sazima.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) autorizou o abate do animal, porém, algumas regras devem ser obedecidas antes da caça, de acordo com a Instrução Normativa nº 03/2013. O ambientalista Eduardo Bazém, da Associação dos Amigos do Meio Ambiente (AMA) participa de um projeto na região da Pedra Dourada em Luisburgo, próxima ao Grumarim, e resumiu em duas palavras as ocorrências do javaporco: “muita preocupação”.
Danilo Alves – Tribuna do Leste