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População desconhece casos de animais em situação de abandono

O Brasil é o segundo país com a maior população de animais domésticos do mundo: são 101,1 milhões, perdendo somente para os Estados Unidos, com 146. Apesar de estudos mostrarem que é crescente a preocupação dos proprietários com o bem-estar de seus animais, não é possível afirmar que esses dados retratam uma realidade comum a todos que possuem animais de companhia.

Humanos e animais relacionam-se desde os primórdios, quando os animais eram utilizados, principalmente, como fonte de subsistência e meio de transporte para o homem. Essa relação se intensificou com o tempo e, atualmente, os animais também são adquiridos para companhia, conforto emocional, auxílio no tratamento de doenças, prática de esportes, guarda, entre outras finalidades. O processo de urbanização, o estilo de vida nas grandes cidades e a necessidade de proteção fizeram crescer a aquisição de animais de companhia que são representados, em sua maioria, pelas espécies canina e felina. O homem passou a buscar a amizade incondicional, a fidelidade e o companheirismo do cão. Já os gatos estão sendo, cada vez mais, escolhidos devido a sua independência, higiene e necessidade de pouco espaço.

Para a promoção de bem-estar a um animal, é fundamental que seja exercida uma guarda responsável. Esta prevê que o proprietário deve proporcionar uma vida sadia, em que estejam inclusas todas as necessidades psicológicas e fisiológicas do animal, zelando pelo seu bem-estar, assistindo-o desde o nascimento até a morte e se preocupando com o controle populacional, por meio de acasalamentos programados e castrações, evitando assim a formação de uma população de animais errantes. E com a atenção voltada para a violência contra os seres humanos, esquecemo-nos da violência contra os animais, uma das mais covardes e inaceitáveis formas de violência.

Porém, diariamente ocorre situações extremas em nosso dia a dia, pois, se por um lado existem animais bem tratados por pessoas que lhes proporcionam uma vida de carinho – como citado acima – amor, abrigo e até luxos desnecessários, por outro lado vemos animais abandonados nas ruas, passando necessidades e submetidos a abusos e maus tratos. Ao mesmo tempo em que são vítimas de atropelamentos e crueldade, animais abandonados representam um grave problema de saúde pública, uma vez que são os principais reservatórios e transmissores de zoonoses como raiva e leishmaniose visceral, configurando-se em importante questão ambiental, segundo informações de Telma Paulo de Freitas, integrante de um grupo de pessoas que se solidarizam com a causa animal.

Para Telma de Freitas, a crença de que os animais são seres desprovidos de “alma” sempre serviu de justificativa para sua utilização para outros fins que favorecessem as “necessidades” humanas, que vão além do alimento, vestimenta, ou subsistência, mas também como locomoção e diversão, por isso algumas pessoas jamais se sensibilizam com o sofrimento infligido por tal exploração. “Os animais têm sido vítimas, ainda, de verdadeiras atrocidades ao serem utilizados em experimentações didáticas e científicas ou mesmo para a prática da zoofilia (sexo com animais). Algumas pessoas acabam por abusar, explorar e infligir maus tratos àqueles que historicamente foram conquistados e domesticados por eles e que deveriam, por direito, obter proteção, cuidados e abrigo”, afirma.

Canil

Partindo da determinação constitucional de que os animais são tutelados pelo Estado e de que há um aumento significativo da população de animais em situação de abandono, o debate sobre a necessidade de garantir a estes animais uma condição digna de sobrevivência, além de uma preocupação ecológica e de bem-estar animal também incide fortemente em uma questão de promoção de saúde pública. Desta forma torna-se um desafio ao poder público trabalhar na prevenção e no controle animal com vistas à saúde humana conciliado ao bem-estar dos animais.

Dentro desta perspectiva, a reestruturação do Canil Municipal surge com o objetivo de combater e controlar as zoonoses atuando na área de avanço das populações de animais abandonados através da conscientização da sociedade para com a guarda responsável e tornando-se um agente multiplicador na forma humana e respeitosa de se tratar os animais, conforme explica Telma de Paulo Freitas. “O Canil Municipal foi interditado pela Promotoria do Meio Ambiente devido ao estado de calamidade em que se encontrava, há alguns anos. O local não oferecia a mínima condição aos animais que iam para lá. E através de denúncia, inclusive da Dra. Isabelle Villefort Carneiro foi uma das precursoras das queixas relacionadas ao local, e somos gratos a ela, pois a sociedade não sabia o que acontecia no local, tendo em vista que os animais eram resgatados na rua e simplesmente evaporaram. Depois dessa ação ele foi interditado para uma reforma que já dura dois anos”, reitera. De acordo com a voluntária da causa animal, o Canil Municipal – que será reestruturado, não servirá para depósito de animais, mas concentrará serviços de castração de cães em situação de abandono, exceto dos cães que possuem família. Eles serão resgatados, castrados, vermifugados, vacinados e chipados (implantação do chip em cães). Depois serão disponibilizados par a adoção para que tenham um destino que não seja a rua.

Descarte de animais

Os casos de pets que já tiveram dono, mas viraram “órfãos”, são de cortar o coração. Mesmo com a difusão da ideia de considerar os bichos como integrantes da família, algumas pessoas ainda seguem a direção de percebê-los como mercadorias, que, consequentemente, podem ser descartadas. “O tema é mais complexo do que se pode imaginar e envolve a sensibilidade das pessoas”, entende Telma Paulo. “Os animais abandonados fazem parte, de alguma maneira, da parcela excluída da sociedade. Em um universo que se acostumou com a presença de crianças nas ruas, como avançar na questão dos bichos?.

O abandono cria um problema de saúde pública. Os cães e gatos podem transmitir doenças, como raiva e leishmaniose, e causar acidentes. Além da castração, a educação sobre posse responsável aparece como aspecto fundamental para atenuar a situação. Pouco adiantam os mutirões se os donos continuam largando os pets indiscriminadamente. Ao adotar, deve-se saber que os animais têm necessidades, provocam gastos, trazem comportamento imprevisível e vivem por muitos anos. “Promovemos campanhas focadas na conscientização com o objetivo de tentar mudar essa realidade”, afirma Telma de Paulo Freitas.

Como denunciar maus tratos

Para denunciar, ligue para o 190 da Polícia Militar, ou entre em contato com o Disque-Denúncia (tel. 181). Telma de Paulo Freitas orienta as pessoas a reunir o máximo possível de evidências para identificar o infrator e provar o ocorrido, como vídeos e fotos do abandono e os dados da placa do carro, por exemplo.

Danilo Alves – Tribuna do Leste

 

 

 

 

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