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Setembro Amarelo: uma campanha a favor da vida

01 - CopiaAssim como outros meses dedicados à realização de campanhas educativas e de conscientização ligadas à saúde, setembro é o mês em que a sociedade volta seu olhar para um problema em escala mundial: o suicídio. Através da campanha “Setembro Amarelo” capitaneado pela Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP) e iniciado no Brasil pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com suas primeiras atividades desenvolvidas em 2014. As instituições estimulam a divulgação da causa nesta segunda-feira, 10/09.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase um milhão de pessoas morrem por suicídio anualmente, o equivalente a uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, de acordo com os números do Sistema de Informações de Mortalidade ( SIM) do Ministério da Saúde, ocorrem, em média, 32 mortes por suicídio/dia. Visando contribuir para a redução desses números alarmantes, a campanha Setembro Amarelo busca conscientizar a população acerca da importância da identificação e como ajudar as pessoas que possuem a tendência em tirar a própria vida.

Assista aqui a entrevista do psicólogo Santhiago Souza na redação do Tribuna do Leste

De acordo com o psicólogo Santhiago Souza, comentar sobre o suicídio nos dias atuais não é uma tarefa fácil, tendo em vista que o assunto desperta questionamentos sociais no imaginário coletivo. Assim, um comportamento de julgar aquele que sofre, em nada colabora, e em algumas circunstâncias pode até potencializar o ato. “Existem diversas pessoas que não possuem a oportunidade ou não sabem como dividir suas angustias, dores e sofrimento. Dessa forma, precisamos cada vez mais nos abrir para dar acesso e espaço para que as pessoas possam compartilhar seus problemas e conflitos a fim de prevenir o suicídio”.
Santhiago Souza salienta que pessoas que cometem as tentativas e o ato propriamente dito não são as únicas acometidas por um grave problema de saúde mental. As famílias precisam falar sobre este assunto, tendo em vista que passam por este tipo de experiência e carregam marcas profundas sobre o acontecimento. Sem contar o estigma social, inerente em casos que as sociedades, por si só, taxam as pessoas de loucas. Ele destaca que o papel da família é muito importante, pois são eles que estão próximos à pessoa que, por algum motivo, apresenta essas ideias, ou um desânimo de viver, de não querer fazer as coisas. “Então, é fundamental que a família perceba a motivação da pessoa, o ritmo para trabalho, relações, as frases que ela fala diante de dificuldades, quais são os sofrimentos por que essa pessoa está passando, perceber se há uma tristeza aparente. Muitas vezes a pessoa pode apresentar sintomas, outras vezes, pode ser uma coisa silenciosa. O suicídio é um assunto muito velado, e quando ele acontece, às vezes não é divulgado como o real motivo da morte. Por isso, a campanha vem com muita força, pois falar é a melhor solução. Às vezes a pessoa não demonstra, e você percebe que ela está em uma vida normal, mas, no entanto, internamente, apresenta um grande sofrimento”, enfatiza.

02 - CopiaO psicólogo explica que alguns sinais apresentados pela pessoa podem refletir no sentimento em que ela se encontra diante da doença, tais como sintomas de baixa autoestima, dificuldade de manter atividades de rotina, a própria tendência depressiva, e a falta de esperança podem indicar um alerta de que algo não está bem com determinada pessoa. “Sinais no cotidiano podem mostrar que a pessoa planeja ou pensa na possiblidade de suicídio. A maioria das pessoas com ideias de morte comunica seus pensamentos e intenções suicidas. Elas, frequentemente, dão sinais e fazem comentários sobre “querer morrer”, “sentimento de não valer para nada”, e assim por diante. O psicólogo Santhiago Souza alerta que comportamentos considerados como de despedida podem ser percebidos antes da tentativa de suicídio. “De repente a pessoa começa a se desfazer de coisas, dizer que não vai fazer mais certas atividades. Sinais que a pessoa está encerrando sua agenda, por exemplo. Em geral este tipo de comportamento é considerado de alto risco”, elucida.
Como identificar
Há que se perceber que o suicídio é um fenômeno que não é exclusivamente do indivíduo – não é “culpa” dele ou de ninguém em específico; há um emaranhado de relações de forças que influenciam na chegada à possibilidade do ato, diversos processos de determinação que poderão conduzir um estado de fragilidade que levará a esta decisão. Questões familiares, de renda, afetivas, biológicas, sociais, mentais, diversos fatores têm de ser averiguados para se ter uma percepção do que leva alguém ao suicídio.

03 - CopiaMas existem pistas, indícios e também precisam de contextualização, dessa vez na história individual, conforme explica o profissional em saúde. “A pessoa mudará seus hábitos, ficará introspectiva ou impulsiva, sofrerá, a fala se mostrará apática e sem esperança – mais pessimista, ela começa a falar mais sobre morte e tragédias, ocorre um aumento do uso de álcool, remédios e drogas, ela é acometida por insônia, falta de apetite, stress muito alto, e começa a se automutilar. O que quer que seja, ficará notório por uma autodestruição da pessoa e de suas relações: daí os comportamentos e verbalizações agressivos. Mas, o que tem de ficar claro é que esse é justamente o modo de o indivíduo pedir ajuda: portanto, ouça, acolha e incentive a procura de um acompanhamento multiprofissional”.

Como ajudar

04 - CopiaA proximidade de alguém que decidia dar fim à vida deixará todos perplexos e perguntando se nada poderiam ter feito para evitar este gesto. A maior parte das pessoas que pensa em cometer o ato enfrenta uma doença mental que altera, de forma radical, a percepção da realidade e interfere no livre arbítrio. Assim sendo, a forma de ajudar ocorre através da prevenção quanto a doença. “Quem convive com essas pessoas, como colegas de trabalho, parentes e amigos, são os que mais podem perceber os sinais de que alguém pensa em desistir da própria vida. A pessoa mudou o comportamento, ficou mais triste, mais desanimado, passou a faltar o trabalho, não rende do mesmo jeito. São vários os indícios de reações depressivas ou quadros depressivos de maior severidade, que podem levar ao suicídio. Se perceber esses sinais, dê atenção, se disponha a ouvir e sugerir acompanhamento especializado, caso necessário. Não devemos fechar os olhos mas contribuir de alguma maneira, pois sempre existirá uma forma de amparar essas pessoas. Existe também as referências aonde as pessoas podem procurar ajuda, como o Centro de Valorização da Vida (CVV) através do telefone 188, e do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), e serviços de saúde da cidade como a Unidade Básica de Atendimento (UBS) ”, finaliza.

Danilo Alves

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