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Professor relata desvalorização da categoria

Brasil tem dificuldade de atrair jovens para a carreira de professor - CopiaRecente o estudo “Profissão Professor na América Latina – Por que a docência perdeu prestígio e como recuperá-lo?”, divulgado no último dia 27, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), indica que poucos estão sentindo-se atraídos para se tornar professor.
A confirmação está em todos os lugares, independentemente de região, onde há jovens concluindo o ensino médio e mesmo em dúvida para definir uma carreira, sequer pensam em cursar uma faculdade e se tornarem professores.
Os que estão na luta em sala de aula atestam que abraçariam outra função, devido à falta de respeito, o baixo salário e o risco que correm estando lecionando. Eles reclamam que apesar de alguns ajustes, continuam ganhando consideravelmente menos do que outros profissionais.

O professor Marco Antônio Cabral conta que quando ingressou na faculdade de História, Geografia e Ensino Religioso alimentou o sonho em se formar, tornar-se professor e entende que é uma vocação. No entanto, a falta de investimento nos estudos vem tirando dos jovens a vontade de estudar, bem como a falta de interesse da família para estimular em busca de um futuro promissor.
Com o passar do tempo foi percebendo que as coisas estavam mudando e rapidamente a classe ficou desvalorizada, mas mesmo assim sentiu a necessidade de buscar mais conhecimento, enfrentando obstáculos.

Professor Marco Antônio Cabral - CopiaDurante a entrevista, o professor Cabral lembrou que para adquirir um título mais elevado a fim de atender as exigências do sistema, foi em busca do Mestrado em Buenos Aires, mas custeando todos os estudos, passagens aéreas e permanência durante todo o período. “Sei que o investimento feito é algo importante para minha carreira. Mas, se o professor fosse realmente valorizado, haveria uma colaboração para investir no profissional. Mas essa é uma busca constante”, destaca. O professor diz ainda que é percebida a desvalorização do profissional, baixos salários, o descumprimento do piso salarial, além da precariedade nas escolas e falta de material para os profissionais são fatores que não atraem jovem à profissão.

Pesquisa

No Brasil, apenas 5% dos jovens de 15 anos pretendem ser professores da educação básica, enquanto 21% pensam em cursar engenharia. No Peru, o índice dos que pretendem optar pela docência é de menos de 3%, contra 32% que querem se tornar engenheiros. Por outro lado, em países onde a profissão é mais valorizada, o interesse tende a ser maior, como na Coreia do Sul, onde 25% dos jovens têm a intenção de lecionar, e na Espanha, onde o índice chega a quase 20%.
Entre as razões para o desinteresse para atuar na educação básica estão, segundo a pesquisa, os baixos salários. “Mesmo nos últimos anos, após uma década de incrementos nos salários dos professores, eles continuam a ganhar consideravelmente menos do que outros profissionais”, enfatiza o texto.

A partir dos dados das pesquisas domiciliares no Brasil, Chile e Peru, o estudo do BID mostra que os educadores ganham cerca da metade da remuneração de profissionais com formação equivalente. No Equador, a diferença é menor, mas os professores ainda recebem 77% da remuneração de outras áreas. No México, os vencimentos dos trabalhadores da educação é de 83% dos de outros ramos.

Falta de infraestrutura

Além da questão financeira, o estudo aponta para as condições de trabalho como razão do desinteresse dos jovens pela docência. “Muitas vezes a infraestrutura das escolas latino-americanas é deficiente em relação a equipamentos e laboratórios e até mesmo em termos de serviços básicos”, ressalta o documento.
O estudo menciona as informações levantadas pelo Laboratório Latino-americano de Avaliação da Qualidade da Educação em 2013 sobre escolas de 15 países latino-americanos, incluindo o Brasil. Na ocasião, foi constatado que 20% dos estabelecimentos de ensino não tinham banheiros adequados, 54% não tinham sala para os professores e 74% não contavam com laboratório de ciências.

Desinteresse

O estudo aponta ainda que muitos jovens acabam seguindo a carreira docente “por eliminação, não por vocação”. Recuperando dados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2008, a pesquisa destaca que, à época, 20% dos estudantes de ensino superior com foco no magistério haviam feito a opção para ter uma alternativa caso não conseguissem outro emprego e 9% por ser a única possibilidade de estudo perto de casa.
“Ser professor na América Latina não é uma carreira atraente para jovens talentosos do ponto de vista acadêmico. Não se pode ignorar o fato de que muitos futuros professores decidem frequentar um curso de carreira docente exatamente por ser uma carreira mais acessível no aspecto acadêmico, e não necessariamente por terem uma vocação pedagógica”, analisa o estudo.

Reflexos

Esse problema tem, junto com outros fatores, reflexos no desempenho dos estudantes. Os dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), citados pela pesquisa, mostram, por exemplo, que os conhecimentos em leitura, matemática e ciências dos jovens de 15 anos da região está dentro dos 40% dos com pior resultado entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O percentual dos estudantes que não atingem o nível básico das competências é mais do que o dobro da média da OCDE.

Eduardo Satil com informações da Agência Brasil

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