Pe. José Raimundo (Mundinho)

Reflexão: o mistério da morte!

REFLEXÃO

Pe. Mundinho, sdn

 Nunca nos conformamos com a morte! Sabemos de sua existência, conhecemos seus efeitos e consequências, avaliamos o estrago que ela causa nos corações e nas consciências. Quando ela nos atinge buscando um dos nossos, ficamos emudecidos, reflexivos, doloridos e  absortos.

Não nascemos para a morte!

O Criador nos fez existir para a vida e vida plena.

Estamos ainda no “calor” do passamento do Pe. Júlio Pessoa Franco, sdn, no último sábado. A contemplação do corpo sem vida do sacerdote, do homem de Deus que sempre acreditou na vida e pregou e trabalhou, e lutou intensamente para promover a vida em seu redor, agora jaz sem vida, morto, inerte no caixão sob a contemplação chorosa dos parentes e confrades, fiéis e amigos, admiradores e paroquianos. O que dizer neste momento senão a memória de sua vida, de suas realizações, de feitos e não feitos, de palavras e expressões, de afetos e desafetos, da bondade, do coração compassivo, das enérgicas atitudes em momentos de ímpetos pelas realizações.

O Pe. Júlio morreu! É a conversa de todos na cidade, assunto do bate-papo das esquinas e bancos da praça, dos comentários nos intervalos e das longas reminiscências de corações enlutados.

O Pe. Júlio tinha que morrer! Ele não nasceu para ficar eterno, mas nasceu para eternidade. Disto ele tinha consciência, sabia lidar com esta verdade, embora, em alguns momentos teve medo, ficou apreensivo, mudou de assunto. Em outros, no momento da angustiante demora da dor e do mal da doença que lhe roubava a serenidade e a paciência pediu sua ação: queria morrer.

 “Ninguém quer morrer. Mesmo as pessoas que querem chegar ao paraíso. Mas a morte é o destino de todos nós.” (Steve Jobs).

No velório que durou a noite e a manhã toda, o povo teve a oportunidade de se aproximar do esquife para prestar uma última homenagem de gratidão silenciosa, quebrada pelo soluço e o rolar da lágrima.

A cidade parou  para o cortejo do sepultamento. Muitas palmas, coroas de flores, a sirene do caminhão do Corpo de Bombeiros, o trânsito desviado nas ruas e na rodovia registraram o último adeus a um homem que muito amou esta cidade e sua gente.

O Pe. Júlio não morreu! Permanecerá vivo nos corações e na memória desta gente, deste rincão. Porque a Morte nada tem a dizer sobre si mesma. Quem sabe sobre a Morte são os vivos. A Morte, ao contrário, só fala sobre a Vida, e depois do seu olhar tudo fica com aquele ar de “ausência que se demora, uma despedida pronta a cumprir-se” (Cecília Meireles).

O Pe. Júlio não tinha que morrer! Foi muito cedo, imaginávamos! Deveria permanecer ainda que com seu temperamento, sua teimosia, sua impaciência, suas broncas, seus murros na mesa do altar, porque

Perante a morte tudo é desculpável… (Rubem Alves)

No alto de seus 87 anos de idade e 60 de sacerdócio deixou o testamento de toda uma vida dedicada à Igreja, à evangelização, ao bem comum e ao Reino de Deus. Foi o sacerdote zeloso, solícito, comprometido com a glória de Deus e a santificação das almas. Como empreendedor, realizou projetos que beneficiou o crescimento de toda região. Foi um grande comunicador ao se ocupar e fazer um batalhão trabalhar no rádio e no jornal impresso. Na construção civil deixou edifícios, igrejas e capelas nas cidades e na zona rural.

“Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer”.

O escritor Rubem Alves expressou que a morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A “reverência pela vida” exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir.

 

 

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