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Economista fala sobre os efeitos econômicos no Brasil após a paralisação dos caminhoneiros

 

caminhao_parado_greve_dos_caminhoneirosA greve dos caminhoneiros provocou desabastecimento em diversos setores da economia e afetou o crescimento do país no segundo trimestre. Alguns economistas, inclusive, já reduziram a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre e também do ano por causa da paralisação. Apesar do termino da greve é possível vislumbrar impactos de longo prazo que os dias de paralisação tiveram na economia do Brasil, ainda que seja impossível apontar com precisão todos os desdobramentos de uma interrupção, por vários dias, de diversas atividades econômicas, conforme explica o economista Wilson Rocha. Para ele, o pior efeito de longo prazo é a formação de um ambiente de incerteza. “A atividade econômica depende muito de segurança, de olhar para o futuro e ter expectativas positivas”, afirma.

Dessa forma, pode haver um efeito inibidor sobre os investimentos, que leve a um arrefecimento ainda mais forte da economia, cuja recuperação já era um pouco mais lenta do que o esperado. Nesse cenário, mesmo com poucos dias de duração, a paralisação pode ter impacto sobre o Produto Interno Bruto (PIB). “O país teve um impacto – por volta de R$ 50 bilhões, e dentro deste valor os setores que mais perderam com a greve foi o da pecuária e toda a sua cadeia produtiva, que teve um prejuízo de 8 a 10 bilhões de reais, o setor de distribuição de combustível que deixou de arrecadar por volta de 15 bilhões, e os produtores de aves e suínos com a média de 13 bilhões de prejuízo”, aponta.

Inflação

O economista lembra que um quadro inflacionário já se desenhava mesmo antes da greve e estima que o indicador poderá subir ainda mais com a alta de preços verificadas dos últimos dias. “Podemos ter um problema daqui para frente. Se os empresários entenderem que existe espaço para um aumento de preço, e a população ainda comprar o produto da mesma forma, podemos ter, consequentemente, um nível de inflação mais elevado. Vimos muito posto de gasolina cobrando, mesmo antes da crise, 4 reais e 80 centavos no litro da gasolina com o valor aumentando e alguns comerciantes até praticando preços abusivos – chegando a 10 reais o litro. E a gente tem o mesmo posto de gasolina vendendo hoje a 5 reais e 25 centavos ou a 5 reais e a população ainda demandando. Portanto, pode ocorrer um aumento no nível de preços e isso continuar a longo prazo, desde que a população continue consumindo. Nós, enquanto consumidores, devemos estar atentos a essa situação”, alerta.

O último Boletim Focus, do Banco Central, divulgado no dia 04/06, mostrou que a projeção de crescimento este ano passou de 2,37% para 2,18%. Foi a quinta semana consecutiva de baixa nas estimativas. O pessimismo inclui a expansão de apenas 0,4% do PIB no primeiro trimestre e a greve dos caminhoneiros.

 O mesmo levantamento aponta outra consequência da paralisação: a pressão sobre os preços. Mesmo com a economia patinando, a estimativa do mercado para o IPCA – o índice oficial de inflação – em 2018 passou de 3,6% para 3,65%. Apesar da alta, o porcentual projetado ainda está abaixo do centro da meta de inflação perseguida pelo BC este ano, de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual (inflação entre 3% e 6%). No caso de 2019, os economistas projetam um IPCA de 4,01%.

A situação fiscal

De acordo com o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, as medidas anunciadas pelo presidente Michel Temer – como a redução de 46 centavos no preço do diesel por 60 dias –  terão um custo de 10 bilhões de reais aos contribuintes. O valor corresponde ao montante que o governo vai utilizar para ressarcir a Petrobras pelos descontos que serão concedidos e o congelamento do preço. A decisão sinaliza que o governo se mantém irredutível quanto à possibilidade de rever a política de preços da empresa, questionada nos últimos dias. Quando anunciara uma redução excepcional de 10% no preço do diesel, na última quinta-feira, as ações da companhia na bolsa caíram 13%.

Wilson Rocha critica esse sacrifício fiscal, que, em sua visão, prioriza os acionistas em detrimento do Estado. O governo mexeu na questão do PIS/CONFINS, e ainda declarou que a Petrobrás não teria nenhum prejuízo com a relação a queda do preço do diesel. Obviamente o governo, de alguma forma vai ter que tirar recursos ou terá que aumentar a alíquota de imposto e tributação de alguma outra área e isso ainda não está muito claro. Mas com ele deixa de arrecadar uma parte especifica em cima do diesel, ele terá que se recompensar de alguma forma, seja cortando em algum segmento – diminuindo despesas ou tentando arrecadar para equilibrar as contas. A população pode sair fragilizada e financiando a redução de 46 centavos”, reitera.

Economia a longo prazo

Para Wilson Rocha, ainda não é possível precisar o tamanho da repercussão da paralisação sobre a atividade econômica. Ele acrescenta que a preocupação atual é com possíveis reflexos sobre a coleta de dados para as pesquisas conjunturais. Segundo ele, é preciso observar se o impacto aparecerá nos preços, no comércio, na produção, se houve perda de mercadoria no momento da parada, se houve recuperação ou estabilização quando terminada a greve. “O Brasil pode ter um impacto a longo prazo devido a paralisação. Alguns podem ser bons – como o próprio Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) sugeriu, para melhorar a competitividade do setor, a exemplo dos hipermercados também terem postos de gasolinas para aumentar a concorrência. Isso é um impacto a longo prazo e a ideia ainda se encontra muito nova. Mas também temos impactos que podem ser ruins, como a questão de desabastecimento de setores específicos da economia que podem demorar um certo tempo para se recuperarem. Também pode haver uma oferta menor nos próximos meses, mas antes se faz necessário que dados oficiais sejam apresentados para sabermos quais áreas da economia poderão ser impactadas de forma negativa devido a paralisação”.

Danilo Alves

 

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