Lideranças participam de curso da Campanha da Fraternidade em Manhuaçu
A Quarta-feira de Cinzas, 14/02 não foi somente marcada pelo começo da Quaresma para os católicos. Também aconteceu o lançamento da Campanha da Fraternidade (CF) 2018, com um tema bem atual: Fraternidade e Superação da Violência. O lema, apoiado na bíblia, complementa o motivo da escolha. Retirado do Evangelho de Mateus, capítulo 23, ressalta: “Vós sois todos irmãos”. A ideia é dialogar e promover a paz, analisar as múltiplas formas de violência e instruir a comunidade sobres os serviços públicos existentes gratuitamente em prol da justiça, estimulando participação social.
A CF 2018 além de mapear a violência, colocará também em evidência as iniciativas que existem para superá-la, bem como despertar novas propostas com esse objetivo. “A Igreja no Brasil escolheu o tema da superação da violência devido ao crescimento dos índices de violência no país. Esse tema já foi discutido na década de 80, num contexto em que o país vivia a recessão militar e dentro desse contexto foi possível mapear diversas formas de violência”, afirma o secretário-executivo das Campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Pe. Luís Fernando
Ele explica ainda que o lema da Campanha foi extraído do capítulo 23 do Evangelho de São Mateus, no qual Jesus repreende os fariseus e mestres da lei, por suas práticas não serem coerentes com os seus discursos: “Os fariseus e mestres da lei valorizavam a sociedade hierarquizada. Jesus propõe-lhes então um novo modelo mais comunitário e fraterno “Vós sois todos irmãos”, explica.
Criada em 1962, a campanha é apresentada todo ano na quarta-feira de cinzas, quando tem início a Quaresma, período de 40 dias no qual a Igreja Católica convida os fiéis a praticar a oração e o jejum até o domingo de Ramos, que acontece no dia 25 de março.
Curso em Manhuaçu
Lideranças das comunidades pertencentes as paróquias São Lourenço e do Bom Pastor participaram do curso da “Campanha da Fraternidade 2018”, para ser ministrado em todas as comunidades. O curso aconteceu no último final de semana como momento preparatório a todos os líderes leigos, que ficarão responsáveis a ministrá-lo nas comunidades firmes no compromisso de construir a fraternidade, a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus como um grande caminho para superar a violência.
Irmão Denílson Mariano (SDN), responsável por ministrar o curso da “Campanha da Fraternidade 2018”, em Manhuaçu, enfatiza que toda a Igreja do Brasil em cada Campanha da Fraternidade tenta sensibilizar não só pessoas ligadas a Igreja, mas a sociedade como um todo diante de situações que clamam por resposta do Evangelho. Ele destaca que a proposta da Igreja não é trabalhar propriamente a violência, mas os caminhos que podem superar questões de hostilidades, seja no âmbito doméstico, no trânsito, nas escolas e a violência armada. “Trata-se de recuperar os princípios verdadeiramente cristão de superação da violência. Essa é a proposta da Campanha da Fraternidade da Igreja para todo o Brasil”, explica.
Devido ao seu alto grau de complexidade, o tema violência foi discutido, refletido e aprofundado em um seminário que aconteceu no dia 09 de dezembro de 2016 na sede da CNBB em Brasília. A temática do tema é muito exigente, e possui abordagens que necessitam fazer diante da amplitude do tema. Agora, vários segmentos também estarão ampliando e discutindo a temática da violência. Para isso, há a necessidade de que todos conheçam de forma mais ampla o retrato da violência no lugar onde vive, as formas diferentes com que ela é cometida e, ainda que haja o despertar daquelas vítimas que sofrem com a violência velada. “Todos os anos a Igreja trabalha com um texto base na Campanha da Fraternidade. O tema deste ano permite identificar as diferentes formas de violência que está enraizada na sociedade. Se pegarmos o exemplo da violência doméstica, percebemos que há um desdobramento para diversas formas de agressão, seja física – entre pais e filhos, irmãos contra irmãos, filhos contra pais, entre outros. A violência sexual também apresenta subdivisões que vão desde ao abuso de menores e crianças, quanto a questão do estupro – que em sua grande maioria acontecem dentro da própria casa”, analisa.
Irmão Denílson Mariano exemplifica também acerca da violência psicológica, aonde o indivíduo tenta se colocar como superior ao outro. “Expressões do tipo “Você sabe com quem está falando? ”, “Dobre a sua língua”, constituem uma forma de violência. E são declarações que estão presentes na maioria dos seres humanos. Por isso, o ponto de partida que a Igreja coloca para nós é a própria atitude de Jesus Cristo diante de fatos que acarretam o mal para outras pessoas. Ele é o referencial maior e nos revela quem é o pai misericordioso, e quer que nos reconheçamos como irmãos uns dos outros. Precisamos nos descobrir como irmãos para superarmos toda e qualquer forma de violência”.
Com o tema tão abrangente da Campanha da Fraternidade, a Igreja convoca todas as pessoas cristãs que busquem um caminho de superação da violência. E ainda, que haja essa determinação principalmente no período quaresmal que se inicia, a fim de que aconteça a conversão, a recuperação da fraternidade e a motivação para se buscar novos caminhos e meios, para a superação de toda forma de violência que venha a existir em nosso meio.
Campanha da fraternidade 2018
O conteúdo traz pontos fundamentais, capazes de levar à sociedade a uma profunda reflexão acerca da temática da violência. O livro da CF/2018 traz o mapa da violência 2016, que revela o crescimento do número de pessoas negras vitimadas por ama de fogo na faixa de 46,9%. Há uma diferença de 158,9% a mais de negros vitimados por armas de fogo do que brancos. Levantamentos revelam que a violência está presente em vários segmentos da sociedade. Quer seja na rua, dentro de casa, pelo gênero, pela condição social e até mesmo na intolerância das palavras, a violência impera.
De acordo com Irmão Denílson Mariano, a Igreja busca sensibilizar a sociedade como um todo no sentido de estar olhando de forma diferente e sempre buscar no evangelho a superação da violência. Recuperar os princípios cristãos, identificar as diversas formas da violência que se desdobra nos variados sentidos e ponto de partida. “Vivemos num país acolhedor, que vive uma violência muito crescente. É preciso que todas as ferramentas sociais, tais como o Poder Judiciário, as polícias e sociedade estejam emanadas contra esse mal que assola a milhares de famílias. A superação não é por meio da morte e, sim com a promoção social”, destaca.
Na situação atual, entende-se por violência qualquer ação contra a vida ou a sociedade que possa causá-las prejuízo ou destruí-las por completo. A Escritura conhece duas formas de violência: uma injusta (fruto da injustiça dos homens) e outra “justa” utilizada por uma causa justa ou por fim nobre como é o caso da legítima defesa. “Se analisarmos em números gerais, a cada hora morre cinco pessoas devido a qualquer tipo de violência. Apesar de sermos um pais acolhedor, aonde as pessoas se dão bem, em sua grande maioria, as estatísticas revelam uma hostilidade crescente, que atinge sobretudo jovens mulheres e negros. Diante dos fatos, é fundamental a somatória de forças não só de dentro da Igreja, mas de outros componentes das esferas sociais. É preciso que superemos a ideia de punir com morte que comete algum ato de violência, é um engano, um erro da sociedade. A superação da violência deve punir que cometeu o ato, mas não com a morte. A violência se combate com promoção social, garantia a saúde, alimentação, moradia, educação, ou seja, condições dignas de vida para que a pessoa se reconheça como um ser humano e faça parte de uma sociedade mais justa”, aponta Irmão Denílson Mariano.
Danilo Alves/Eduardo Satil