Registros históricos: enchentes em Manhuaçu, suas causas e tragédias
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Uma única edição do jornal Tribuna do Leste pode ser lida por várias pessoas. Há todo um conforto e charme em sua leitura, toda uma história, todo um ritual. Há também a sensação de informação segura, honesta, naquilo que podemos apalpar. Quanto mais dinâmico, mais popular e mais inteligente, mais os leitores apreciarão seu conteúdo.
O jornal Tribuna do Leste dispõe de um conglomerado midiático à sua disposição para a divulgação das manchetes para conhecimento dos leitores. Suas páginas são os olhos de uma população que acompanha o crescimento de Manhuaçu e região, e convivem com benefícios ao longo dos anos, mas também são impactados por tragédias em âmbitos naturais, a exemplos das enchentes que preenchem as páginas do impresso desde 1979, quando o jornal Tribuna do Leste retratou essa calamidade que repercutiu nacionalmente. Mas não para por aí, através dos registros do Tribuna do Leste as cheias do Rio Manhuaçu foram retratadas nas edições das décadas seguintes, através do grande desempenho dos profissionais que escreveram e escrevem para o impresso até os dias de hoje.
O jornal Tribuna do Leste faz um resgate histórico que demonstra a força de um povo em ajudar os mais necessitados em situações de risco, bem como mostra o poder da natureza diante da fraqueza humana. A seguir, você confere as principais enchentes ocorridas em Manhuaçu desde 30 de setembro de 1972.
As enchentes constituem um grave problema nas cidades. Geralmente, sua causa está relacionada com a acumulação da água das chuvas sem a existência de meios necessários para o seu escoamento. No entanto, nem todas as suas causas são antrópicas, ou seja, causadas pelo homem. Para a coordenadora Municipal da Defesa Civil, Maria Tereza Nacif, “Vininha”, a questão das enchentes e inundações nos centros urbanos é um típico caso de uma manifestação natural que é intensificada pela ação humana e pela forma com que ocorre o processo de uso e ocupação do espaço geográfico. “O uso irregular do espaço da cidade, sobretudo nas margens dos cursos d’água, está relacionado com as administrações municipais e com a ineficácia ou inexistência de planejamentos adequados a essas questões”.
Portanto, conforme Vininha Nacif, o problema das enchentes precisa ser combatido antes mesmo do período de chuvas, com incentivos públicos que visem à promoção de sistemas eficientes de drenagem, a avaliação das zonas de risco nas proximidades de rios e a ampliação de programas de conscientização pública, a fim de diminuir o descarte irregular de lixo nas ruas das cidades.
A coordenadora Municipal da Defesa Civil elenca algumas enchentes que ocorreram em Manhuaçu ao longo dos anos e deixaram moradores desalojados, provocaram mortes e estragos nas estruturas de Manhuaçu.
Ela ressalta que outras cheias aconteceram, nas décadas de 80 e 90, com destaque para 1988 com pequenos deslizamentos de terra nos bairros São Vicente e Matinha, no entanto os registros abaixo apontam para as que tiveram maior repercussão e prejuízo.
1979
Em fevereiro de 1979 houve uma grande cheia na bacia do Rio Doce, a qual se constituiu em calamidade de repercussão nacional. Formada por uma chuva intensa de longa duração e abrangendo grande parte da bacia, as águas atingiram rapidamente os leitos dos rios e invadiram várias cidades. Dentre elas destacam-se: Aimorés, Conselheiro Pena, Galiléia, Governador Valadares, Itueta, Resplendor, Tumiritinga, Manhuaçu, Santana do Manhuaçu, Ipatinga, João Monlevade, Nova Era, Rio Piracicaba, Timóteo, Coronel Fabriciano e Antônio Dias.
Um dos maiores desastres naturais já registrado na região, tendo um total de 47.776 desabrigados, 74 vítimas fatais e 4.424 residências atingidas.
Este evento fez com que, em 09 de dezembro de 1981, os Ministros do Interior e das Minas e Energia baixassem portaria criando um Grupo Interministerial de Trabalho cujo objetivo era realizar estudos de prevenção e controle das enchentes do Rio Doce. Após cento e oitenta dias, este grupo apresentou um documento intitulado “Prevenção e Controle das Enchentes do Rio Doce” que contemplava algumas soluções para as cheias na bacia. O grupo ressaltou a necessidade de continuar contando com um sistema de alerta eficiente e aperfeiçoado para enfrentar os problemas das enchentes, mesmo após as construções das obras hidráulicas julgadas indispensáveis pelo grupo.
1997
Em janeiro de 1997, novas enchentes de grandes proporções atingiram diversas cidades situadas entre Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, após chuvas contínuas. Nos três estados, registraram-se 82 mortes, 11 750 casas foram danificadas e outras 1.857 ficaram destruídas, afetando 175 municípios. Em Manhuaçu, a tragédia inundou e destruiu casas e ruas, arrancou pontes e matou sete pessoas.
2005
Em março, época fora do padrão dessas ocorrências, as enchentes voltaram a assolar a população de Manhuaçu. Barrancos deslizaram atingindo moradias, escolas cancelaram aulas e pessoas tiveram que deixar a sua casa. O comercio, serviços de saúde e o transito viveram um dia de caos. Mais de 650 moradias foram inundadas e cerca de 2.500 pessoas tiveram que deixar seus imóveis. O nível do rio subiu cerca de 2,5 metros.
2009
A cidade de Manhuaçu continuou sofrendo com os estragos causados pelas chuvas em janeiro de 2009. Nesse ano o Rio Manhuaçu subiu cinco metros e dividiu a cidade. Cerca de 2.500 casas que estavam as margens do rio foram atingidas pela inundação. Dados da prefeitura indicaram que 1.500 pessoas ficaram desalojadas.
A enchente tomou conta de quatro pontes, fechou as passagens pelas ruas Júlio Bueno, Antônio Welerson, Faustino Amâncio, Josias Breder e a avenida Melo Viana. Centenas de famílias tiveram que deixar suas casas e foram para junto de familiares e vizinhos.
Devido ao desastre, foi decretado estado de emergência. O governador da época, Aécio Neves, visitou Manhuaçu e garantiu que os moradores das cidades atingidas pelas chuvas teriam o pagamento de contas de luz e água prorrogado por até 60 dias. A Secretaria de Obras do Estado reservou recursos da ordem de R$ 30 milhões para um primeiro socorro aos municípios atingidos pela enchente.
Como começam as enchentes
Se o leito natural de um rio ou córrego recebe uma quantidade muito grande de água que provém da chuva e não tem a capacidade de suportá-la, acaba transbordando e causando a enchente. Esse processo é natural e todo rio precisa ter uma área chamada de “área de inundação” para a qual a água irá escoar. “Esse é o grande problema que causa as enchentes e alagamentos nas cidades, a área de inundação simplesmente não foi respeitada e famílias se estabeleceram nessa região construindo casas. Então quando o rio transborda a sua água alaga essas casas”, salienta Vininha.
Além disso, ainda existe a questão da urbanização, e na maior parte delas o processo foi feito sem nenhum tipo de planejamento como, por exemplo, pensar na declividade das ruas (para onde a água da chuva deveria escorrer). “A falta desses procedimentos é o que contribui em grande parte para tantos casos de enchentes e alagamentos. Destinar verbas para essas obras sairia muito mais barato do que ter que recuperar regiões completamente destruídas e com certeza nem se equivalem a possibilidade de perder vidas. As enchentes representam um problema muito sério para o que além de prejuízos econômicos grandiosos arriscam a vida de pessoas inocentes todos os dias. Essas pessoas podem contrair doenças infectocontagiosas como, por exemplo, a leptospirose ou mesmo acabarem presas embaixo de escombros. Sem mencionar que as chuvas podem provocar deslizamentos de terra e quedas de casas”, analisa.
Danilo Alves – Tribuna do Leste