Palavra de Vida: 25º Domingo comum
1ª LEITURA – Is 55,6-9
O livro do profeta Isaías divide-se em 3 partes. Primeiro Isaías ou Proto-Isaías – capítulos de 1 a 39. Segundo Isaías ou Deutero-Isaías – capítulos de 40 a 55.
Terceiro Isaías ou Trito-Isaías – capítulos 56 a 66. A leitura de hoje é tirada do último capítulo do Deutero-Isaías. A missão do profeta anônimo é alimentar no povo a esperança de voltar para Jerusalém, para viver uma vida de justiça e invocação do nome do Senhor. Deus é misericordioso, Deus é generoso no perdão, mas para que isso aconteça, o povo é chamado a duas atitudes. A primeira é buscar o Senhor, pois ele é misericordioso, ou seja, Deus quer ser procurado, quer que invoquemos o seu perdão. Esta é a abertura do homem para com Deus. A segunda é abandonar o seu caminho de injustiça, ou seja, Deus exige uma mudança de vida. Esta é a atitude do homem para com seu semelhante. A grande tentação do homem é medir a generosidade de Deus com suas mesquinhas medidas, é querer enquadrar Deus dentro de seus projetos humanos. Numa comparação bonita, o profeta mostra que os pensamentos de Deus e seus caminhos estão bem distantes, são muito mais abrangentes e profundos do que os pensamentos e caminhos humanos. “Quanto o céu é mais alto que a terra, tanto os meus caminhos estão acima dos caminhos de vocês e os meus pensamentos acima dos pensamentos de vocês”. É preciso que nos deixemos guiar pela grandeza do coração de Deus, acolhendo seu perdão e buscando seu projeto de vida digna e abundante para todos.
2ª LEITURA – Fl 1,20c-24.27a
Paulo está na prisão; de lá ele escreve a sua carta mais alegre à comunidade de Filipos, pela qual ele tinha especial predileção. Ele está diante de uma eminente condenação à morte. Os filipenses saberiam valorizar o martírio de Paulo, e parecem, até deixar, pois para eles seria glória de um líder como prova definitiva da fé. Mas Paulo vivia tão identificado com Cristo que ele tinha certeza de que Cristo seria de qualquer forma glorificado no seu corpo, quer ele estivesse vivo ou morto. Ele, realmente, tem vivido uma vida de mártir com seu testemunho total de Cristo crucificado. Chegou a dizer que para ele viver é Cristo e o morrer representa um lucro. Mas ele tem um trunfo, é a sua cidadania romana. O cidadão romano só pode ser condenado à morte após um processo especial e detalhado, e, afinal, nenhuma acusação grave pesa sobre ele. Então, ele fica no dilema: ele tem vontade de morrer, pois, para ele, ir logo ao encontro de Cristo seria o melhor. Mas, e o apostolado? A eficácia de seu trabalho justificaria viver mais algum tempo. Como decidir, se ele se sente atraído pelos dois lados? Nosso trecho termina dizendo que só uma coisa importa, ou seja, que sua comunidade viva à altura do evangelho de Cristo. Depois, Paulo acaba decidindo usar o trunfo, ser libertado e continuar evangelizando. O martírio é importante, mas no caso, a evangelização foi priorizada. E hoje, como decidir entre martírio e denúncia profética?
EVANGELHO – Mt 20,1-16a
Esta parábola, cheia de suspense, mostra a tônica do evangelho de Mateus: a Justiça do Reino, que deve superar a justiça dos doutores da Lei e dos fariseus (5,20). O patrão sai diversas vezes e vai até à praça contratar operários para trabalhar na sua vinha. Esta informação já nos revela uma situação contrária aos caminhos de Deus, pois o projeto de Deus na Bíblia é que cada pessoa tivesse seu pedacinho de terra para plantar, colher e viver vida digna. Mas esses desempregados foram acuados com o olho grande dos poderosos, que acabaram lhes roubando a rocinha e expulsando-os para a cidade, onde ficaram marginalizados e desempregados, sem o necessário para sustentar dignamente sua família. Em termos de dinheiro eles precisavam de uma moeda de prata por dia para levar vida digna. Quantas vezes o patrão sai para contratar operários?
1º) Sai de madrugada e combina (não impõe) uma moeda de prata com um grupo de trabalhadores e eles concordam.
2º) Sai ao meio dia e manda os homens para o trabalho (“fez a mesma coisa”), mas o texto não diz que falou a mesma coisa. Portanto não combinou nada nem diz que pagará o que for justo.
3º) Sai também às 15 horas e apenas manda o pessoal para o trabalho.
4º) Por fim, sai no final do dia às 17 horas e ainda havia muita gente desempregada. Já no fim do dia, sem sua moeda de prata, esse povo iria voltar para casa de mãos completamente vazias. Suas mulheres e filhos passariam mais um dia com fome. A situação social estava péssima naquele tempo. Isso nos leva a pensar nas nossas praças, na nossa gente desempregada, nos nossos “sem casa”, nos que viram mendicantes por culpa da exploração de uma sociedade que só cuida do interesse dos grandes. Mas o patrão da parábola se preocupa também com eles e os manda para a vinha. Há muitos suspenses na parábola. O que seria justo para os que foram chamados às 9 horas? O que o patrão vai pagar aos que foram depois? O último grupo foi para o trabalho, quando faltava apenas uma hora para o fim do dia. E estes quanto receberão?Chegou o momento do acerto de contas.
Outro grande suspense é que o patrão manda pagar uma diária a todos, inclusive aos que trabalharam apenas uma hora. Aqui aparece a justiça do Reino. O patrão não se preocupa com o lucro que o trabalhador lhe deu, mas com a vida do seu operário e de sua família. Os que trabalharam apenas uma hora, porque ninguém os havia contratado, têm também como os outros, mulheres e filhos para tratarem. A quantidade e qualidade de trabalho não deveriam criar situações de privilégios ou diferenças sociais tão marcantes nem serem fontes de méritos, pois provêm de um chamamento gratuito. O trabalho não deveria ser vendido e prostituído, mas sim uma prestação de serviços à comunidade.
Outro suspense é que o patrão manda começar o pagamento a partir dos últimos. Os primeiros ficaram certamente apreensivos, pensando: sem dúvida, receberemos mais! Olhos grandes não admitem igualdade. Querem que o trabalho provoque diferença de classes, por isso reclamam do patrão. A inveja deles lhes ofusca a caridade em relação à família dos que trabalharam menos. O patrão pagou a eles o que havia combinado de comum acordo. Eles não tinham nada a reclamar. O resto é obra da bondade e generosidade do patrão que está preocupado com a vida digna para todos e não com a venda da sua mão-de-obra. A última frase, reflexo da justiça do Reino, revela igualdade e pode ser traduzida assim: “E todos serão, ainda que primeiros, últimos, e ainda que últimos, primeiros”.
Dom Emanuel Messias de Oliveira