Artigo: Manhumirim e seus jubileus
Por Pe. Marcos Antônio Alencar Duarte, SDN
Jubileu lembra tempo de graça, perdão, revigoramento da fé… É uma palavra que tem sua origem na experiência de fé do povo hebreu. O Pentateuco orientava que de 50 em 50 anos se celebrasse um ano especial chamado justamente de jubileu. Neste tempo os escravos recuperariam a liberdade; as propriedades vendidas retornariam ao seu antigo donos. A terra de Israel voltaria às condições em que Deus a havia doado ao seu povo. Assim, a Lei de Moisés recordava aos israelitas que o Senhor era, em última análise, o proprietário do país. A celebração deste ano jubilar tinha tanto significado que provocava uma reconciliação do povo entre si e com Deus (Cf. Lv 25,813.20-22).
A Igreja católica trouxe para seu seio eclesial esta prática religiosa de celebrar um ano jubilar a cada 100 anos. Depois houve uma mudança quando ao tempo, passou-se a comemorar o ano jubilar de 50 em 50 anos. Devido à profundidade deste tempo a Igreja resolveu marcar o jubileu de 25 em 25 anos. O último jubileu ordinário que a Igreja celebrou foi o do ano 2000, além do Jubileu Extraordinário da Misericórdia em 2016. Certamente estamos cientes da importância deles para a vida Igreja e para a nossa sociedade também.
Manhumirim, terra de Jubileu
Manhumirim se confunde com a história de seus jubileus. Aliás, não se pode entender esta cidade sem o Jubileu do Bom Jesus. De um lado temos o progresso e o crescimento político e econômico da vila, de outro os primeiros sinais de vida e de organização da Igreja Católica nas terras do Bom Jesus.
Um dos ilustres sacerdotes que aqui trabalharam e que deixou uma marca fundamental para nossa história religiosa foi o Pe. Salvador Cetrângolo – italiano de origem e membro do clero de Mariana-MG, pois nesta época Manhumirim-MG pertencia a esta arquidiocese.
Pe. Salvador chegou à freguesia do Bom Jesus em 1910. Logo que pisou esta terra percebeu seu potencial e trabalhou para transformá-la em curato. Com seu espírito missionário conseguiu animar e articular o povo em favor deste ideal. Procurou documentar o terreno do Bom Jesus, pois ter um patrimônio que garantisse sua subsistência era uma das exigências para criação de um novo curato. Em 1911, junto ao prefeito e à Câmara de Manhuaçu-MG, conseguiu ter em mãos o documento das terras da freguesia do Bom Jesus. Depois deste laborioso esforço Dom Silvério, arcebispo de Mariana, cria o curato do Bom Jesus de Manhumirim e o nomeia cura.
As atividades do Pe. Salvador não pararam por aí. Em 1912 construiu três novas capelas para seu curato: São Roque [em Manhumirim]; Santo Antônio na Vargem Grande e São Benedito no córrego Jacuntiga [ambas, hoje, em Alto Jequitibá], a fim de melhor servir o povo de Deus. E aos poucos ia se consolidando uma presença constante do sacerdote junto às famílias que careciam da figura de um ministro ordenado.
Pe. Salvador teve uma grande intuição: propôs a Dom Silvério a criação de um Jubileu em Manhumirim. Ele tinha conhecimento desta festa religiosa tão conhecida e bem aceita pelos fiéis e pelo clero em Mariana como também em Congonhas. Queria tornar Manhumirim centro de romaria e local para despertar e alimentar a fé do povo desta região. D. Silvério se empolgou com a ideia do cura e criou o Jubileu do Bom Jesus de Manhumirim.
Depois de todo encaminhamento Pe. Salvador Cetrângolo motivou todas as paróquias da região a peregrinarem até Manhumirim, para a celebração do primeiro Jubileu. Segundo consta no livro de Tombo da Paróquia, nesta ocasião estiveram presentes os párocos de Muriaé, São Lourenço de Manhuaçu, São Simão de Manhuaçu[Simonésia] e um número significativo de fiéis destas paróquias. Este acontecimento se deu no dia 13 de setembro de 1917. E assim foi o primeiro Jubileu de Manhumirim.
A cada ano um Jubileu em Manhumirim
Em Manhumirim não precisamos esperar 25 anos para celebrar este tempo de graça, de reconciliação e revigoramento da fé. A cada ano vivemos oito dias [07 a 14 de setembro] desta espiritualidade jubilar.
Pe. Júlio Maria De Lombaerde, o santo de nossa terra e grande incentivador do Jubileu em Manhumirim profetizou: “A grande e bela matriz do Bom Jesus há de tornar-se um santuário célebre e o centro de uma grande romaria”. Ainda mais: “Manhumirim, durante estes dias abençoados, torna-se um centro de irresistível atração onde se reúnem todas as almas boas e devotas, vindo aqui agradecer ao Bom Jesus os numerosos benefícios recebidos”.
Estas palavras do Pe. Júlio Maria são verdadeiras. Nosso santuário nestes dias de Jubileu torna-se de fato um centro de romaria. Pessoas anônimas chegam de perto ou de longe para suas orações de agradecimento e de petição. É encantador ver este movimento de fé e de carinho da parte de tantos romeiros. Uns chegam chorando por carregar fardos pesados, mas saem aliviados por encontrar aqui um consolo e um sentido espiritual para suas dores. Outros chegam alegres por terem recebido uma graça. Muitos, quando entram no santuário, se sentem pisando o céu. Outros ainda chegam, se ajoelham piedosamente, e só vemos os lábios se movimentando apressadamente e as lágrimas escorrendo em seus rostos. O que se passa ali? Não sabemos. Só o fiel e o Bom Jesus sabem.
Um clima de piedade permeia todas as celebrações litúrgicas ao longo do dia. Alguém no meio da multidão dizia: “O romeiro que vem para Manhumirim vem para rezar”. Muito feliz esta expressão. Pois nos responsabiliza mais ainda com a missão de oferecer a todos os fiéis um espaço físico e liturgias que de fato levem cada pessoa ao encontro com o Senhor.
O Bom Jesus torna Manhumirim um centro de romaria – quantas pessoas passam por aqui? Umas virão pela primeira vez. Outras vêm todos os anos. O certo é que o Jubileu do Bom Jesus não é só uma festa paroquial. Ele ultrapassa nossa paróquia e forania. Não sabemos bem quais são as cidades ou regiões que o nosso Jubileu atinge. É uma matéria a se estudar. É uma festa que chega a muitos corações que se identificam com a cruz do Bom Jesus, mas acreditam na vida nova que dela surge. Venha a Manhumirim, a terra do Bom Jesus e do Servo de Deus Pe. Júlio Maria, e participe do Jubileu!