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Broca: “falta de produtos eficientes trará prejuízos ao Brasil”, diz especialista

Enquanto a colheita de café no Brasil na safra 2017/2018 está a todo vapor, quase chegando ao final, produtores seguem preocupados com a infestação da broca nas lavouras, inseto que se alimenta do fruto do café, destruindo a parte interna do grão e trazendo prejuízos qualitativos e quantitativos ao produtor. 

Com a proibição do inseticida Endosulfan em julho de 2013, produto padrão altamente eficiente no controle da praga, porém extremamente tóxico, cafeicultores buscam alternativas para controlar a epidemia, já que, desde então, ainda não surgiu nenhum outro produto à altura, mesmo existindo cerca de 12 mercadorias testadas e registradas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para realizar o manejo. 

De acordo com o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Julio César de Souza, a partir de 2014 a devastação da broca-do-café foi aumentando no país. Este ano, as lavouras mostraram altas infestações, comprovando a baixa eficiência dos produtos químicos atuais. Para ele, resolver 60% do problema não ajuda, uma vez que o inseto vai se reproduzir novamente. 

“O cenário constata a importância de inseticida na agricultura do Brasil. Sem ele não se produz nenhuma cultura”, disse, exemplificando com a ferrugem asiática, “se não fossem os fungicidas, a soja estaria bancarrota”. 

Segundo o especialista, se medidas não forem tomadas com rapidez, tanto por órgãos governamentais quanto por cafeicultores, com certeza haverá prejuízos assustadores ao Brasil, já que grãos brocados não podem ser exportados, sendo comercializados apenas no mercado interno, como café escolha, de menor valor.

“A nossa esperança é o inseticida Ethiprole, que ainda não está no mercado mas já foi testado e registrado no Mapa, apresentando-se bastante eficiente”. A mercadoria ainda não está à venda porque precisa da liberação do Japão e dos Estados Unidos quanto ao limite máximo de resíduo, já que o Brasil exporta café para esses países. 

“Vamos comercializar na próxima safra. Se a aprovação do inseticida demorar muito, o produto não estará disponível para os cafeicultores a tempo”, explicou Souza. 

Cafeicultura: técnicas na lavoura que podem ajudar a diminuir a ocorrência de broca

Com o objetivo de ajudar os produtores que estão sofrendo com a broca-do-café a reduzir a evolução da doença na próxima safra, do ano que vem, o pesquisador da Epamig indica algumas precauções que devem ser tomadas a partir do final da colheita, já em setembro de 2017: 

1) Colheita bem feita na safra 2017/2018: é necessário que o produtor retire todo o café das plantas e do chão, já que o inseto sobrevive de uma safra para outra;

2) Monitoramento da broca em sua época de trânsito e controle químico: de 80 a 90 dias após a grande florada, os agricultores devem escolher algumas plantas e verificar se há ataque de broca. Se constatado 3% de infestação, é obrigatório o controle químico, com o uso de inseticida.

“Três meses após a florada o café é verde chumbão aquoso. A broca sai dos frutos secos da safra anterior e perfura esses cafés, sem colocar ovos. É nesse momento que o produtor aparece, eliminando a fêmea da broca na entrada do fruto”, explicou. Quando o café é “invadido” pela broca, mas a semente não é atingida, não há prejuízo no produto, que mesmo furado é considerado normal.

3) Safra Zero: é preciso que os cafeicultores façam o manejo correto da lavoura, com uma poda de esqueletamento para retirar toda parte aérea do pé de café, deixando somente os ramos que vão produzir. Entre as finalidades, está: a abertura de lavouras fechadas, a redução da altura da planta para melhorar a colheita, a racionalização dos custos e o aumento e renovação da quantidade de ramos produtivos. 

“Os produtores vão fazer a poda agora, após a colheita. Como a cultura é bianual, a parte da lavoura que produziu muito esse ano, produzirá menos ano que vem. Com o esqueletamento, o rendimento nos anos seguintes tende a melhorar”, explica o engenheiro agrônomo. 

Histórico da Broca-do-Café

A broca surgiu no Brasil em 1970, quando a cafeicultura ainda era muito arcaica, com lavouras sem podas, sombreadas e úmidas, cenário ideal para seu desenvolvimento. Na época, o único produto químico para controle da doença era em pó, ou seja, facilmente levado pelas chuvas. 

Com a explosão da ferrugem no mesmo ano, o Governo Federal passou a implantar uma cafeicultura mais moderna, com lavouras arejadas que acabaram, junto com o surgimento do Endosulfan, controlando a broca com eficiência. Em 1980, no entanto, o produto chegou a ser proibido, devido a toxicidade, mas o governo voltou atrás e permitiu o uso até julho de 2013. Hoje, não há como o inseticida voltar a ser utilizado porque a Bayer, detentora do produto, não fabrica mais.

“No Brasil, o controle biológico do inseto é ineficiente. Somos um país tropical, com produção o ano inteiro e migração da epidemia de uma safra para outra”, disse Souza. 

Fonte: Por Camila Cechinel

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