Cantinho do produtor: Bienalidade do cafeeiro, mesmo dentro da planta
A bienalidade de produção em cafeeiros é um fenômeno muito marcante na cafeicultura brasileira. Ela resulta em diferenciais expressivos na produção de frutos e nas safras colhidas.
A bienalidade ou diferencial produtivo, a cada ano, pode ocorrer entre talhões de lavouras, entre plantas da mesma lavoura e, ainda, dentro da própria planta, uma parte produzindo bem num ano e a outra no ano seguinte. As diferenças na produção em cafeeiros são devidas, no geral, ao cultivo das plantas a pleno sol, que condiciona uma carga alta de frutos, a qual resulta no carreamento de reservas para a frutificação, em detrimento do crescimento vegetativo dos ramos, com isso diminuindo a área produtiva para o ano seguinte. Qualquer outro fator de stress, além da carga de frutos, também pode levar a uma bienalidade mais pronunciada. Assim se explica o diferencial produtivo entre plantas em uma mesma lavoura ou, mesmo, dentro de cada planta.
Essa bienalidade entre plantas já pode ocorrer a partir da 2ª safra, quando algumas plantas, por exemplo, com um sistema radicular deficiente, ou mal protegidas de doenças, ou que não receberam a dose adequada de adubo, acabam se estressando, não suportando bem a carga e, deste modo, o crescimento da ramagem fica prejudicado, assim passando a produzir em bienalidade negativa, em relação às demais plantas.
As diferenças produtivas entre plantas, do mesmo talhão, fazem cair a média de produtividade do mesmo, sendo uma característica muito comum em cafeeiros da variedade catuai, especialmente nos plantios com maior distancia entre plantas na linha.
Dentro da mesma planta, igualmente, fatores de stress, seja por carga ou outra causa, leva um lado da planta a produzir menos que a outra, ou sua parte alta mais do que a baixa e, curiosamente, conforme se observou, recentemente, em cafeeiros da região serrana do Espirito Santo, até hastes da mesma planta apresentando grande diferencial produtivo. Uma haste da planta com carga de frutos de 20-25 litros e a outra sem qualquer frutificação, porem esta última com grande potencial para a próxima safra. Finalmente, resta destacar que alternativas agronômicas para reduzir a bienalidade entre safras têm sido pouco efetivas. Adubação, irrigação ou outras praticas minimizam mas não evitam o fenômeno.
Uma corrente de técnicos chega a propor altos níveis de fósforo na nutrição, mas isso tem sido demonstrado inviável em pesquisas diversas. Só tem um jeito de reduzir a bienalidade produtiva. Sombrear a lavoura e, assim, reduzir as safras altas, obtendo safras médias todos os anos. Isso, aliás, não tem sido a tendência. Atualmente é mais vantajoso produzir safras altas seguidas de safras zeradas, através de podas de esqueletamento.
Fonte: J.B. Matiello – Eng Agr Fundação Procafé e Fabinao Stockl e José Stockl, Técnicos Cafeeira Stockl