Reflexão: A paz que buscamos!
Pe. Mundinho, sdn
Estamos respirando ainda um clima de violência que nos tem abatido. Tão pouco saímos de um acontecimento funesto e outro já ocorreu, não dando distância. Muito próximos um do outro o que nos deixam angustiados, desorientados, indecisos, decepcionados, inseguros e desanimados.
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A vulnerabilidade dos cidadãos no exercício de suas profissões tem deixado a população preocupada e cansada. Nossos noticiários, tanto regional, quanto nacional e internacional, estão carregados de tantas notícias ruins, recheadas de atos e atitudes de violência.
Os sociólogos e antropólogos, estudiosos e cientistas sociais, se debruçam sobre o tema e produzem análises, críticas, abordagens sobre as causas e efeitos de um comportamento muito estranho dos cidadãos no mundo atual.
Chegam à conclusão de que a “pós-modernidade caracteriza-se por ser um momento histórico da civilização no qual as grandes instituições que serviram de base para a organização da modernidade estão em crise. Isto é, em conflito entre o conhecido e o novo promovido pela globalização, pelas descobertas tecnológicas e pelas novas formas de o homem ser, pensar e agir advindas de suas inquietações e, na ânsia de concretizar fantasias, viver desafios. Suas conquistas são mobilizadas por forças internas de expansão, sonhos, fantasias, necessidades, atenuação do sofrimento e, até mesmo, a ilusão de alcançar paz e felicidade” (José-Vicente Tavares-dos-Santos in Modernidade tardia e violência).
Produziu-se uma urbanização sociopática (doentia), com espaços urbanos fragmentados e segmentados, seguindo um mesmo padrão geral: centros deteriorados e bairros periféricos carentes, habitados por populações vulneráveis; bairros de populações de altas rendas, com forte presença de segurança privada assim como a implementação de condomínios fechados (Caldeira, 2000); territórios controlados pelo “crime organizado”; espaços privados de comércio, com controle social por segurança privada; desigualdade social e espacial; violência cotidiana nas ruas; e violência no espaço escolar (Taylor, 1999:110). Em suma, a falência do poder público regulatório.
Por conseguinte, os “impactos da modernidade tardia sobre as taxas de crime foram multidimensionais: aumento das oportunidades para o crime; redução dos controles situacionais; aumento da população em risco; redução da eficácia dos autocontroles sociais como consequência das mudanças na ecologia social e nas normas culturais” (Garland, 2001:90).
O ambiente pós-moderno deixa transparecer a liberdade, exalta o individualismo, coloca o ser humano acima de qualquer coisa. Porém este todo poderoso ser humano não é tão prepotente como pensa ou imagina ser. As liberdades se esbarram, ou melhor, se conflitam. Há espaço para todo mundo, deve haver direitos iguais e deveres para todos.
Pregamos e entendemos que o Estado não perdeu sua responsabilidade de zelar e garantir o bem social. A família ainda é o lugar da educação singular e operosa que forma seus membros para a socialização respeitosa e pacífica de bons relacionamentos.
Nós buscamos a paz! Queremos a paz, procuramos a paz, lutamos pela paz, desejamos ardentemente a paz… paz… paz… O silêncio que perpassa o coração e nosso cérebro, nos leva ao medo, à indignação, mas também ao desejo e à iniciativas de transformação da realidade, na vontade de construir um mundo novo que permita a todos viverem em paz, em harmonia e tranquilidade.
Não podemos suportar este estado de violência. Atitudes e posturas diferenciadas apontam para outros rumos onde prevaleça a paz, uma paz inquieta! Dom Pedro Casaldaliga nos dá o recado:
A PAZ inquieta!
Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta
Que denuncia a PAZ dos cemitérios
E a PAZ dos lucros fartos.
Dá-nos a PAZ que luta pela PAZ!
A PAZ que nos sacode
Com a urgência do Reino.
A PAZ que nos invade,
Com o vento do Espírito,
A rotina e o medo,
O sossego das praias
E a oração de refúgio.
A PAZ das armas rotas
Na derrota das armas.
A PAZ do pão da fome de justiça,
A PAZ da liberdade conquistada,
A PAZ que se faz “nossa”
Sem cercas nem fronteiras,
Que é tanto “Shalom” como “Salam”,
Perdão, retorno, abraço…
Dá-nos a tua PAZ,
Essa PAZ marginal que soletra em Belém
E agoniza na Cruz
E triunfa na Páscoa.
Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta,
Que não nos deixa em PAZ!