Palavra de Vida: 16º Domingo Comum
1ª LEITURA – Sb 12,13.16-19
O livro da Sabedoria é uma tentativa de inculturação da fé judaica na cultura grega de Alexandria, no Egito, onde foi escrito por volta do ano 50 a.C.; é, portanto, o livro mais recente do Primeiro Testamento. Primeiro, ele mostra o papel da Sabedoria no destino do homem e compara a sorte dos justos e dos ímpios durante a vida e após a morte (1-5). Depois, expõe a origem e a natureza da Sabedoria e os meios de adquiri-la. Finalmente, exalta a ação da Sabedoria e de Deus na história do povo eleito com insistência sobre a libertação do Egito (cf. BJ – introdução).
O autor apresenta uma visão mais aberta e misericordiosa do Deus de Israel, que não é um Deus nacionalista, mas universal. Esta universalidade não é novidade. Já aparece em Is 2,2-11; Jr 12,15-16; Sf 3,9-10, mas o povo de Deus, de modo geral, aprisiona Deus à sua própria nação. O livro da Sabedoria dá uma ênfase especial à universalidade e misericórdia de Deus.
O domínio de Deus
Nosso texto começa afirmando a soberania de Deus sobre tudo e sobre todos, mas, por causa da sua própria soberania, ele é extremamente justo e misericordioso. Na verdade, ele domina sobre todos os povos com justiça e indulgência. Sua justiça consiste exatamente em sua indulgência e bondade para com todos, sem discriminação. Aos pagãos ele mostra sua força, aos judeus arrogantes e nacionalistas ele lhes castiga o atrevimento. É um Deus que tem o poder à sua disposição, mas não o usa para oprimir. Ele sabe dominar a própria força, julgando com moderação e governando com grande consideração. O modo de proceder de Deus é um ensinamento constante e universal de que todo o homem justo deve ser amigo dos homens. É este o proceder da própria Sabedoria (cf. Sb 7,23). Deus é um Deus que se abre para todos os seus filhos a confortadora esperança do perdão dos pecados. “A tua força é princípio de justiça: teu domínio sobre todos, te faz com todos indulgente”. Porque possui a plenitude da força e não tem razão alguma para dela abusar, Deus exerce a sua justiça com uma total imparcialidade e liberdade; seu domínio soberano sobre todos os seres igualmente o autoriza e o convida a usar de clemência para com todos (cf. BJ).
2ª LEITURA – Rm 8,26-27
Os dois versículos de hoje são o final do trecho que foi intitulado pela Bíblia de Jerusalém de “Destinados à glória”. Como vimos, no domingo anterior, existe uma solidariedade entre o homem e a criação. Se o pecado que prejudicou a humanidade-Adão, prejudicou também a criação; a graça trazida pelo homem-Deus, Jesus, recuperará também para a glória dos filhos de Deus a criação inteira. Mas como acontece isto, se somos tão frágeis? É pela força do Espírito que Jesus que socorre a nossa fraqueza. O Espírito é a força de Jesus, a força de Deus. Ele atuou nos profetas e os próprios profetas anunciaram essa presença forte e transformadora do Espírito para os tempos messiânicos. Jesus agia na força do seu Espírito Santo, que é o mesmo Espírito do Pai. Toda a Comunidade do Primeiro Testamento vive na força do Espírito Santo. Estes dois versículos de hoje querem mostrar que a oração é uma das forças sensíveis da presença do Espírito. Sem uma confiança e entrega total ao Espírito Santo, ficamos em situação difícil, pois não sabemos nem mesmo “o que pedir na oração”. Mas, se abrirmos nosso coração ao Espírito Santo de Deus, ele mesmo intercederá por nós com gemidos inefáveis, quer dizer com linguagem inexprimível e ininteligível como gemidos. Os gemidos não dizem nada, mas falam tudo: revelam o que há de mais íntimo no coração. O Espírito é capaz de aproximar o coração do homem do coração do Pai. E o Pai sabe o que se passa dentro do coração do filho. Ele sabe perfeitamente qual é o desejo do Espírito e entende perfeitamente sua linguagem. Se temos o Espírito como nosso porta-voz e intercessor, estamos pedindo exatamente o que nos convém. E o que nos convém senão o resplandecer da glória de Deus num mundo totalmente renovado de amor, justiça e paz?
EVANGELHO – Mt 13,24-43
O capítulo 13 de Mateus é reservado às parábolas. No evangelho deste domingo, temos 3 parábolas: a do trigo e do joio, a do grão de mostarda e a do fermento. Em seguida, temos a explicação da parábola do joio. As parábolas do Reino querem mostrar aos discípulos que o Reino de Deus vai-se implantando devagarzinho e sempre e segundo a paciência misericordiosa de Deus, não segundo as nossas precipitações.
- A parábola do trigo e do joio
No mesmo campo, onde os discípulos plantam a boa semente da Palavra de Deus, da justiça e da paz (= o trigo), o inimigo semeia o joio da maldade, injustiça e discórdia. Quem é o inimigo? É o “diabo”, aquele que divide, cria problemas e sufoca o projeto de Deus. Esse diabo se manifesta nas pessoas e nas estruturas. Logo que trigo e joio começam a crescer, a gente percebe que a maldade foi misturada com o bem. Mas o que é joio e o que é trigo? Ainda não se percebe claramente. Convivemos na sociedade entre bons e maus. Quem é bom, quem é mau? No fundo só quem conhece o coração do homem é que tem o direito de julgar. Mas somos impacientes. Pensamos assim: Jesus reina ou não reina? Vamos então acabar com os maus uma vez por todas? Mas como? Não correríamos o risco de na nossa impaciência e ignorância cometermos injustiças? A nós compete semear o trigo. Ao dono da messe compete estabelecer o tempo da colheita. Ali, sim, ele dará ordem para arrancar o joio e queimá-lo, e para recolher o trigo no seu celeiro. Magnífica paciência de Deus. Deus dá um tempo para a conversão dos maus. Esse tempo se prolonga, até o fim. Quem sabe, pelo exemplo dos bons, os maus mudam seus caminhos!
- A parábola do grão de mostarda
É uma parábola de contraste: “menor das sementes” e “maior que as outras plantas”. O Reino de Deus tem um início despercebido, quase insignificante como uma sementinha de mostarda, mas depois vai crescer muito. Na Palestina, a mostarda era uma verdadeira árvore de mais de 5 metros de altura. Os pássaros simbolizam as nações pagãs, que, buscando segurança e vida, serão acolhidas nos galhos do Reino. Ninguém deve desanimar diante dos trabalhos humildes das comunidades. Devagarzinho a árvore do Reino vai crescendo.
- A parábola do fermento
Aqui vemos também uma contraposição entre o pouco do fermento com o muito da massa. Um pouco de fermento é capaz de levedar 3 porções (= 42 kilos) de farinha. É o pouco influenciando e transformando o muito. É o Reino que começa com apenas um punhado de gente, mas cuja mensagem transformadora vai devagarzinho revolucionando o mundo.
- A explicação da parábola do joio e do trigo
Parece uma aplicação da parábola de Jesus à comunidade de Mateus. A comunidade que pertence ao Reino é a boa semente. Os que praticam o mal pertencem ao maligno. A explicação da parábola aponta para o fim – o dia da colheita – onde haverá o julgamento: inferno para os maus e céus para os bons.