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Cantinho do produtor: Reflexões sobre a poda do café

São muitos os comentários sobre a frustração da primeira colheita após a poda do café. A expectativa, de maneira geral, é de que o rendimento fosse, no mínimo, o dobro daquele, caso não fosse feita a poda.

Diversas podem ser as causas do insucesso de uma poda e elas já foram descritas em muitas publicações técnico-cientificas. Uma das causas pouco aventada é o estado fisiológico dos cafeeiros, meses antes da poda, no qual vamos nos ater.

Para simplificar vamos adotar cafeeiros em bom estado fisiológico, como sendo aqueles que apresentam partes vegetativas com boas reservas de carboidratos e folhas com alta eficiência fotossintética. Ao contrário, cafeeiros em mal estado fisiológico obviamente são aqueles com ramos depauperados de reservas de carboidratos e cujas folhas perderam a capacidade de produzir carboidratos (fazer fotossíntese).

As causas mais comuns do depauperamento dos cafeeiros são: cafeeiros mais velhos e/ou lavouras com fechamento que apresentaram alta produção acompanhada de ataque de pragas e doenças, deficiência hídrica ou nutricional. Todos esses casos levam ao esgotamento progressivo de carboidratos das plantas ao longo dos ciclos bienais de produção elevadas.  Cafeeiros do último caso, são exatamente aqueles que, normalmente são apontados como os necessitados de poda.

A decisão sobre a poda deve ser tomada após análise detalhada dos fatores que estejam influindo negativamente na produtividade. No entanto, na prática, o cafeicultor poda sua lavoura logo após a colheita de uma grande safra, esquecendo-se de considerar o estado fisiológico das plantas, como um fator a ser considerado na definição da necessidade da poda naquele momento.

Em um trabalho inédito realizado por meu grupo de pesquisa na UFLA (*Livramento et al., 2003) realizamos dois experimentos.

1) Poda, logo após a colheita em lavouras com safras de 5,1; 14,5; 28,6 e 49,4 sacas/ha.

2) Poda em lavouras com 12,6 e 33,5 sacas/ha. Cada lavoura foi dividida em dois talhões e cada talhão recebeu ou não todos os tratos culturais normalmente preconizados para a época, entre a colheita em julho e a poda em dezembro.

Resumidamente as principais conclusões foram:

Cafeeiros com safra alta permaneceram com alto vigor vegetativo (bem enfolhados, folhas verdes e sadias, sem sintomas de seca de ponteiros) até a época da colheita e, após a poda, apresentaram um menor número de brotos/planta, porém mais vigorosos.

Nesse caso, os frutos não se comportaram como drenos suficientemente fortes a ponto de esgotar as reservas de carboidratos nas folhas ramos e caules, até o momento da poda.

Por outro lado, em lavouras depauperadas e com alta carga de frutos prevaleceu o esgotamento das reservas dos ramos com prejuízos no vigor das brotações.

Comentários:

O primeiro caso só foi possível porque a lavoura recebeu todos os tratos culturais (adubação, controle de pragas, doenças e do mato, sem stress hídrico) nas fases vegetativas e produtivas. Portanto o sucesso dessa poda se deve à manutenção do manejo dos tratos da lavoura durante o ano agrícola, antes da poda.

Reduções nas adubações e outros tratos, somente porque vai podar a lavoura ao final do ciclo, é um tiro no pé.

Para cafeeiros com bom estado fisiológico, os efeitos da poda foram mais positivos quando ela foi realizada logo após a colheita. Entretanto, para cafeeiros depauperados, deve-se optar por uma poda mais tardia, desde que sejam feitos todos os tratos culturais preconizados, entre o período da colheita e a poda.

Se quisermos ter sucesso em uma poda e usufruir dos benefícios de uma poda mais precoce, não podemos deixar a lavoura depauperar. Tal qual uma pessoa com saúde debilitada deve ser revitalizada antes de uma cirurgia, a lavoura cafeeira depauperada dever ser reabilitada antes da poda.

*Livramento, DE, Alves, JD, Bartholo, GF, Guimarães, PTG, Fries, DD, Pereira, TA Influencia da produção nos níveis de carboidratos e recuperação de cafeeiros após a recapagem. Revista Ceres 50 (292): 737 – 752, 2003.
PS.

Os comentários sobre os experimentos podem ser generalizados, desde que respeitados as especificidades de cada lavoura a ser podada.

Fonte: Prof. José Donizeti Alves. Professor do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia Vegetal / UFLA

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