Cantinho do Produtor: Viável o plantio direto do café, com inovações
O plantio direto do café, em duas condições diferenciadas do tradicional, tem se mostrado viável, podendo gerar economia nos custos de implantação de novos cafezais.
O plantio direto, nas culturas anuais, significa o plantio no terreno sem o preparo mecanizado, ou seja, sem o revolvimento por aração/gradagem, com o plantio sobre a palhada.
No café o plantio direto tem duas condições ou conceitos.
A primeira forma é semelhante ao que se usa em cultivo de cereais. Só se prepara o sulco/cova de plantio, deixando a área de terreno restante, entre os sulcos, ao natural, sem qualquer revolvimento.
A segunda condição, aqui também definida como plantio direto, ocorre quando se efetua o plantio diretamente no campo, sem a produção de mudas normais, no viveiro.
O preparo apenas do sulco tem as vantagens – de manter a estrutura do solo, permitindo maior armazenamento de água, de diminui a probabilidade de erosão e de reduzir o custo com despesas nas operações mecanizadas na área total. A princípio, esta pratica parecia impossível, pela necessidade de incorporação do calcário em área total, através da aração/gradagem.
Porém, as pesquisas mostraram que é possível ir corrigindo o solo gradualmente, começando pelo sulco, conforme o usual, mais aplicações complementares anuais, em faixa, na linha de plantas, ampliada na medida em que os cafeeiros vão crescendo. A aplicação complementar traz, também, economia no custo desse insumo. Os resultados da pesquise mostram a aplicação inicial e complementar de calcário e efeito da aplicação de calcário em cobertura e enterrado. No mesmo sentido, diante de resultados de análise química do solo, pode-se dispensar esse corretivo em boa parte dos novos plantios, feitos em substituição de cafezais velhos, pois essas áreas já podem estar corrigidas.
O plantio direto de café, sem o uso das mudas do viveiro, era feito, no passado, nas áreas de mata, com o uso de sementes diretamente na cova. Como a condição de mata não mais existe, a forma de plantio direto, agora, deve ser adaptada às novas condições tecnológicas e ao ambiente com menos riqueza do solo em matéria orgânica.
No passado, o plantio de sementes, era feito em covas fundas, para favorecer a germinação e a sombra sobre as plantas novinhas. Porem, havia dificuldade de capina, com as mãos, do mato ali nascido. Narrações de antigos produtores citam que havia, ainda, o risco de levar a mão dentro das covas, pra tirar as ervas, e lá encontrar uma cobra venenosa. Hoje em dia a adaptação tecnológica ao plantio direto deve prever o uso de mudas no estágio inicial, seja de raiz nua, apenas germinadas e crescidas em leito de areia/fibra de coco, ou crescidas em pequenas células de bandejas. Elas devem ser condicionadas através de aplicação de triadimenol, que aumenta as raízes finas e amadurece a folhagem, devem ser transplantadas, no máximo, no estágio de 1º-2º par de folhas, em covas/sulco um pouco mais fundos (cerca de 10 cm) e devem ser sombreadas com vegetação viva (arroz, milho etc) ou morta (cisco, fls palmeiras etc). Havendo condições de sombra alta, com cultivo de fruteiras temporárias, como mamoeiros e, havendo, de forma complementar, irrigação, especialmente de gotejo, pode-se fazer, além do transplantio de mudinhas, ainda, plantio de sementes diretamente junto ao bulbo do gotejador. Em complemento, quando houver problemas de ervas, pode-se usar herbicidas seletivos às mudinhas, como Select, Verdict e Clorimuron.
Conclui-se, assim, que com inovações tecnológicas adequadas, ou, como se diz na gíria, com arte e engenho, pode-se fazer o plantio direto do café, seja na preparação do solo, seja no própria colocação das plantas no campo.
Fonte: J.B. Matiello – Eng Agr Fundação Procafé