Reflexão: Quem ama não mata!
Pe. Mundinho, SDN
A humanidade evoluiu, conceitos e técnicas foram desenvolvidos. Grandes invenções foram realizadas. Houve crescimento e aperfeiçoamento nos relacionamentos. Grandes contribuições para se alcançar, em alto grau, a felicidade do ser humano.
Porém, ao mesmo tempo que o ser humano cresceu e se desenvolveu ainda patina em situações que pensadas resolvidas não chegaram à maturidade desejada. Nas relações amorosas e afetivas persiste, teimosamente, o egoísmo, o princípio de poder, de sobrepor-se aos demais, de manter sob domínio o coração alheio, desejo de manipular sentimentos e de encaminhar necessidades outras distantes e destoantes da vontade própria.
É a paixão, sentimento desordenado, que se ocupa destas coisas. Impossível! Coração do outro é chão que ninguém consegue pisar, diz, sabiamente, o ditado popular. A paixão se caracteriza por um sentimento intenso e profundo, carregado de interesse e atração da pessoa por algo ou por alguém. A impulsividade, a inquietação que pode chegar ao desespero estão associados à paixão. A diferenciação entre o amor e a paixão já foi tema de estudo de inúmeros filósofos e psicólogos ao longo dos anos.
Por outro lado, o amor se configura como a busca pela verdade essencial, em outras palavras, encontrar naquilo que ama o que lhe falta, tornando-se assim pleno e completo. Alguns psicólogos ainda dizem que, mesmo a paixão sendo uma emoção intensa, é considerada efêmera. Pelo fato de não ter consistência pode terminar rápido. Já o amor tem duração extensa, pode durar a vida toda.
Na encíclica Deus caritas est (Deus é amor), o papa Bento XVI tomou a definição de amor usada pelos gregos antigos: eros, filia e ágape.
O amor eros é o amor do prazer, da satisfação de estar ao lado, de estar com o amor escolhido, a pessoa amada. Representa o amor sexual, carnal, de atração física, que manifesta o instinto de união e reprodução. Eros representa o amor pela beleza, pelo toque, o corpo, a estética.
O amor filia (Philos) é o amor fraternal, que envolve lealdade, igualdade e mútuo benefício, além de dedicação ao objeto amado. A dedicação desse amor pode chegar a ser mental, que está entre o espiritual e emocional. Esse amor também se refere ao amor de amizade, que não monopoliza, não escraviza e não cria dependentes, quando se ama o outro da forma que ele é. Como é prazeroso cultivar uma amizade. É muito agradável estar ao lado do amigo. Nem a distância, nem a ausência são capazes de impedir ou dificultar o amor do amigo.
O amor ágape é a plenitude deste sentimento. O ser amado passa a ocupar um lugar de destaque no coração do amante. Tudo se faz para que o ser amado alcance o bem estar. Este é o amor maior que tem origem no próprio Deus que é a revelação clara desse amor (Jo 3,16; 1Jo 4.8-18; 1Cor 13,1-13; Ef 5,25). Esse amor é incondicional e com sacrifício, não espera e nem exige nada em troca. É possível amar até os inimigos (Mt 5,44). Ele é infalível e eterno, como se pode ver em 1Cor 13,8.13. Ele é o amor do afeto e da satisfação, isento de conotações sexuais, segundas intenções, malícias e interesses pessoais.
Todos estes tipos de amor mencionados (eros e filia) compõem o amor para os seres humanos, entretanto o amor ágape é adquirido posteriormente com muito empenho e esforço e como dádiva divina para aqueles que se deixam tocar pelo espírito de amor divino, o Espírito Santo (cf. Gl 5,16-22).
O amor humano de uma casal, ou seja, o amor entre um homem e uma mulher, é amor que envolve doação, parceria, cumplicidade, carinho, carícias e intimidade sexual. Marcado por Cristo com a sua Graça, isto é, um Sacramento (o Matrimônio), o amor carnal se torna sinal do Amor de Deus (cf. CIC §1601). É um amor de iguais, de uma só carne: osso dos meus ossos. Desta união, deste amor, é que surgem outros amores, os filhos. Nascerão como frutos de um amor intenso e duradouro, sem paixão.
Podemos concluir que amor não mata. Ele se multiplica em muitos amores e em muitas realidades de amor. A paixão não, ela mata, ela leva a eliminar todo obstáculo que contraria a saciedade de um sentimento egoísta e cego.
“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.”
― Carlos Drummond de Andrade
“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém… Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim… E ter paciência para que a vida faça o resto…”
― William Shakespeare
“Não quero alguém que morra de amor por mim. Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.”
― Mario Quintana
“Se em um dia de tristezas, tiveres de escolher entre o mundo e o amor… escolhas o amor, e com ele conquiste o mundo!”
― Albert Einstein