Afinal, por que houve terremoto em Pedra Bonita?
O Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) confirmou um tremor de terra na região de Pedra Bonita (MG) ocorrido na madrugada de segunda-feira, 08/05. Conforme informações da instituição, diversos sismógrafos registraram o tremor de magnitude 2.7 graus na escala Richter. O mais próximo deles instalado em São João do Manteninha, município próximo a Mantena (MG). Nenhum dano foi registrado.
Moradores da região de Matipó Grande, zona rural de Pedra Bonita, ficaram assustados e publicaram relatos nas redes sociais sobre os tremores. Eles contam que ouviram um estrondo e em seguida sentiram o abalo.
O Técnico em Sismologia do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto Barboza, explica que uma rede composta por diversos órgãos de pesquisa e universidades brasileiras são responsáveis pelo controle dos sismógrafos espalhados em todo território nacional que possibilita o acompanhamento desses abalos sísmicos que, segundo o técnico, são recorrentes. Em Minas Gerais, o Centro de Sismologia da USP é o responsável pelos estudos sismológicos que atingem o estado.
José Roberto exerce a função desde 1974 e junto a uma equipe, trabalha as regiões sul e sudeste do país. Ele classifica o tremor de Pedra Bonita como um pequeno tremor terra. “Isso é uma coisa natural no mundo todo”, diz ele.
O motivo
A explicação da ocorrência de pequenos abalos sísmicos em todos os estados está justamente na movimentação da placa tectônica continental onde o Brasil está localizado. “Essas placas se movimentam alguns centímetros por ano. Nós estamos exatamente no centro da placa sul-americana. Elas são heterogêneas, formadas por diversas camadas, e materiais diversos em diferentes profundidades. Como elas estão se movimentando, essas fissuras e diferenças de materiais, vão se atritando e acumulando tensões que são liberadas gradativamente em forma de pequenos tremores ou alguns sismos mais importantes”, explica José Roberto.
Sobre o estrondo que antecedeu o tremor em Pedra Bonita que foi ouvido pelos moradores, o técnico comenta que isto é normal quando há a liberação de tensão. “Esse barulho que é ouvido são as ondas sonoras. Quando se ultrapassa a barreira do som, como num avião, é ouvido um estrondo e essa frequência quando desce às vezes é percebida pelas casas. Esse barulho é característico das ondas sonoras, e quem ouviu consegue perceber que parece vir de dentro da Terra. É um som oco, intenso. Forte, mas fechado. Em seguida vêm as vibrações, porque são as ondas que já chegaram à superfície e estão se propagando até desaparecerem completamente”.
Pelo fato de o Brasil estar numa condição intraplaca, a tensão acumulada é bem menor. O técnico diz que eventualmente ocorrem sismos importantes, mas a grande maioria são de tremores da ordem de magnitude de 2 a 3 pontos na escala Richter. “São tremores que assustam bastante as pessoas, principalmente quando o epicentro está localizado em regiões habitadas, porque não estamos habituados a esse tipo de movimentação. Mas isso não é uma coisa específica de Pedra Bonita. Temos tremores de terra no Brasil todo”, esclarece.
A atividade sismológica em Minas Gerais
O nordeste brasileiro é a região que registra o maior índice de abalos sísmicos. Isso porque ela possui fraturas mais recentes que ainda liberam energia causando tremores. Em Minas Gerais, também são registrados altos índices de movimentos sísmicos, porém, de magnitudes mais baixas.
Segundo o técnico da USP, em Montes Claros, no norte de Minas, há registros de constante atividade sísmica, algumas delas consideradas importantes. Já a cidade que ficou marcada pelos tremores é Itacambi, também no norte de Minas, quando em dezembro de 2007 aconteceu um tremor de magnitude 4.3, vitimando uma pessoa e causando diversos prejuízos. “Temos muitos tremores em Minas até por conta da composição geológica da terra, e existência de cadeias montanhosas. Nessas regiões ocorrem fraturas/fissuras que conforme as dinâmicas de movimentação tectônica dessas placas vão acumulando tensões que poderão ser liberadas de modo diferenciado ao longo dos anos”, conta. “Existe todo um contexto, mas não temos como saber onde vai tremer. Apesar dos grandes centros de sismologia como Japão e Estados Unidos acompanharem movimentações geológicas ainda não é possível detectar onde estão estas tensões que são acumuladas gradativamente, e onde vão ser liberadas. Não se tem um modelo estrutural definido da Terra”, exemplifica.
José Roberto conclui falando sobre a ferramenta utilizada para registrar dados de tremores. “O sismógrafo é a composição do sensor que fica instalado sobre a rocha ou dentro de um buraco, e o registrador é aquele que armazena o que o sismógrafo detectou. Então se há um terremoto no Japão, 20 minutos depois as ondas já estão passando pelo território nacional e o sismógrafo amplifica milhões de vezes essas ondas que estão se propagando pelo interior do solo. Ele detecta e manda para o registrador que é um computador programado para enviar as informações ao Centro de Sismologia. A maioria das estações transmite os dados via satélite e internet para o nosso datacenter, onde existe uma central recebendo e gerenciando todas as informações. Depois disso temos um aplicativo, que conforme os sinais das centenas de estações vão entrando, ele já vai determinando os epicentros automaticamente”, conclui.
Livia Ciccarini – Tribuna do Leste