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Artigo: Carne Amarga

felipe moura
Felipe Moura

Não fui consultado sobre o que penso sobre a ‘Operação Carne Fraca’ que abalou o País, mas estou dando meus palpites. De início, estranhei o nome “carne fraca”, que me fez lembrar o apóstolo Pedro num franco desabafo ao Mestre. Pedro tinha o ‘espírito forte’, mas admitiu ter a ‘carne fraca’. De minha parte, não sei se minha carne é forte o bastante para trabalhar até os sessenta e cinco anos como quer o “ogro do Planalto”, mas o meu espírito é bem fraquinho e tem passado por muitos perrengues ao longo desses anos.

Deixando de lado a “franqueza petrina” e voltando às mazelas verde-amarelas, parece que os policiais federais acharam carnes estragadas, e carne estragada não é carne fraca, mas podre. Se a operação não pôde ser batizada com o sugestivo nome de “Carne Podre” é porque algo ainda mais putrefato ocorrera com as autoridades.

A mídia não destaca, mas está também em curso a ‘Operação Carne Fria’. Nesse trabalho, a PF investiga negócios entre pecuaristas de áreas ilegalmente desmatadas do Norte e os famosos frigoríficos. Naqueles descampados, o gado é criado clandestinamente e adquire ‘certificação fria’ para ser comercializado regularmente. Como os grandes proprietários de terra da região amazônica são também os donos do Congresso, a coisa não vai andar.

Não tenho muito a dizer sobre assuntos tão sisudos, como o comércio de carnes vencidas, mas imagino que na net podem ser encontradas informações bem detalhadas na forma de textos, tabelas, planilhas e que tais. Este espaço, porém, reserva-se à opinião deste blogueiro e de uns poucos leitores que aqui aportam. Quero, então, fazer um pequeno questionamento: o que o bicho, o verdadeiro dono da carne, acha de tudo isso? Ninguém foi entrevistá-lo, até porque o boi, o porco, o frango e seus semelhantes, sempre desconfiados dos humanos, não costumam dar entrevistas. Mas fico pensando: o que eles teriam a dizer?…

O ser humano, esse glutão, só quer saber de comer carne. E a carne tem de ser saborosa, barata e abundante, não importando os meios para se chegar a isso. Faz-se churrasco porque é fim de semana, o Flamengo ganhou, o Flamengo perdeu… Enfim, sempre há um bom motivo para um bom churrasco! O pior nem é a churrascada, mas o desperdício. Observe, devotado leitor, numa festinha, como se desperdiça carne!…

Neste breve ensaio, recuso-me a discorrer sobre o abate, algo ainda paleolítico, horripilante; também não quero falar sobre as “fábricas de carne”, onde o bicho vive seu inferno particular; o transporte então… E não vou comentar as condições subumanas dos operários nos frigoríficos. Apenas quero provocar uma reflexão: todo alimento é sagrado, porque vem de nosso trabalho; a carne, contudo, tem mais sacralidade, pois não é apenas resultado de um labor, mas fruto da dor do animal que foi abatido. Desperdiçar um pedaço de carne é dessacralizá-lo!

O Criador deve estar muito aborrecido com as atrocidades cometidas pelos humanos contra inocentes criaturas. Por isso, gostaria de viver o suficiente para ler uma bula, uma encíclica, uma pequena carta papal em defesa da vida animal. Para que se cumpra a exortação bíblica: “Feras e rebanhos, bendizei o Senhor!”

FILIPE

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