Autoridades ecológicas alertam para macacos mortos e consequência da degradação ambiental
Macacos estão aparecendo mortos por tiros ou envenenados na zona rural de Manhuaçu. Cinco primatas foram mortos em virtude de ações humanas, um foi localizado em Palmeirinhas e outro na cabeceira de Manhuaçuzinho. Outros dois foram encontrados no Barreiro e o quinto na Roça Grande. Diante dessa situação, a Polícia Militar Ambiental emitiu um comunicado pedindo a ajuda da população, tanto urbana quanto rural, para se conscientizar de que os animais não têm culpa da incidência de febre amarela na região. Além disso, a eliminação dos macacos faz com que os mosquitos se aproximam cada vez mais das áreas urbanas, espalhando assim ainda mais a doença. A polícia irá investigar cada morte de qualquer animal em qualquer região da zona de mata mineira e se constatado morte por arma de fogo ou envenenamento por humanos, vai haver averiguação e apreensão do autor, com direito a 3 anos de prisão sem pagamento de fiança.
Dados históricos sobre a incidência da enfermidade no Brasil revelam que ela retorna em ciclos de cinco a dez anos, tanto entre seres humanos quanto entre macacos. Uma hipótese defendida por alguns pesquisadores para o vaivém da febre é a renovação de grupos de macacos que foram dizimados pela doença. De cinco anos a uma década seria o tempo necessário para uma população se restabelecer e ficar novamente exposta ao vírus carregado pelos mosquitos Aedes haemagogus e Aedes aegypty, esse último o mesmo da dengue.
O que algumas pessoas podem desconhecer são dados apresentados pelo Ministério da Saúde, no qual funciona o sistema de alerta brasileiro sobre casos de febre amarela, ou seja, macacos mortos devem acionar municípios para que vacinem suas populações, enviem os animais para testes laboratoriais e avisem o governo federal. Mas é preciso unir esforços de governo e do meio científico. Sem isso, será muito difícil agir preventivamente contra a febre amarela, como informa sargento Ricardo, da Polícia Militar Ambiental.
“Vamos orientar a população da zona rural a lidar com essa situação. Às vezes, a pessoa mata o primata achando que está resolvendo um problema na área dela, entretanto é um engano, pois o animal serve como um instrumento biológico para detectar indícios ou não da doença no local. Se o macaco for abatido, as pistas que podem levar as principais áreas de risco se perdem. Além do monitoramento da doença, a matança de macacos da região gera uma confusão entre os setores de saúde, que não conseguem determinar se a causa da morte aconteceu por causa da doença ou da ação humana”, explica sargento Ricardo.
A orientação do militar, caso alguém reconheça algum macaco remanescente da Mata Atlântica, é de que não faça nada de mal a esses animais. Caso encontre o primata morto é imprescindível que a pessoa entre em contato com o setor de Vigilância Ambiental do município. “Certamente, a unidade responsável providenciará alguém capacitado para fazer o recolhimento do material para análise e ver se o animal realmente morreu de febre amarela” orienta o militar.
Além da morte dos primatas, sargento Ricardo faz outra observação quanto a comunicação falsa envolvendo a aparição e, consequentemente, a morte dos macacos. Segundo ele, a informação precipitada – mesmo que repassada de forma a não prejudicar o trabalho das instituições, reflete em desgaste para o efetivo que está incumbido de analisar os primatas da região. “Os recursos disponibilizados para o combate à doença também são prejudicados. Às vezes, vamos em local que não existe o fato e isto prejudica o nosso trabalho”, enfatiza o sargento da Polícia Militar Ambiental. Mesmo com os percalços do trabalho de campo, sargento Ricardo diz que a os setores de saúde e a Polícia Militar Ambiental está trabalhando em parceria com a comunidade e qualquer dúvida que o cidadão venha a ter os órgãos responsáveis estão à disposição para atendê-lo.
Desenvolvimento prejudica a natureza
Segundo o ambientalista Eduardo Bazém, o modelo de desenvolvimento econômico adotado, tanto em nossa região, quanto no estado é um método falido. Ele afirma que as políticas voltadas a conscientização ambiental se mostram falhas no sentido de alertar a população quanto ao tratamento adequado da fauna e flora. “Não escutamos discursos de nossos governantes voltados a conservação ambiental, replantio de árvores, manutenção das florestas, preservação das matas ciliares, e das nascentes, enfim, campanhas educativas voltadas para a conservação ambiental”, salienta o ambientalista.
Eduardo Bazém destaca que um trabalho informativo no que tange as ações em prol do meio ambiente podem ser fundamentais para evitar a proliferação de doenças, que são exclusivas da fauna silvestre. “O trabalho preventivo é melhor que o curativo. A gente vive alertando para preservação das nascentes, conservação das florestas, realização de campanhas educativas ou criação unidades de conservação. E estamos falando isso há décadas. Mas infelizmente não existe respaldo das autoridades competentes para as demandas envolvendo o meio ambiente”, finaliza.
Danilo Alves – Tribuna do Leste