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Onze anos após o anúncio do início das obras para a duplicação da BR-381, o asfalto degradado, a quantidade de buracos e o trânsito intenso continuam sendo uma realidade para quem passa pelo trecho da rodovia entre as cidades de Governador Valadares e Belo Horizonte. Condição adversa que exige cada vez mais a calma dos condutores e a resistência dos sistemas de amortecimento dos veículos, principalmente em um período de fluxo intenso, por causa das férias escolares. Precariedade potencializada pelas chuvas, o que resulta em prejuízos aos motoristas e aumenta o movimento em oficinas mecânicas e borracharias.
Uma soma de condições inadequadas que ajuda a justificar o elevado número de acidentes de uma via que se popularizou como a Rodovia da Morte. Ao longo dos 303,4 km entre os municípios, foram 347 acidentes nos seis primeiros meses de 2024, conforme o último levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) — ou seja, um a cada doze horas. “A gente sai de casa com o objetivo de ter um trajeto tranquilo, mas está difícil. Em cada lugar que você passa tem uma surpresa, um buraco”, desabafa a professora Flávia Lúcia de Almeida, de 51 anos.
Conforme os dados da PRF, responsável pela fiscalização das estradas que pertencem à União, 463 pessoas ficaram feridas em acidentes no trecho no período entre janeiro e junho do ano passado. O estudo apontou que 151 delas foram socorridas em estado grave e outras 33 perderam a vida. “É uma condição precária que causa medo. Ainda mais quando você é responsável por quinze pessoas dentro de uma van”, relata o motorista Roberto Rodrigues, de 47 anos, que trabalha com excursões para uma agência de viagens.
Pontos críticos
Na última quarta-feira (15), a equipe percorreu o trecho de cerca de 200 km da BR-381, entre as cidades de Ipatinga e Belo Horizonte. Os pontos próximos aos municípios de Jaguaraçu, João Monlevade e Sabará são os mais críticos. Nestes trechos, veículos foram flagrados seguindo viagem pela contramão — uma alternativa encontrada pelos motoristas para desviar dos buracos que tomam a pista.
“O ideal, nestes pontos, é seguir a viagem em velocidade baixa, sem passar para a outra pista. Porém, em alguns lugares, ir pela contramão vai ser a única alternativa. Então é importante redobrar a atenção”, aponta o especialista de segurança no trânsito e professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) Agmar Bento. Foi o que fez o motorista Antônio Portugal, de 46 anos. Ele saiu com a família de Belo Horizonte com destino a Teófilo Otoni.
O carro em que eles estavam teve um imprevisto na altura da região do Vale do Aço. “Fui desviar dos buracos de um dos lados, e segui pela contramão. Só que tinha um outro buraco, acabei passando por ele e furou um dos pneus” conta Portugal. Além do risco de um acidente, já que o carro estava no sentido contrário ao fluxo de veículos, o incidente provocou atraso na viagem e prejuízo financeiro. “Além do risco, é algo que pesa no bolso”, relata.
Precariedade aumenta movimento em borracharias
A condição precária da rodovia tem sido percebida por quem possui oficina ou borracharia às margens da BR-381. Em alguns destes estabelecimentos, o movimento nas últimas semanas mais que dobrou. “Normalmente, a gente recebe cinco ou seis carros por dia. Na última semana, a média era doze. Teve um dia que recebi dezesseis. E chega de tudo, desde veículo de passeio até caminhão”, conta o borracheiro Nilson Luiz Gonzaga, de 58 anos.
Para quem tem a rodovia como a sua principal fonte de renda, como o caminhoneiro Osvaldo Ferreira, de 55 anos, que trabalha com o transporte de ração, a situação adversa da estrada faz com que os “imprevistos financeiros” sejam cada vez mais recorrentes. “Você não faz uma viagem pensando que depois terá que gastar porque seu caminhão teve um problema por causa de um buraco. Mas isso tem acontecido, está caótico. Não dá para entender porque está assim, já que o governo tem uma arrecadação muito alta”, questiona.
Conforme a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a previsão é de que obras de recuperação e manutenção da via, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, possam começar até o fim de fevereiro. O prazo considera o período de 30 dias, contados a partir do dia 24 de janeiro, data da assinatura do contrato com a empresa que irá assumir o trecho da rodovia. “Entre as primeiras ações, estão melhorias na sinalização e no asfalto. Os investimentos obrigatórios serão realizados conforme previsto no contrato”, garante.
Operação tapa-buraco disfarça o problema, alerta especialista
Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), órgão responsável pela fiscalização e manutenção das rodovias federais, serviços de tapa-buracos estão sendo realizados no trecho da BR-381 entre Belo Horizonte e Governador Valadares, na região do Rio Doce. A autarquia garante que tem buscado agilizar a solução dos problemas, mas aponta que tem enfrentado dificuldades devido às condições meteorológicas. “Em função dos longos períodos de chuvas ininterruptas, a ocorrência de buracos, aumenta, o que é sanado sempre que ocorre a estiagem”, diz em nota.
O órgão afirma que investiu cerca de R$ 60 milhões em obras na rodovia no ano passado. Deste montante, R$ 50 milhões — ou seja, 83% do valor total — foi destinado para a conservação da via. “Infelizmente, a manutenção não é feita da forma correta. Colocam asfalto na superfície e ignoram as camadas mais inferiores. Por isso os buracos sempre voltam, principalmente durante o período chuvoso”, alerta o especialista de segurança no trânsito e professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) Agmar Bento.
Fiscalização para evitar acidentes
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) aponta que tem reforçado a fiscalização nas estradas para evitar acidentes por causa das condições adversas na BR-381 e também do aumento do fluxo de veículos, que teve início com o recesso escolar, em dezembro. Além de tentar inibir que motoristas trafeguem com a velocidade acima do limite permitido, os agentes auxiliam os motoristas nos trechos considerados mais precários e aqueles que tiveram alguma interdição, principalmente por causa de desastres naturais provocados pela chuva.
“Trafegue sempre com os faróis acesos, mesmo durante o dia. Isso aumenta a visibilidade, além de melhorar a percepção de distância aproximada”, orienta a PRF.
Veja dicas da PRF
- Planeje sua viagem e faça a revisão de seu veículo.
- Respeite os limites de velocidade estabelecidos para a via e obedeça às placas de sinalização.
- Utilize o cinto de segurança
- Crianças menores de 7 anos e meio de idade devem estar utilizando o equipamento obrigatório compatível (bebê conforto, cadeirinha e/ou assento de elevação)
- Ultrapasse sempre pela esquerda somente em locais permitidos e principalmente onde haja todas as condições necessárias para execução da manobra com segurança.
- Mantenha uma distância segura do veículo que vai à frente.
- Cuidado com os pedestres, principalmente em perímetros urbanos cortados por rodovias.
- Caso ocorra chuva durante sua viagem, acione os limpadores de para-brisa, diminua a velocidade e aumente a distância em relação ao veículo que segue a sua frente.
Fonte: O Tempo