Palavra de Vida
MISSA DO NATAL
1ª LEITURA – Is 9,1-6
O texto belíssimo do profeta começa fazendo referência aos territórios de Zabulão e Neftali como um povo que andava nas trevas porque tinha sido invadido pela Assíria. Seu anúncio é de esperança de libertação, carregado de alegrias messiânicas. A libertação se dá em três momentos:
– O 1º momento – Um clarão de luz – O povo envolto nas trevas da opressão vê uma grande luz de libertação, iluminando seu caminho.
– O 2º momento – A paz e a alegria da libertação se aproximam. A alegria é comparada com o momento da colheita e com a partilha dos despojos de guerra. O povo tem a satisfação de ver quebrada a causa da opressão, a vara das flagelações e o bastão do capataz. O texto faz referência à vitória de Gedeão em Madiã (cf. Is 7,15-25). Também se fará uma grande fogueira para se queimar os símbolos da opressão como a bota do soldado e a capa ensopada de sangue.
– O 3º momento – O nascimento do menino rei – Quais são as características desse menino? Ele se reveste de um manto real, portanto trata-se de um rei. Seus quatro nomes dizem tudo, São um acúmulo de esperança e otimismo. É chamado de Conselheiro Maravilhoso, “Deus Forte”, Pai para Sempre e “Príncipe da Paz”. O domínio do novo rei será grande e seu reino não terá fim. Seu governo será assegurado pelo zelo de Javé dos exércitos. É claro que um reino com todas essas características só pode se realizar plenamente em Jesus.
2ª LEITURA – Tt 2,11-14
A finalidade da carta de Tito é “recordar aos cristãos que a salvação foi trazida por Cristo”. Pretende também traçar as grandes linhas de comportamento para a vida particular e social e ainda prover a organização das Igrejas. – É dos anos 64-65. O centro da carta é a sã doutrina, isto é a vontade salvadora de Deus e a salvação gratuita trazida por Cristo.
Nosso texto parte da dimensão fundamental da manifestação da graça de Deus em Jesus Cristo. Ela se manifesta para a salvação de todos os homens. Diante da graça salvadora de Deus temos um aspecto de ruptura: abandonar as paixões mundanas. Temos também o aspecto construtivo: a graça nos ensina o auto-domínio, a justiça e a piedade. Assim Jesus viveu, assim devemos viver. Esta vivência da graça nos fortifica: “na esperança da manifestação da glória de Jesus Cristo nosso grande Deus e Salvador”. “A manifestação de Deus muda o modo de compreender a vida”. “Tudo agora está voltado para o esplendor da glória de Jesus, por ocasião da Sua 2a vinda”. O v. 14 testemunha a fé dos primeiros cristãos na divindade de Jesus. Aqui temos as seguintes consequências da afirmação central da morte de Jesus na cruz:
* Ele quis resgatar-nos de toda a iniquidade.
* Ele quis purificar um povo que lhe pertence.
* Ele quer que sejamos zelosos nas boas obras.
As duas primeiras afirmações são ações já feitas por Jesus Cristo em nosso favor, mas a terceira depende de nós, que, como discípulos, devemos dedicar-nos à prática da justiça e à prática do bem.
Acreditamos de modo prático na obra de Jesus? Como encaramos o aspecto da ruptura e o aspecto construtivo?
EVANGELHO – Lc 2,1-14
Os capítulos 1 e 2 de Lucas (como também os capítulos 1 e 2 de Mateus) são uma releitura dos acontecimentos da infância de Jesus à luz de Sua morte e ressurreição. Não se trata, portanto de uma narração histórica mas de uma leitura teológica da história da salvação. É preciso descobrir no relato o que o Evangelista de fato quer transmitir.
O recenseamento – Vem de um decreto do imperador e é realizado no tempo de Quirino, governador da Síria. Todo mundo tinha que se registrar em sua cidade natal. Qual era a finalidade do recenseamento? O controle, o domínio e a exploração dos grandes sobre os pequenos. José e Maria vão se registrar em Belém, cidade do rei pastor Davi, pois José era descendente de Davi. Maria estava grávida.
O nascimento – Em Belém, na cidade do rei-pastor Maria dá à luz a Jesus, seu filho primogênito. É bom lembrar que o primeiro filho tem prerrogativas especiais e, então, sempre é chamado de “primogênito” mesmo se a mãe não tem outros filhos. Temos do ano 5 a.C. uma inscrição num túmulo judaico: A mãe morreu, mas o filho único é chamado com todo o direito de primogênito. Dizer que Maria teve outros filhos, pois de contrário não se chamaria Jesus de primogênito é desconhecer o costume da época. Jesus nasce pobre, numa pequena cidade da periferia, e na periferia da cidade, e além disso foi colocado num coxo de animais pois não havia lugar para a família de Nazaré dentro da casa de seus parentes em Belém. Muito esquisito! Mas tudo está indicando que Jesus nasceu na pobreza estrema para se identificar e salvar os mais marginalizados. Além disso a rejeição dos homens já está retro-projetada no seu nascimento. Lucas certamente quer fazer alusão ao abandono total com que Jesus sozinho enfrentou a morte para a salvação de todos. Compare por exemplo 2,7a: “Maria enfaixou Jesus e o colocou na manjedoura” e 23,53 “José de Arimatéia enfaixou o corpo de Jesus e o colocou num sepulcro”. Aqui é preciso observar que os caminhos de Deus são diferentes dos caminhos dos homens. Deus quer salvar os homens não a partir dos grandes e poderosos, mas a partir dos pequenos e marginalizados. “Não” para Roma, “não” para Jerusalém e “sim” para a pequena Belém. “Não” para o imperador Augusto, “não” para o governador Quirino e “sim” para a família pobre de Nazaré: Deus exalta os humildes e abate os poderosos
Os destinatários da salvação
Quem anuncia a Boa Notícia do nascimento do Salvador? Os anjos de Deus. A quem? Aos pobres e marginalizados pastores de Belém. Estes marginalizados são envolvidos com a luz de Deus. A alegria deve se estender a todo povo. Mas o Messias nasce para os pastores (v. 1). São eles que devem levar esse evangelho (= Boa Notícia) a todo o povo.
Qual é o grande sinal de Deus? Um recém-nascido envolto em faixas e deitado na manjedoura. Jesus nasce como empobrecido, migrante, marginalizado. São os caminhos de Deus. Os vv. 13-14 mostram a grande alegria de uma multidão de anjos do exército celeste, dando glórias a Deus pelo seu grande desígnio de amor pelos homens e desejando paz na terra.