Os números de desastres, pessoas feridas e mortas nas estradas federais que cortam Minas Gerais aumentaram entre 2023 e 2024, seguindo uma tendência que é nacional e que transformou a BR-116 em uma via tão mortal quanto a BR-381 – cujo trecho de Belo Horizonte a João Monlevade se tornou conhecido como a “Rodovia da Morte”. As duas estradas fecharam o primeiro semestre de 2024 com o mesmo número de pessoas mortas, com 78 vítimas cada, dividindo a posição de rodovias mais mortais no estado.
Os dados são da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e foram compilados pela equipe do Estado de Minas. Surpreende, no entanto, observar que há muito as mortes se elevam na BR-116. Tanto que, se o mesmo levantamento tivesse sido feito no primeiro semestre de 2023, revelaria que a BR-116 chegou a ultrapassar a BR-381 em quantitativo de pessoas que morreram, com 74 óbitos contra 67 em seis meses. Ao fim do ano passado, porém, a 116 somou 155 óbitos e a 381 terminou o período com 171 em Minas.
De forma geral, no comparativo do primeiro semestre de 2023 com o de 2024, Minas Gerais figura como o estado com o maior número de mortes nas estradas e a 18º unidade da federação com o maior aumento de óbitos no período, passando de 343 para 360 (4,9%) entre um ano e outro. O registro de pessoas feridas é o pior no país no período comparado, passando de 5.389 vítimas para 5.617 (4,2%) na mesma comparação. É também a unidade da federação com mais registros absolutos, chegando a 4.452 acidentes nos primeiros seis meses deste ano, 4,6% mais que em período equivalente de 2023, quando ocorreram 4.255.
Para mostrar os perigos da BR-116, no trecho de Além Paraíba, na divisa com o Rio de Janeiro, a Divisa Alegre, cidade vizinha à Bahia, a equipe de reportagem do EM reuniu informações da PRF que mostram os locais mais críticos, as causas e tipos mais frequentes de acidentes dessa nova “Rodovia da Morte” em Minas Gerais. O levantamento mostra que no primeiro semestre de 2024 foram 647 desastres, 78 mortes e 929 pessoas feridas.
O principal tipo de ocorrência na BR-116, com 127 registros, foi a colisão transversal, que ocorre quando a frente de um veículo se choca com a lateral de outro, segundo a PRF, muito comum em travessias, transposições e interseções de pistas. Em seguida, aparecem as saídas de pista (100). As colisões traseiras são a terceira forma mais comum de acidentes (81), seguidas de tombamentos (67) e colisões frontais (56).
Causa humana lidera motivos
Entre as causas elencadas para a maioria dos acidentes, os policiais rodoviários federais assinalaram a ausência de reação do condutor, com 104 registros, seguida de manobras para acessar a via sem observar a presença dos outros veículos (88), reação tardia ou ineficiente do condutor (80), velocidade acima da permitida (62) e ingestão de álcool pelo condutor (36).
Já entre os acidentes que causaram mais mortes se destacam as colisões frontais, com 15 registros, as saídas de pistas (10), colisões transversais (8), colisões laterais de mesmo sentido ou sentido oposto (6) e os atropelamentos (4). Nesses casos específicos, as causas apontadas com mais frequência pelos policiais são a ausência de reação do condutor, em 11 ocorrências, reação tardia ou ineficiente (7), alta velocidade (7), transitar na contramão (6) e acessar a via sem observar a presença dos outros veículos (5).
No primeiro semestre, o acidente com mais mortes na BR-116 ocorreu em 12 de janeiro, em Campanário, no Vale do Rio Doce, na altura do Km 343. Naquela ocasião, um ônibus de viagem tinha saído de Novo Cruzeiro, sentido Piracicaba (SP), e bateu de frente com uma Chevrolet Veraneio. Com o impacto, o coletivo caiu no Rio Itambacuri, matando seis pessoas na hora, sendo que outras duas morreram em seguida no hospital. Ao todo, 43 pessoas ficaram feridas.
Os quilômetros mais críticos
O trecho de mil metros onde mais ocorreram acidentes na BR-116 durante o primeiro semestre deste ano foi o Km 702, em Muriaé, na Zona da Mata, onde foram registradas 16 ocorrências, envolvendo 33 veículos e 36 pessoas, resultando em 16 feridos, mas sem morte. Trata-se de um segmento urbano entre a ponte sobre o Rio Muriaé e o trevo com a rodovia BR-365, dotado de pista simples sem acostamentos e de ultrapassagem proibida, com quebra-molas e passarelas, mas também diversos acessos a comércio, posto de abastecimento e bairros residenciais. Na sequência, quatro Kms registraram 11 acidentes, sendo três (411, 413 e 414) em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, e um em Teófilo Otoni (Km 276), no Vale do Rio Mucuri.
Já os segmentos de um quilômetro onde mais pessoas morreram foram o Km 579, em Manhuaçu, e o Km 627, em Orizânia, ambos na Zona da Mata, além do Km 6, em Divisa Alegre, no Norte de Minas, tendo cada trecho registrado dois acidentes com três mortos no período.
Em Manhuaçu, o local com mais registros de mortes fica no distrito de São Pedro do Avaí, uma estrada de pista única, com retas intercaladas por leves curvas e de ultrapassagem proibida. Os acidentes fatais se deram por excesso de velocidade seguido de capotamento e por reação tardia ou ineficiente do condutor que terminou em colisão frontal contra outro veículo do sentido oposto.
No município de Orizânia, o Km com mais registros de acidentes com mortes fica entre o acesso ao Bairro Nossa Senhora de Fátima, na Zona Rural, e a ponte sobre o Rio Carangola, em uma pista simples e reta, após curva acentuada. Os acidentes foram provocados em um caso por motorista transitando pela contramão, que bateu de frente contra outro veículo e devido ao atropelamento de um pedestre que caminhava na pista.
Já no Norte de Minas, o segmento de Divisa Alegre vem de pista com terceira faixa em curva fechada no acesso à rodovia LMG-614 e segue por subida seguida de descida em pista simples até quase a divisa com o estado da Bahia. Os acidentes com mortes ocorreram por defeito da pista, que fez com que um carro saísse do traçado e batesse em um barranco e, no segundo caso, por falta de reação do condutor ao tráfego, que resultou em capotamento.
BR-381, ainda no topo do ranking
Ainda que não esteja sozinha nessa posição, a rodovia BR-381 seguiu figurando com o maior número de mortos entre as estradas federais que cortam Minas Gerais no primeiro semestre de 2024, com 78 óbitos, ao lado da BR-116, como mostram os dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) compilados pelo Estado de Minas. Na 381, foram 1.303 acidentes que ainda deixaram 1.602 pessoas feridas.
Mas a estrada que liga Governador Valadares a São Paulo não tem uma divisão uniforme de acidentes e vítimas. O segmento denominado Fernão Dias, que liga Contagem, na Grande BH, a Extrema, no Sul de Minas (BH-SP), é muito mais movimentado e por isso mais violento, respondendo por 975 acidentes, 51 mortes e 1.161 feridos. Já na parte Norte da estrada, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, onde fica o segmento conhecido como Rodovia da Morte (BH- João Monlevade), foram 328 acidentes, 27 mortos e 441 feridos.
Foi nesse percurso que ocorreu o acidente que individualmente somou mais vítimas na BR-381 no primeiro semestre. Na noite de 28 de abril, os quatro ocupantes de uma caminhonete morreram quando o veículo bateu em um caminhão, no Km 170, em Baguari, distrito de Governador Valadares. No veículo de passeio, que se encontrava capotado, estava apenas o corpo do motorista, preso ao cinto de segurança. Três passageiros foram ejetados para fora do veículo.
Três equipes de bombeiros foram para o local, onde desencarceraram o motorista do caminhão, preso ao painel do veículo. Ele ficou aos cuidados da equipe do Samu. Houve princípio de incêndio, que foi debelado.
Os trechos de maior risco
Após o Anel Rodoviário de BH, da Ponte sobre o Rio das Velhas, em Sabará, na Grande BH, até a cidade de João Monlevade, os cerca de 100 quilômetros da temida Rodovia da Morte registraram 191 acidentes, com nove mortes e 266 feridos, o que representa 58% das ocorrências do segmento Norte (de 350 quilômetros), 33% dos óbitos e 60% das pessoas que saíram feridas.
Mas o quilômetro com mais acidentes com mortes do último semestre na BR-381 fica no trecho de Betim da Rodovia Fernão Dias, onde ocorreram três acidentes com três óbitos no período, mais especificamente nas proximidades do trevo com o Bairro PTB. Dois foram atropelamentos e outro, uma colisão entre moto e outro veículo. O local é uma via rápida e urbana, com três faixas por sentido e via marginal com vários acessos a indústrias, serviços e bairros residenciais.
Fonte: Jornal Estado de Minas