“Eu estava certa vez na praia, com uns amigos, isso na década de 70, e tinha um pessoal dos cursinhos encabeçando o carnaval, lá no clube, e eles dançavam até sete e meia, oito horas da manhã e dali ia todo mundo do bloco lá para a igreja depois para receber as cinzas. Aí já se falava ‘é para pagar os pecados do Carnaval’ e não é esse o sentido não. O Carnaval pode ser bem vivido e não quer dizer que quem vai pecou. Quem peca, peca até dentro de casa, porque a maldade está é dentro do coração humano”. O vigário da Paróquia do Bom Pastor, Pe. Sebastião Santana, sdn, recorda essa história para nos explicar um pouco sobre a Quarta-feira de Cinzas.
Na quarta-feira, após o Carnaval, acontece a celebração das cinzas que, de acordo com a liturgia católica, significa a conversão para uma nova vida. É nessa data também que se dá início à Quaresma, tempo de preparação para a principal festa do ano litúrgico católico, a Páscoa, a Ressurreição do Senhor. “As cinzas são um sinal externo, que nos convida à conversão. ‘Convertei-vos e crede no Evangelho’, crê nessa boa notícia, que Deus nos ama, que Deus quer a nossa felicidade. E, nesse sentido, vale a pena a gente valorizar a presença na Igreja, nas celebrações. Onde tem missa, tem missa, onde não tem, tem celebração. É um sinal para nós, um convite para todos nós”, pontua Pe. Santana.
Há uma crença antiga de que o fogo purifica. Desde a Grécia antiga, com a figura da fênix, que renasce das cinzas, esse simbolismo se faz presente. Assim, o significado de que há esperança, que o fim não existe e sempre há um porvir. “Antigamente, colocava-se, num tom até meio fúnebre, meio macabro, ‘lembra-te que é pó e ao pó voltarás’ e a liturgia hoje não realça mais isso. Hoje foca em outra palavra: ‘Convertei-vos e crede no Evangelho’. Somos chamados à conversão àquilo que é fundamental para nós, voltarmos para esse amor que Deus tem por nós, abrirmos ao amor apaixonado de Deus por nós, que nos enviou Seu Filho, que se entregou por nós, que se fez obediente até a
morte e morte de Cruz”, reitera.
Quaresma
A partir da Quarta-feira de Cinzas, que dá início à Quaresma, período em que a Igreja Católica se prepara para a Páscoa. É uma prática que ocorre desde o século IV. Inicialmente, cerca de 200 anos após o nascimento de Cristo, a preparação para a Páscoa era de apenas três dias de oração, meditação e jejum. Só por volta do ano 350 é que a Igreja estendeu esse período para 40 dias, dando início à Quaresma, que permanece até os dias de hoje. “Dentro da liturgia da Igreja, que é de dois milênios, a Quarta-feira de cinzas começou a ser mais valorizada na Idade Média. Os quarenta dias da Quaresma eram medidos do primeiro domingo até a quarta-feira da Semana Santa”, explica Pe. Santana. Eventualmente começava seis semanas (42 dias) antes da Páscoa, isto só dava por resultado 36 dias de jejum, já que se excluíam os domingos. “Pelo fato de os domingos da Quaresma não terem tom tão penitencial, não chamar a atenção para a penitência, em que o foco era sempre a Páscoa, a vitória de Cristo, resolveram colocar à partir da Quarta-feira de cinzas para inteirar os quarenta dias, até a quarta-feira da Semana Santa”, completa.
Durante esses dias que precedem a Semana Santa e a Páscoa, os cristãos dedicam-se à reflexão e à conversão espiritual, e se recolhem em oração e penitência, para lembrar não só os quarenta dias de Jesus no deserto como também os sofrimentos que Deus, feito homem, suportou por cada um de nós na Cruz. Mas o tom penitencial não é o principal da Quaresma. “Às vezes fica na cabeça da gente que a penitência que vai resolver, que o meu jejum, ‘eu vou me privar disso, privar daquilo’.
O principal da Quaresma é nós aproveitarmos para celebrar aquilo que tem de fundamental, sobretudo a questão do nosso batismo, a nossa vida em Deus, aquilo que Ele fez gratuitamente por nós, oferecendo-nos a salvação. O tom da Quaresma não é um tom triste, melancólico, é pensar na vida, a vida que passa pela morte e o principal de tudo é descobrirmos o amor apaixonado que Deus tem
por nós”, reitera.
Quaresma é tempo de conversão. É um tempo especial de graças que devemos aproveitar ao máximo para fazermos uma renovação espiritual em nossa vida. “O recado que fica para essa Quaresma, em primeiro lugar, é saber que Deus gosta de nós. Estamos caminhando para a Páscoa, a festa da vitória de Jesus. Queremos vencer com Jesus, ressuscitar com Ele e assumir a grande causa que Jesus assumiu: o amor por nós, pela natureza, pela Criação. O ideal de Deus a nosso respeito é que nós vivamos bem como filhos de Deus, como irmãos entre nós e como guardiões desse Jardim que Ele colocou para nós tomarmos conta”, completa Pe. Santana.
Campanha da Fraternidade
A já tradicional Campanha da Fraternidade também é uma das bandeiras do tempo quaresmal. Há 56 anos, a campanha é realizada para reforçar a necessidade de reflexão e prática de preceitos cristãos nas famílias, nas políticas públicas, nas ofertas de saúde e educação e nos mais diversos segmentos do Brasil. Com o tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34), a Campanha da Fraternidade 2020 tem como objetivo “conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como dom e compromisso, que se traduz em relação de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum”, como diz o texto-base lançado pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
No documento, a Igreja Católica lembra estatísticas alarmantes de situações que ameaçam a vida humana, tais como o aumento nos casos de feminicídio no Brasil, a violência no trânsito, o fenômeno da automutilação e mortes por suicídio e outros graves problemas sociais da atualidade. “Na campanha, lembramos o compromisso de viver na fraternidade, viver o projeto que Deus tem a nosso respeito, de sermos guardiões do Jardim, guardarmos os nossos irmãos, os seres humanos, guardarmos assim os nossos princípios que regem a sociedade e, ao mesmo tempo, ter o cuidado, o carinho, com a vida que está na nossa Casa Comum, o Planeta Terra. Os animais, os vegetais, a natureza toda, também são nossos irmãos que exigem o nosso cuidado”, explica.
O cartaz da CF 2020 remete à figura de Irmã Dulce, que foi canonizada em outubro do ano passado. O cartaz também apresenta, ao fundo, o Pelourinho, lugar icônico da capital baiana. “Foi uma pessoa que sofreu muito, mas sofreu com alegria e deu sua vida pelos pobres, cuidou deles, por isso hoje é alguém que ilumina os caminhos para nós porque está junto de Deus”,
pontua Pe. Santana.
⛪ Programação Santa Missa em Manhuaçu
(Quarta-feira de Cinzas)
Paróquia Bom Pastor
➡ Matriz do Bom Pastor: 07h, e 19:30h
➡ Imaculada Conceição (Coqueiro): 08h
➡ São João Batista (Reduto): 19:30h
Paróquia São Lourenço
➡ Matriz São Lourenço: 07h, 14h, 17h, 19:30h
➡ Ponte do Silva: 17h
➡ São José, Santa Luzia: 19h
João Vitor Nunes