Encontro de capacitação sobre os riscos da mineração é realizado em Manhumirim
A atividade mineral vem crescendo aceleradamente nas últimas décadas no Brasil e trazendo consequências graves. Empresas mineradoras vêm cada vez mais se aproximando do território de Manhuaçu e região a fim de iniciar a exploração mineral. Para dialogar sobre o assunto, Manhumirim recebeu no dia 15 o encontro de capacitação sobre os riscos da mineração. Professores envolvidos em projetos de pesquisa e extensão relacionados ao assunto, bem como ex-funcionários de mineradoras discutiram com o público aspectos socioambientais, técnicos e humanos, a partir das duas tragédias ocorridas em Minas Gerais: Brumadinho e Mariana.
Em Manhuaçu e cidades ao entorno como, Caratinga, Simonésia, Santa Margarida, São João do Manhuaçu, Caputira, Pedra Bonita, Divino, Fervedouro, Orizânia, Sericita, Matipó, Luisburgo, Manhumirim, Alto Jequitibá e Caparaó, as susbstancias mais presentes no solo são a bauxita, o minério de alumínio, Gnaisse, Caulim, Quartzo e o Charnoquito.
A atividade mineradora consiste na extração de riquezas minerais dos solos e das formações rochosas que compõem a estrutura terrestre. Trata-se, assim, de uma das mais importantes atividades econômicas tanto no Brasil como em todo o mundo, com destaque para o petróleo e o carvão mineral. No entanto, é preciso ressaltar que essa prática costuma gerar sérios danos ao meio ambiente. Os impactos ambientais da mineração são diversos e apresentam-se em diversas escalas: desde problemas locais específicos até alterações biológicas, geomorfológicas, hídricas e atmosféricas de grandes proporções.
Portanto, conhecer esses problemas causados e a minimização de seus efeitos é de grande necessidade para garantir a preservação dos ambientes naturais, conforme explica o professor da Universidade Federal de Viçosa e um dos palestrantes, Jean Thales. “A mineração não se resume a uma atividade econômica como outra qualquer; ela incorre em riscos ambientais e humanos, e tem impactos sociais e ecológicos significativos. É importante que as pessoas tomem consciência disso para tentar reformular e repensar a presença da mineração e criar novas estratégias para romper com a dependência do estado com essa atividade”, disse. Jean Thales explica, ainda, que trazer os profissionais para debater com a sociedade, especialmente considerando a importância da mineração para Minas Gerais, é fundamental para que as pessoas compreendam a diversidade dos problemas envolvidos na atividade mineral.
O professor reitera que não há necessidade de citar cidades distantes que tiveram seu bioma afetado pela atividade mineral. “Itamaraty de Minas – próximo a Juiz de Fora e Muriaé, é um caso em que tivemos o então prefeito, na época da mineração, nos procurando para informar que a agricultura familiar havia sido afetada pela mineração. As águas do município e a capacidade produtiva do solo foram impactadas e o ex-prefeito nos solicitou que informássemos a população dos outros municípios que não deixassem a mineração chegar. Ele disse que a mineração destruiu, matou e causou miséria em Itamaraty de Minas. Além dessa cidade, existem outras, a exemplo de Itabira – que possui um dos maiores índices de problemas respiratórios e psicológicos do estado e detém um dos maiores índices de suicídios no Brasil”, informou.
Diego é um ex-trabalhador no ramo da mineração. Ele alerta sobre os riscos ambientais trazidos pelas mineradoras, como a remoção da vegetação em todas as áreas de extração; Poluição dos recursos hídricos (superficiais e subterrâneos) pelos produtos químicos utilizados na extração de minérios; Contaminação dos solos por elementos tóxicos; Proliferação de processos erosivos, sobretudo em minas antigas ou desativadas que não foram reparadas pelas empresas mineradoras; Sedimentação e poluição de rios pelo descarte indevido do material produzido não aproveitado (rochas, minerais e equipamentos danificados); Poluição do ar a partir da queima ao ar livre de mercúrio (muito utilizado na extração de vários tipos de minérios); Mortandade de peixes em áreas de rios poluídos pelos elementos químicos oriundos de minas; Evasão forçada de animais silvestres previamente existentes na área de extração mineral; Poluição sonora gerada em ambientes e cidades localizados no entorno das instalações, embora a legislação vigente limite a extração mineral em áreas urbanas atualmente.
“Apesar de ser considerada sinônimo de desenvolvimento socioeconômico, considerando-se que os minérios encontram-se em praticamente todos os bens de consumo, a atividade mineradora apresenta alto potencial de impactos ambientais. Como é o caso da poluição dos recursos hídricos e do solo, além da perda de biodiversidade tanto em relação à fauna quanto à flora.
Diego salienta que o desmatamento também é um grande problema ambiental, principalmente nas áreas do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais – localizado na porção centro-sul do estado de Minas Gerais e com extensão territorial de aproximadamente 7 mil quilômetros quadrados, o Quadrilátero Ferrífero é uma área vizinha a Belo Horizonte formada pelas cidades de Sabará, Rio Piracicaba, Congonhas, Casa Branca, Itaúna, Itabira, Nova Lima, Santa Bárbara, Mariana, Ouro Preto, entre outras. “Essa região é abrangida pelo bioma Mata Atlântica, e parte dos remanescentes das áreas de Mata Atlântica pertence às mineradoras. Nas áreas de exploração do ferro, a vegetação é removida para dar lugar à lavra a céu aberto, iniciando também outro impacto ambiental, a exposição dos solos, os quais perdem a sua fertilidade e ficam expostos a processos erosivos. O Ministério do Meio Ambiente também aponta problemas nas áreas de mineração de ferro como a presença de antigas barragens de contenção, que podem romper-se e provocar sérios danos ao local em que se encontram”.
Degradação
A mineração mais comum no Brasil é a lavra a céu aberto. A exploração de minério dessa forma requer desmatar uma determinada área e retirar o solo fértil (também chamado pelas mineradoras de solo estéril, pois possui baixo teor de minério). A área é “recortada” em blocos, que conferem à região uma paisagem repleta de “degraus”, modificando então toda a paisagem. Para realizar a mineração de lavra a céu aberto, a primeira etapa refere-se à retirada da cobertura vegetal. Diversas áreas são desmatadas, provocando possíveis alterações climáticas e causando prejuízos à fauna e à flora.
Contaminação dos recursos hídricos
A contaminação dos recursos hídricos pode ocorrer de três maneiras na mineração: Por meio do alto consumo de água para beneficiamento do minério; Por meio do rebaixamento do lençol freático durante a etapa de extração do minério, diminuindo o fluxo de água dos rios e impactando também a recarga dos aquíferos; Possível contaminação das águas por meio de rejeitos com concentração de substâncias tóxicas que são levadas até os recursos hídricos pelo escoamento superficial das águas ou através do solo, o qual, ao contaminar-se, pode também contaminar os recursos hídricos. As minerações de ferro, areia e granito, por exemplo, podem contaminar e poluir as águas pela lama gerada durante o processo de mineração. Essa lama precisa ser contida por barragens.
Poluição, contaminação e compactação do solo
Uma das etapas da mineração é a retirada do solo fértil e seu posterior recorte. Ao deixar o solo desnudo, pode haver perda de fertilidade e favorecimento da sua compactação. Ao longo da extração de minérios, os solos podem ser contaminados, como é o caso das minerações de chumbo e zinco, as quais possuem grande concentração de arsênio em seus rejeitos. Algumas áreas acabam tornando-se inutilizadas, visto que algumas substâncias podem permanecer por um longo tempo no solo.
Poluição sonora e alteração da qualidade do ar
O preparo das áreas para mineração dá-se, muitas vezes, por meio de explosões. Maciços rochosos muito compactados passam pelo processo de desmonte com o auxílio de explosivos, causando então ruídos que perturbam a biodiversidade e muitas vezes espantam animais de suas áreas. Outro problema é a alteração da qualidade do ar. Durante os processos de construção da infraestrutura necessária, bem como na fase de transporte dos minérios, há emissão de partículas sólidas e poluentes na atmosfera.
Redução da biodiversidade
O desmatamento, a poluição sonora, bem como a contaminação e poluição dos recursos hídricos e do solo provocam também a perda de biodiversidade. Muitos animais perdem seu habitat e acabam fugindo para outras áreas, bem como há perda de espécies de plantas na região devido à retirada da cobertura vegetal. Em algumas áreas de mineração, há o esgotamento total do recurso mineral extraído, o que as torna inutilizáveis.
Geração de resíduos e disposição inadequada de rejeitos
A produção de rejeitos (resíduos que sobram após o beneficiamento do minério valioso) não é um problema desde que esses sejam contidos ou remanejados para recuperação de áreas. Contudo, durante a fase de extração, se não realizada de maneira correta, esses resíduos podem alcançar os recursos hídricos, contaminando-os. Outro problema é o volume dos depósitos de rejeitos contidos por barragens, que, se não fiscalizadas, podem romper e ter esse volume transportado a áreas mais baixas, alcançando cursos d’água e poluindo o meio ambiente. O volume do depósito pode ser também um problema, quando em elevado nível, pois pode ser levado pelas águas das chuvas até outros recursos hídricos.
Impactos ambientais em Minas Gerais
Minas Gerais é um dos estados mais ricos em minérios no Brasil, representando cerca de 67% das reservas minerais do país. Segundo o Departamento Nacional de Produção de Minerais (DNPM), o estado é o maior produtor brasileiro de minérios, representando cerca de 47% da produção. A intensa atividade mineradora no estado vai de encontro a diversos problemas ambientais. A mineração também provoca contaminação dos cursos d’água na região e degradação do solo. De acordo com o relatório “Mineração e Meio Ambiente no Brasil”, elaborado para o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, os principais minérios encontrados em Minas Gerais associados a impactos ambientais são o ferro, o ouro e o calcário.
Nos últimos anos, Minas Gerais vivenciou dois grandes impactos sobre o meio ambiente por meio da mineração. No ano de 2015, houve o rompimento da barragem do Fundão, pertencente à mineradora Vale e controlada pela Samarco Mineração, na cidade de Mariana, o que provocou um dos maiores impactos ambientais do país. Em 2019, um novo rompimento de barragem, também da mineradora Vale, deixou a cidade de Brumadinho em Minas Gerais sob lama de rejeitos, causando destruição da cidade, centenas de mortes, perda de biodiversidade, poluição e contaminação dos recursos hídricos e do solo.
Danilo Alves