Os preços baixos e as perdas provocadas pelo clima fizeram de 2019 um ano difícil para a cafeicultura de Minas Gerais. Mesmo em um ano de baixa produção, devido à bienalidade negativa, os preços não reagiram como o esperado pelo setor e os cafeicultores, mais uma vez, acumularam prejuízos. A estimativa é de que a colheita do grão tenha alcançado 24,5 milhões de sacas no Estado, volume 26,5% menor que a safra anterior. Mesmo com o empenho das entidades representativas do café, em 2019, os projetos para a criação de políticas públicas para atender os cafeicultores e garantir renda não foram colocados em prática e continuam sendo um dos principais desafios para o próximo ano.
Para 2020, as estimativas são cautelosas. Apesar de esperar por um volume maior, em função da bienalidade positiva, alguns fatores como o comprometimento da capacidade de investimento dos produtores e das várias intempéries climáticas registradas – como geadas, granizo, falta de chuvas e altas temperaturas – vão comprometer o rendimento da safra. Por isso, a tendência é de que a produção de café fique acima de 2019, porém, abaixo da registrada em 2018, quando a produção também era de bienalidade positiva.
Para o gerente geral da unidade do Banco do Brasil Manhuaçu, Flávio Fernandes, foi um ano difícil para os produtores em função da pouca produção de café na região, mas a instituição bancária abriu uma possibilidade de prorrogação das dívidas e os produtores tem usado dessa prerrogativa. Segundo ele, existem produtores que não aderiram e preferiram fazer a liquidação da dívida por conta de possíveis cafés guardados de outras safras. Entretanto, para os produtores que necessitam renegociar os seus débitos, a unidade bancária continua com seu atendimento creditício para a cafeicultura regional. “Se determinado produtor quer plantar café ou mesmo reformar a lavoura nós temos linha de crédito a esses agricultores, da mesma forma de antes. E aquele produtor que tiver dificuldade em liquidar suas dívidas é possível fazer a prorrogação, sem problema algum”, salienta.
Para a safra de 2020, o gerente reitera que ela deverá ser grande devido ao ciclo bienal positivo e à entrada em produção de novas áreas de café. Flávio Fernandes alerta para alguns pontos de atenção: o desempenho das chuvas na região, a reação do preço do café nos últimos meses e a qualidade do produto que está granando bem. Tais fatores podem ser determinantes para que a principal fonte de renda da região obtenha resultados melhores se comparados a 2019.
De acordo com o presidente da Câmara do Café das Matas de Minas, Admar Soares, a safra de 2019 ficou mais baixa do que era esperado e o setor amargou prejuízos em Minas Gerais e demais regiões produtoras do País. “E sabendo da crise do setor, em maio, foram iniciadas negociações com o governo federal, para que fossem criadas medidas que reduzissem os prejuízos. “Em um primeiro momento buscamos diálogos e levamos ao conhecimento das autoridades sobre a safra ruim e, consequentemente, a situação financeira dos produtores. E após uma plenária realizada em Manhuaçu, demos o primeiro passo para buscar uma estabilidade para os cafeicultores, ao ser anunciada as três medidas emergências de renegociação que fomentasse um alívio financeiro aos cafeicultores”, disse.
Safra 2020
Os produtores de café do Brasil deverão colher um recorde de 66,7 milhões de sacas de 60 kg em 2020, ante 57,6 milhões previstas para 2019, de acordo com projeção do Rabobank divulgada durante evento promovido pela instituição.
Segundo o analista Guilherme Morya, a safra deverá ser impulsionada por novas áreas em produção, apesar de problemas climáticos. Em entrevista, ele disse que o cenário de preços é favorável para produtores do Brasil, devido a safras menores em outras partes do mundo.
O analista do Rabobank, devido ao déficit mundial de 3,2 milhões de sacas neste ano, acredita que os preços do café vão continuar subindo, atingido até US$ 1,22 por libra-peso no próximo ano.
Danilo Alves