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Alta do dólar tem impacto na economia brasileira

Na noite de segunda-feira, 25, uma declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, gerou pessimismo no mercado financeiro. “É bom se acostumar com juros mais baixos por um bom tempo e com o câmbio mais alto por um bom tempo”, afirmou o ministro, em entrevista em Washington, capital dos Estados Unidos. A reação veio rápida: o real fechou na terça-feira cotado a R$ 4,239. No dia, chegou a bater R$ 4,27, o maior valor nominal da história sobre o real. Mas, na memória econômica do brasileiro, o sobe-e-desce da moeda tende a preocupar. A inflação vai subir? Os juros vão aumentar? Como essa alta pode afetar os planos financeiros para o ano que vem?

Para o professor e vice-presidente de Relacionamento Institucional do Conselho Regional de Contabilidade de Minas Gerais (CRCMG), Oscar Lopes da Silva, os efeitos mais imediatos no bolso do consumidor tendem a ser no preço das viagens ao exterior — já que o câmbio influencia tanto nos gastos em dólar quanto no preço das passagens, e no preço dos combustíveis. “Mas se a alta persistir e se transformar em tendência permanente, os efeitos podem ser mais amplos, como, por exemplo, na inflação e nos custos para as empresas”, analisa.

O salário em real continua o mesmo, mas o câmbio para a moeda americana está aumentando o valor em moeda brasileira. Assim, está mais caro comprar dólar e comprar em dólar. Para o turista, também há o preço das passagens aéreas que são quantificadas em dólar e, que, portanto, estão ficando mais caras. Isso pode gerar mais viagens para dentro do nosso país, em vez de viagens para o exterior. Outra consequência que poderá ser vista em pouco tempo é o aumento de alguns preços, já que muitos componentes são importados e a moeda mais utilizada é o dólar americano. Assim, mesmo o consumidor comum começará a perceber aumento de preços em alguns setores da economia. E, dependendo de quanto o dólar subir, esse aumento de preços poderá se tornar generalizado, aumentando a inflação por aqui.

Essa inflação, que sempre começa afetando os produtos internacionais, importados, acaba também contaminando os produtos que, teoricamente não precisariam estar com seus valores baseados na moeda dos Estados Unidos. Isso é devido a muitos dos produtos serem comercializados em dólar para exportação, e, se eles são vendidos lá fora por um preço maior, o comerciante brasileiro acabará aumentando o preço por aqui para não ter desvantagem na venda. Desse modo, há um círculo vicioso que empurra todos os preços para cima, independentemente de ter peças ou componentes dolarizados.

“É imprevisível cravar quanto tempo essa alta do dólar vai durar, porque a escalada da moeda americana responde a uma série de fatores internos e externos. Mas, um sinal de alerta que aparece é o risco de alta da inflação. Como atualmente a nossa taxa está muito baixa, o impacto deve ser menor. O preço da gasolina, por exemplo, pode pressionar o resultado da inflação pontualmente. O problema é caso a alta no câmbio persista. “Hoje esse efeito é pequeno, porque você está com a economia mais parada e as empresas não repassam o aumento do custo das matérias-primas para o preço final. Se a economia retoma, aí pode ter um problema de efeito de câmbio na inflação”, alerta Oscar Lopes.

De acordo com o professor e contador é preciso estar atento ao comportamento do Banco Central, que está promovendo leilões da moeda americana para controlar o câmbio, e a conjuntura econômica. “Se o dólar ficar em patamar elevado por muito tempo, mesmo que tenha um nível de atividade mais baixo, pode bater na inflação e aí vai influenciar”, explica. Esse é um ponto que afeta principalmente as empresas que possuem dívidas em dólar, mas geram receitas em real. “Para empresas, um fator muito importante é o endividamento em dólar. É uma questão chave e que pode afetá-las muito negativamente. Vão ter que gerar mais receita para cumprir os compromissos”, pondera.

Até quando?
“A oscilação não é boa para ninguém. Só serve para dificultar as projeções”, diz o professor, ilustrando como até para quem estuda muito o tema é difícil prever o futuro do câmbio diante de tanta oscilação. Para ele, o dólar deve se manter acima dos R$ 4,00 pelo menos até o primeiro semestre de 2020. Na análise de Oscar Lopes, o aumento na velocidade dos cortes na taxa de juros acabou afastando investidores estrangeiros, afinal, a taxa fica cada vez mais próxima dos juros americanos que, apesar de darem retorno menor, são mais seguros. “A queda da diferença entre as taxas de juros internas e externas é um dos motivos. Reduziram-se em muito os atrativos para que haja um fluxo de dólares para o mercado brasileiro. O Banco Central acelerou o ciclo de cortes dos juros básicos, trazendo-os a inéditos 5% ao ano e com perspectiva de chegarmos em 4,5% nos próximos meses.”

Nas projeções do boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central com análises de economistas para os principais indicadores, a moeda americana fechará o ano de 2019 cotada a R$ 4,10 — a projeção era de R$ 4 na semana passada. Para o fechamento de 2020, a previsão é de R$ 4 por dólar.
Em relatório divulgado nesta semana, a consultoria LCA afirmou que “cresceu a chance de que, em breve, passemos a projetar, nesse nosso cenário base, dólar e Selic um pouco mais altos do que ora projetamos. E cabe alertar que aumentaram os riscos de um quadro frustrante no ano que vem, com elevação de incertezas políticas e sociais ameaçando o andamento da agenda econômica”.

Danilo Alves

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