DestaquePolitica

Em visita a Manhuaçu, Ciro Gomes conversa com Jornal Tribuna do Leste

Ciro Gomes (PDT) participou de um debate em Manhuaçu, na manhã desta terça-feira, 15. O ex-ministro e ex-candidato à presidência em 2018, ministrou palestra para cerca de 900 pessoas – entre alunos, professores, lideranças, convidados e população em geral de vários municípios da região. Durante a palestra, abordou temas como o atual cenário político nacional e a situação econômica do país. Citou que a presidência da República não é lugar para estagiários e mencionou o aumento da dívida pública, explicando formas de quitar e como fez enquanto governador do Ceará.

O ex-ministro conversou com exclusividade com a reportagem do Jornal Tribuna do Leste e explicou o motivo da visita à cidade. “Manhuaçu é o Brasil. O Brasil profundo, o Brasil que trabalha, que produz, que tenta criar as famílias dentro de um padrão de decência, de comportamento, com grande sacrifício. É o Brasil decepcionado com a política, chocado com os privilégios, com a ‘ladroeira’, mas que ainda acorda cedo e vai à luta. E isso é o Brasil que eu quero para todos” afirma.

Ciro reforça que tem vindo à Minas Gerais uma vez por mês porque considera o estado um “centro estratégico do equilíbrio que falta hoje ao país”. Ele ainda citou a crise que assola o estado e a dificuldade do governo mineiro em acertar os salários com funcionários públicos. “O Brasil fica com a política desequilibrada numa direção só. Como venho de um estado relativamente pequeno, o Ceará, quel tem apenas 4% da população brasileira, eu tenho que circular pelo país, como brasileiro que sou, ajudando o povo a compreender o que está acontecendo e propondo as saídas para este grave problema social e econômico da nossa
gente”, explica.

Perguntado sobre o momento difícil que vive o agronegócio regional, Ciro Gomes reforça a necessidade de um projeto nacional. “Há uma crença ideológica estúpida de que esses assuntos relacionados à economia não são assuntos do governo, são assuntos da iniciativa privada, que é uma ideia completamente ilusória. Nenhum país do mundo faz a sua economia sem um apoio do setor público. E no caso do café você não tem no Brasil uma política agrícola consistente, por exemplo, metade dos custos de produção, em média, são importados do estrangeiro, sobe a taxa de câmbio, sobe os custos de produzir o café, e as pessoas não têm tido o direito de saber disso, porque o Brasil cometeu a imprudência de deixar que os estrangeiros dominassem metade desses custos da agricultura tropical mais forte do mundo. E isso não aconteceu por acaso, isso é um modelo de economia política que está devastando o nosso país”, afirma o presidenciável.

Ciro Gomes seguiu reafirmando a importância de uma influência governamental na política no processo produtivo. “O governo se demitiu da política de preços. Neste momento, o preço do café está muito deprimido. Então você aumenta seus custos para melhorar a qualidade do café. Em Minas Gerais é produzido um dos melhores cafés do mundo, mas este investimento não se remunera, pois, o café é pago no peso de uma saca, pouco importa se seja um café extraordinário – a exemplos dos produtos de Manhuaçu, e as pessoas acabam não tendo estímulo. Depois há todo um custo de logística, BR-116 por um caminho, BR-262 por outro, uma hora de trânsito para você entrar em Manhuaçu, imagina sair com um caminhão para um porto no Espírito Santo, gastando muito mais em frete e em tempo. Ainda tem um problema de financiamento, o crédito no Brasil é bancado pelo setor público. Em Manhuaçu, se desconta uma duplicata a 1,75% de juros ao mês, isso dá 42% de juros ao ano, nenhuma atividade rural, aliás, nenhuma atividade da economia real, remunera 42%. Por isso que o Brasil está trincando, nós precisamos restaurar a compreensão de que o que funciona é uma boa parceria entre um governo forte, planejador, coordenador, parceiro de uma iniciativa privada forte e trazendo o pensamento universitário, acadêmico, para produzir as respostas técnico-científicas para que a gente não precise da inteligência dos outros”, detalha.

A palestra realizada foi direcionada a estudantes de direito. Ciro reforça a importância da mobilização dos jovens. “Eu quero falar com todo o Brasil, mas precisamos ter clareza e humildade. O nosso povo está muito descrente da política, e com razão. Não é pouca coisa o que aconteceu. O desemprego entre os jovens é grande e o comprometimento do futuro da nação é em cima deles. Existe a falta de uma condição de financiamento, um estimulante para inovação. Mas os jovens são a semente revolucionária e possuem a energia e a boa vontade para deixar todos os maus exemplos de lado, seja de roubalheira e privilégio. Nada sério acontece no prazo de uma vida, é preciso ter 20, 30 anos de políticas conscientes. E esse é o outro lado da minha conversa com o jovem, não basta ter a ideia, é preciso dar exemplo, só o exemplo é que emancipa, porque conversa afiada todo político é capaz de ter”, encerra o ex-ministro.

João Vitor Nunes

Comentários

Mostrar mais

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo