Reflexão: Jovens, desemprego, escolaridade, experiência, informalidade e a Previdência
Pe. Mundinho
Num país em que a taxa de desemprego subiu para 12,7% no 1º trimestre de 2019, atingindo cerca de 13,4 milhões de brasileiros, conseguir um primeiro trabalho formal é um desafio hercúleo para jovens de 18 a 24 anos. Fatores preponderantes como experiência, escolaridade, a distância (morar perto do emprego) e o preconceito dos possíveis empregadores são as maiores barreiras a serem superadas. A situação piora quando o endereço no currículo indica um bairro periférico.
A subutilização de brasileiros de 18 a 24 anos é sempre maior no mercado de trabalho, mas em momentos de crise essa tendência se agrava porque os jovens têm menos experiências e baixa qualificação. Portanto, são os mais vulneráveis aos momentos de crise.
Em números absolutos, são 7,337 milhões de jovens brasileiros subutilizados, o maior número já registrado desde que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (Pnad) começou a ser apurada em 2012 – destes, 4,26 milhões estavam desempregados, em busca de uma colocação, levando a uma taxa de desemprego entre esse grupo de 27,3%. Entre 2012 e o primeiro trimestre de ano, a fatia de subocupados na economia brasileira passou de 20,9% para 25%, enquanto entre os jovens de 18 a 24 anos o aumento foi de 30,1% para 41,8%.
Taxa de desemprego por nível de instrução
Quem sofre mais com o alto desemprego são os trabalhadores de menor nível educacional. É certo que um jovem com pós-graduação encontra-se mais qualificado e terá maiores possibilidades de abocanhar uma vaga no emprego, ainda que seja remunerado com um salário mais baixo, mas o poder de barganha é maior. Para quem não possui qualificação, o sofrimento é maior – quem saiu do ensino médio sem formação técnica ou sem uma qualificação específica encontrará maior dificuldade.
O desemprego gera efeitos maléficos para as duas pontas: desemprego para quem tem pouca qualificação, e subemprego para quem é qualificado.
Formada em gestão pública, Nathalia Regis, de Brasília, acabou indo trabalhar num escritório de franquias, ganhando muito menos do que esperava – até ficar desempregada. O marido dela, Victor, professor de inglês aceitou uma vaga numa clínica veterinária.
Experiência
As exigências cresceram. Para o setor de vendas, na maioria dos lugares, por exemplo, se exige alguma experiência. Para o jovem que nunca trabalhou formalmente é uma barreira enorme.
Muita gente disponível com qualificação não consegue a vaga, pois dão preferência para a pessoa de 30 anos que tem mais a oferecer em termos de experiência e formação que para um jovem de 18 anos sem formação nem experiência. Quem mora na periferia com uma formação que não é ideal vai ter que se sujeitar a trabalhos de qualidade muito ruim e salários muito baixos.
Geração da informalidade
Quando não se encontra emprego se apela para a informalidade. Encontramos na realidade brasileira, em todos os estados da União, milhares de jovens tentando a ganhar vida na informalidade. Jovens que vendem produtos sem nota ou sem estar autorizado pelos órgãos competentes. Desejosos de trabalhar, recusados pelo mercado, eles procuram alternativas, ainda que seja na informalidade ou na ilegalidade para ter a sua renda. Apelam para os famosos “bicos”, com horas de trabalho exaustivas para receber menos de um salário mínimo. Sem o registro na carteira a prioridade é aceitar o que vier.
Piora na Previdência
A consequência mediata é a queda na contribuição para o sistema previdenciário. Com menos jovens entrando no mercado é certo a elevação do prejuízo ao sistema já deficitário.
Levantamento da consultoria iDados mostra que houve uma queda considerável na proporção de jovens que contribuem para a Previdência Social nos últimos anos. Em 2012, 36,5% dessa população participava do sistema; no final de 2018, essa fatia havia caído para 28,5%.
O atual modelo de previdência brasileiro é contributivo – ou seja, os trabalhadores da ativa pagam os benefícios dos aposentados. Com menos jovens entrando no sistema e mais brasileiros se aposentando, o desequilíbrio nas contas tende a aumentar, comprometendo cada vez mais a capacidade da Previdência Social que, em 2018, teve um rombo recorde de R$ 290,2 bilhões.
“O cenário econômico demora para melhorar. Daqui a alguns anos o mercado voltará a ser atrativo, não como era nos anos 2000, mas esse jovem vai encontrar um mercado um pouco melhor. Só que isso demora, não é para agora”, acredita Juliana, do Insper.
“Se esse jovem aproveitar agora para se qualificar, aprender línguas e lidar com a tecnologia ele estará mais preparado para a nova onda que virá. Mas nós vamos dar uma tropeçada num presente que não gostaríamos que tivéssemos hoje”, conclui.
Efeitos para o futuro
Segundo os economistas o quadro para o futuro é bastante preocupante. Os jovens desempregados de hoje não vão ter qualificação e experiência suficientes para entrar no mercado de trabalho se a economia voltar a crescer. “O Brasil não está dando oportunidade para uma mão de obra da qual ela vai depender no futuro”, afirma o economista Cosmo Donato, da consultoria LCA.
Nosso desejo, como cidadãos conscientes é ver o Brasil crescer. Não nos conformamos com esta realidade cruel onde uma multidão desejosa e necessitada de trabalhar não encontra vaga no mercado.
Disseram os bispos, em assembleia em Aparecida-SP, no mês de maio, na “Mensagem ao povo brasileiro’:
“O Brasil que queremos emergirá do comprometimento de todos os brasileiros com os valores que têm o Evangelho como fonte da vida, da justiça e do amor. Queremos uma sociedade cujo desenvolvimento promova a democracia, preze conjuntamente a liberdade e a igualdade, respeite as diferenças, incentive a participação dos jovens, valorize os idosos, ame e sirva os pobres e excluídos, acolha os migrantes, promova e defenda a vida em todas as suas formas e expressões, incluído o respeito à natureza, na perspectiva de uma ecologia humana e integral.”
Fonte IBGE,CNBB, G1, 21/06/2019