DestaquePe. José Raimundo (Mundinho)

Reflexão: A euforia do progresso

Nos anos 60 o mundo vivia uma euforia do progresso, fruto do desenvolvimento tecnológico-industrial, a qual prometia bem-estar generalizado e paz política em nível mundial. Promessas e expectativas que giravam em torno dos dois blocos, Ocidente e Oriente, embora em clima da chamada Guerra Fria, sinalizavam sinais de descongelamento. A democracia era acentuada pelas forças políticas, com leve colorido socialista. Completava-se a descolonização na Ásia e na África. Sonhava-se com um mundo baseado na força do trabalho justamente remunerado com aprimoradas leis trabalhistas, com eficientes políticas e instituições sociais.

Porém, foi em vão a esperança de felicidade próxima. Ainda nesta euforia acontecia a Guerra do Vietnã. Morriam soldados e nativos, famílias enlutadas e desfeitas pela ausência dos que partiam para a guerra e não mais retornavam. Os jovens gritavam, faziam passeatas, movimentos e protestos. Os hippies à frente de um grito sufocado de um progresso anunciado e nunca realizado. O ser humano permanecia triste e inerte… A felicidade não acontecera como previsto.

Pontos de vista
No século XIX, na revolução proletária, o filósofo Karl Marx afirmou que o progresso se daria pelo estabelecimento de uma política pensada cientificamente. A política econômica seria a solução – uma vez colocada em ordem a economia, tudo se arranjaria. Mas, não deu certo! Ele achou que Deus atrapalhava! O materialismo não solucionou! O homem, de fato, não é só o produto das condições econômicas favoráveis.

Mais tarde, nos anos 60, Adorno, outro filósofo, da Escola de Frankfurt, formulou sua crítica à fé no progresso. O progresso, ao mesmo tempo que abre perspectivas para o bem, abre também para o mal, possibilidades que antes não existiam. O progresso em mãos errada pode tornar-se, e tornou-se, um progresso terrível para o mal. “Se o progresso técnico não corresponde a um progresso na formação ética do homem, no crescimento do homem interior, então aquele não é um progresso, mas uma ameaça para o homem e para o mundo“.

A visão da Igreja
A Igreja defende que sem Deus, o progresso não acontece. Na palavra do Papa Bento XVI, ao final da encíclica “Salvi Spe” (2007 sobre a esperança cristã), conclui que o homem tem necessidade de Deus; do contrário fica privado da esperança. O reino de Deus realizado sem Deus, o reino do homem, leva inevitavelmente ao fim perverso de todas as coisas.

“Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruina?” (Lc 9,25). “O progresso terreno é diverso da propagação do Reino de Cristo, mas ao mesmo tempo, intimamente relacionados. Na medida em que o progresso humano reflete na organização da sociedade a defesa dos valores da dignidade humana, da comunidade fraterna e da liberdade, cresce em nosso meio o “reino de verdade e vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz” (Prefácio da Festa de Cristo Rei). Dom Edney Gouvêa Mattoso (Bispo de Nova Friburgo (RJ)

Na 57ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em Aparecida (01 a 10/05/2019), os bispos expressaram como essencial “uma sociedade cujo desenvolvimento promova a democracia, preze conjuntamente a liberdade e a igualdade, respeite as diferenças, incentive a participação dos jovens, valorize os idosos, ame e sirva os pobres e excluídos, acolha os migrantes, promova e defenda a vida em todas as suas formas e expressões, incluído o respeito à natureza, na perspectiva de uma ecologia humana e integral”.

A grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir.

Pe. Mundinho, sdn

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