DestaqueReligião

Impressões e cenários de uma assembleia (25ª Assembleia Geral eletiva da Conferência dos Religiosos do Brasil)

Na semana de 10 a 14 de julho, enquanto os deputados votavam, na Câmara Federal, a Reforma da Previdência, aprovando a proposta governamental, com sérios efeitos desastrosos para o cidadão brasileiro, mais de quatro centenas de religiosas e religiosos realizavam sua 25ª Assembleia Geral Eletiva, com a confirmação de seu compromisso de luta pelos brasileiros, sobretudo os mais pobres, nas várias atividades pastorais e de serviços, em todos os cantos do país.

Dois cenários! Dois grupos que se identificam a favor do povo! O primeiro, cercado de grande demagogia, mas comprovadamente, desconhecem o bem comum. Movidos por interesses outros, na contramão dos direitos adquiridos, movidos pelo jogo político, não se envergonham de votar contra o povo. O segundo grupo, de consagradas e consagrados, em ricos e emocionadas testemunhos, demonstram o compromisso com o povo, sobretudo os pobres, sendo, muita vezes, a voz dos que não têm vez na sociedade.

Depois de um processo (democrático), sem lobbys e jogadas, as consagradas e consagrados, elegeram a diretoria de uma instituição, que tem por objetivo animar seus membros a continuarem sua missão de serviço ao povo de Deus, antenados com a realidade do país, usando de todos os meios possíveis para demarcar os direitos e dignidade humana em todos os ambientes.

A Vida Religiosa Consagrada no Brasil, segundo Ir. Maria Inês Vieira Ribeiro, mad (reeleita ao cargo) deve ser marcada pela atitude de corajosa ruptura profética. É necessário assumir a missão consciente dos desafios de uma realidade que nem sempre privilegia os mais pobres. A Igreja “em saída” é a motivação, segundo os moldes do Papa Francisco, para a atuação também juntos àqueles e àquelas que mais necessitam e que, muitas vezes estão fora do círculo eclesial.

Eles e elas são também e, sobretudo razão da dedicação missionária que levam homens e mulheres às várias realidades carentes no Brasil e fora. A CRB mantém frente missionária (comunidade intercongregacional) no Continente Africano, no Moçambique (Pemba), na América Latina, no Haiti. Além de assumir áreas missionárias, sob sua responsabilidade, a Conferência estimula e anima iniciativas das congregações na prestação deste serviço.

Em uma das celebrações, na Assembleia, foi feito o envio de missionárias para Moçambique, na África e para o Timor Leste, na Ásia.

Conjuntura da Crise

Movidas(os) pela missão, conscientes de que Deus quer realizar a libertação do seu povo, a Assembleia iniciou-se ouvindo a abordagem da Conjuntura Sócio-Político-Econômico apresentada pela Dra. Maria Lúcia Fattorelli da Auditoria Cidadã da Dívida Pública.

Ela discorreu sobre a Conjuntura da Crise. Afirmou que a “crise” tem servido de justificativa para a PEC 95, Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência, Privatizações, independência do Banco Central, esquema de “Securitização de Créditos Públicos, etc. Na sua análise, a crise foi “fabricada”, pois a crise em um país, geralmente, é gerada pela quebra dos bancos ou por doença na população ou pela quebra de safra ou pela guerra. Não tivemos aqui NENHUM dos fatores que produzem crise.

O que explica a falência de inúmeras empresas de todos os ramos, o desemprego recorde, a queda de 7% do PIB em apenas 2 anos? Uma vez que o Brasil é a 9ª maior economia do mundo, possui imensas riquezas e potencialidades e cerca de R$ 4 trilhões líquidos!

A Dívida Pública

O que fez a Dívida Pública explodir não foram os investimentos e gastos sociais, pois o país produziu um imenso Superávit Primário! A Dívida Pública tem sido gerada por mecanismos de política monetária do Banco Central, responsável por déficit nominal brutal.

Ao final se pergunta: Qual é a saída? Primeiro, o conhecimento da realidade da política monetária, do modelo tributário, do sistema da Dívida. Segundo, promover a mobilização social consciente com ações concretas: rejeição da Pec 6/2019, revogação da Pec 95/2019, reforma da Política Monetária praticada pelo Banco Central, Reforma Tributária justa e solidária.

Em uma palavra, repúdio ao esquema vigente onde se perpetua um modelo econômico concentrador de renda e riqueza, que sustenta uma política monetária suicida com um modelo tributário regressivo e um modelo extrativista irresponsável para com as pessoas e o ambiente.

CLAR

Presente na Assembleia a Presidente da Conferência Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR), Ir. Gloria Liliana Franco Echeverri, odn, proferiu palestra, inspirada no Horizonte da instituição para o triênio 2018-2021, onde acentuou que a Vida Religiosa Consagrada, imersa na espessura da “noite” (crise que assola os países do continente latino-americano e caribenho), pode expressar-se em toda sua beleza, sua plenitude e sua autenticidade.

Hoje, mais frágil e menor, ferida e limitada, com menos trincheiras e seguranças, mas mais apta para pousar o coração no fundamental, na humilde ousadia de recriar-se no Deus que renova todas as coisas.

Inspirada no Papa Francisco, apontou que a vida consagrada está chamada a buscar uma sincera sinergia entre todas as vocações na Igreja, clérigos e leigos, a fomentar a espiritualidade da comunhão, primeiro em seu interior e, depois, na própria comunidade eclesial e além de seus confins.

“Como Vida Religiosa Consagrada Latino-americana e Caribenha, renovamos a opção pelas/os excluídas/os de nosso tempo, manifestando que queremos caminhar com elas/es, fazendo nossas as feridas…

das pessoas mais vulneráveis e todas as vítimas das escravidões modernas;
das mulheres marginalizadas e excluídas;
da vida dos jovens nesta hora histórica;
dos idosos;

das culturas afro e indígenas, com especial atenção a realidade amazônica;
das pessoas migrantes, deslocadas e refugiadas;
das vítimas do tráfico e abuso;

das pessoas com diversidade de gênero.
Recuperar a centralidade evangélica, viver com radicalidade e renovado entusiasmo nossa consagração para ser testemunhas autênticas no  seguimento de Jesus.

Humanizar os processos comunitários e a formação de maneira intergeracional, procurando que as Novas Gerações desenvolvam sua vitalidade e ofereçam seu dom, para ser profecia de alegria e esperança.

Assumir a formação como dinâmica permanente, que nos dispõe para viver integralmente em condição de testemunhas, com consciência da vocação mística, profética e missionária da Vida Religiosa Consagrada.

Continuar buscando uma nova forma de ser e realizar a missão em comunhão com os leigos, tornando-nos com eles família carismática.

Acompanhar a vida das famílias em seu compromisso e missão educadora para que cultivem em seu interior, valores, sonhos, experiências sociais e espirituais que potencializem as relações em todas as direções.”

Horizonte e Prioridades

Com esta e outras exposições, com testemunhos marcantes, celebrações inspiradas, os 400 Superiores e Superioras das Congregações Religiosas traçaram o Horizonte e elegeram as Prioridades para o triênio 2019-2022.

O Horizonte

Nós, consagradas e consagrados em missão, movidos por uma mística profético-sapiencial e articulados institucionalmente, procuramos estar presentes onde a vida está ameaçada, responder aos desafios de cada tempo, tecendo relações humanizadoras e interculturais, ouvindo o clamor dos pobres e da terra, para que o vinho novo do Reino anime a festa da vida.

As 4 Prioridades

Cultivar a mística profético-sapiencial;
Ouvir ao clamor dos pobres e da terra;

Fomentar a intercongregacionalidade, a interculturalidade e a partilha dos carismas com leigas/os Promover relações humanizadoras e atenção diferenciada à cada geração na VRC;
Promover relações humanizadoras e atenção diferenciada à cada geração na VRC.

* Além do Horizonte e das Prioridades, foram propostas linhas de ação para cada Prioridade.

Eleição

O processo eletivo da 25ªAGE da CRB com o tema “Consagradas e consagrados em missão” sob o lema “Fazei tudo o que ele nos disser” (Jo 2,5), reconduziu ao cargo de presidente para o triênio 2019-2022, a Ir. Maria Inês Vieira Ribeiro, mad, religiosa da Congregação das Mensageiras do Amor Divino.

Irmã Maria Inês foi eleita, em 2013, vice-presidente da CRB. Em junho de 2014, assumiu o cargo de presidente como substituta do irmão Paulo Petry, que fora eleito conselheiro geral para a Região Latino-americana e Caribenha da Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs (Lassalistas).

Foram eleitos para a Diretoria: Ir. Olavo José Dalvit, Fsc, Pe. Nivaldo Luiz Pessinatti, sdb, Pe. Antônio Ramos de Moura Neto, osj, Ir. Eliene Oliveira Barros, rbp, Ir. Ana Teresa Pinto, FMA Ir. Maria José Barbosa dos Santos, BDP. Para o Conselho Fiscal foram eleitos: Ir. Jardelino Menegat, FSC, Pe. João Geraldo Kolling, sj, Ir. Maria Soledade Santos Freire, RSSS, Ir. Verônica da Silva Maciel, CFA E Ir. Hélia Inácia Monteiro, FMA.

“Nossa inserção, para amparar os pobres e os pequenos,
como Igreja, como cristãos é ainda maior”,
Logo após sua eleição, a presidente, Ir. Maria Inês mencionou que, nesta nova gestão, vai dedicar-se mais à questão da Amazônia e à identidade dos presbíteros religiosos para que “tenhamos uma vida consagrada, masculina e feminina, de acordo com o Espírito de Jesus”.

Segundo ela, outra coisa que está muito no “meu coração” é a questão do abuso sexual na Igreja, o abuso de menores, o tráfico humano e a questão das políticas públicas, a nossa inserção, para que possamos amparar os pobres e os pequenos, dado que, como já vimos na aprovação da Previdência, nosso trabalho como Igreja, como cristãos é ainda maior”, disse.

Pe. Mundinho, sdn

Comentários

Mostrar mais

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo