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Quaresma e Campanha da Fraternidade: tempo de conversão

Em 1961 três Sacerdotes que atuavam junto à Caritas Brasileira decidiram promover uma campanha para arrecadação de fundos para as atividades assistenciais da Igreja local. Essa atividade foi chamada de Campanha da Fraternidade. No contexto da Quaresma de 1962, foi a ocasião em que se deu pela primeira vez a experiência da Campanha da Fraternidade, na cidade de Natal, estado do Rio Grande do Norte, através de iniciativa do Cardeal Eugenio de Araújo Sales. A partir deste momento, a Campanha foi assumindo, dentro do contexto de conversão quaresmal, todas as demais dioceses do Brasil.

A cada ano temos um assunto a ser aprofundado. Neste ano, o tema que nos é proposto pela Igreja no Brasil nos faz refletir sobre Políticas Públicas, e a necessidade de iniciativas que promovam a dignidade humana no Brasil. O tema “Fraternidade e Políticas Públicas” dá continuidade ao do ano passado, sobre a Paz. O lema nos inspira na Sagrada Escritura e nos posiciona com os olhos no futuro: “Serás libertado pelo direito e pela justiça”.

Irmão Denílson Mariano

Irmão Denilson Mariano, Missionário Sacramentino de Nossa Senhora destaca, primeiramente, o sentido deste Tempo Quaresmal. Segundo ele, a Quaresma é o tempo que precede e dispõe à celebração da Páscoa. Tempo de escuta da Palavra de Deus e de conversão, de preparação e de memória do Batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, de recurso mais frequente às “armas da penitência cristã”: a oração, o jejum e a esmola. O sacerdote reitera que a Quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Este caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao homem velho que atua em nós. Trata-se de romper com o pecado que habita em nossos corações, nos afastar de todo aquilo que nos separa do Plano de Deus, e, por conseguinte, de nossa felicidade e realização pessoal. “A Quaresma é um dos quatro tempos fortes do ano litúrgico e isso deve ver-se refletido com intensidade em cada um dos detalhes de sua celebração. Quanto mais forem acentuadas suas particularidades, mais frutuosamente poderemos viver toda sua riqueza espiritual. Por isso, quem busca uma verdadeira conversão deve aprender a viver como irmão. A tratar o outro, mesmo que não seja da sua família como seu semelhante. Por outro lado, quem tem dificuldade com a fraternidade tem dificuldade com a conversão e, por isso, não faz sentindo uma Quaresma sem Fraternidade, pois é o mesmo que Jesus sem os Evangelhos. Converter-se é direcionar-se a Jesus Cristo e aderir aos seus ensinamentos. Os ensinamentos de Cristo têm por objetivo mudar o coração das pessoas, seu modo de pensar, de agir. Junto com a mudança das pessoas, é preciso mudar as estruturas da sociedade para que elas favoreçam a vida em abundância para todas as pessoas. O cristão vive no mundo e nele é sal e luz. Isto é, o cristão é alguém que abraça o mundo, como Jesus o fez, não para condená-lo, mas para salvar o mundo. É só abrirmos os olhos e percebemos que no mundo existem tantas coisas que podem e devem ser melhores”, destaca.

Campanha da Fraternidade
A metodologia da Campanha da Fraternidade (CF) – que vai até o próximo domingo, 21, dia em que se celebra a Páscoa de Jesus Cristo, abre caminhos para compreender e contextualizar de modo privilegiado, no hoje de nossa caminhada, o alcance da oração, do jejum e da esmola como um programa de volta ao Deus da vida. Na oração, a abertura a ele como absoluto e a certeza de sua presença em nossa vida. No jejum, a superação do supérfluo cuidando para viver do essencial. Na esmola – partilha, o encontro com o outro para doar-se, mais do que dar alguma coisa. É assim que podemos compreender todo o sentido da Quaresma como um tempo favorável para que os cristãos saiam da própria alienação existencial.

Na Campanha a Igreja Católica busca chamar a atenção dos cristãos para o tema das políticas públicas, ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos que são previstos na Constituição Federal e em outras leis.

Todos os anos, a CNBB apresenta a CF como caminho de conversão quaresmal. É uma atividade ampla de evangelização que pretende ajudar os cristãos e pessoas de boa vontade a vivenciarem a fraternidade em compromissos concretos, provocando, ao mesmo tempo, a renovação da vida da Igreja e a transformação da sociedade, a partir de temas específicos. Em 2019, a Conferência convida todos a percorrer o caminho da participação na formulação, avaliação e controle social das políticas públicas em todos os níveis como forma de melhorar a qualidade dos serviços prestados ao povo brasileiro.

E buscando compreender a proposta da Campanha da Fraternidade, Irmão Denilson Mariano, salienta que as Políticas Públicas são ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos que são previstos na Constituição Federal e em outras leis. “Reportando-nos a Constituição Federal, nossa Carta Magna de 1988, encontraremos no Capítulo 2º, artigos 6º e 7º, os Direitos Sociais a serem preservados. Entre eles, destacamos as necessidades vitais básicas de uma família: moradia, salário mínimo fixado em lei, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte, segurança, previdência social. Portanto, tudo o que tem a ver com o cotidiano das pessoas e de toda a população”.

Segundo o Missionário Sacramentino de Nossa Senhora as Políticas Públicas implicam também na “relação entre as instituições e os diversos atores, sejam individuais ou coletivos (consumidores, empresários, trabalhadores, corporações, centrais sindicais, mídia, entidades do terceiro setor), envolvidos na solução de um determinado problema. “Em se tratando de tais políticas, todos somos corresponsáveis. O que está em questão não são interesses particulares, mas o bem de todos, e isto é uma exigência da nossa fé. Nesse sentido, a Campanha da Fraternidade está sempre interpelando a sociedade, pois dela, a Igreja participa. É preciso superar a dualidade no campo da fé e da política porque, fraternidade e Políticas Públicas fazem parte da vocação humana e devem nortear as ações dos homens e das mulheres que na política defendem a dignidade humana. Como reza a Campanha da Fraternidade, cresça em nós a caridade sincera e o amor fraterno; a honestidade e o direito resplandeçam em nossa sociedade e sejamos verdadeiros cidadãos do novo céu e da nova terra”.

Jornada Mundial do Pobre
O Texto-Base da CF define Políticas Públicas como “ações e programas que são desenvolvidos pelo estado para garantir e colocar em prática, direitos que são previstos na Constituição Federal e em outras leis”. Como sempre a Campanha da Fraternidade usa a metodologia “Ver, Julgar e Agir” depois tirando algumas conclusões. Na parte da metodologia titulada “Ver”, o Texto-Base, entre outras coisas afirma que: “A Constituição de 1988 possibilitou a participação direta da sociedade na elaboração e implementação de Políticas Públicas através dos conselhos deliberativos, que foram propostos por leis complementares em quatro áreas: Criança e Adolescente; b) Saúde; c) Assistência Social e d) Educação.

O “Julgar” é subdividido em três partes: referências no Antigo Testamento, referências no Novo Testamento, e a contribuição da Doutrina Social da Igreja para Políticas Públicas hoje. A parte tratada no “Agir” é trata da superação da dualidade no campo da fé e da política. Explica como deve ser a participação da sociedade e os valores fundamentais em Políticas Públicas. Neste setor há um capítulo titulado “Educar para o humanismo solidário”. A Campanha recorda aqui a Carta Encíclica “Populorum Progressio” do papa São Paulo VI e uma famosa frase “ninguém pode, a priori, sentir-se seguro em um mundo em que há sofrimento e miséria”. Neste setor, trata-se das palavras do Papa Francisco que propôs a toda Igreja a Jornada Mundial do Pobre para que as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais um sinal concreto do amor de Cristo pelos últimos e os mais pobres.

E a Jornada Mundial do Pobre (JMP-2019) ocorrerá em 17 de novembro, o 33º. Domingo do Tempo Comum. O desejo é que, na semana anterior ao Dia Mundial dos Pobres, sejam realizadas ações concretas envolvendo os pobres. Por exemplo: visitas e realizações de atividades em orfanatos, asilos, presídios e hospitais; oração do terço com intenções específicas às pessoas empobrecidas; reflexões sobre as questões sociais relacionadas às desigualdades sociais etc. “Animemos em nossas igrejas, comunidades, pastorais, ruas e locais onde se encontram as pessoas empobrecidas, gestos concretos de solidariedade e acolhida com as pessoas em situação de vulnerabilidades extremas. Vamos expressar nossa capacidade de ser uma comunidade humana solidária, acolhedora, amorosa, e cuidadora de toda a Criação. Vamos juntar a comunidade humana que acredita na força transformadora da solidariedade e mobilizar as comunidades, grupo, pastoral ou coletivo para organizar a Jornada Mundial dos Pobres, em prol dos mais necessitados”, finaliza o Missionário Sacramentino de Nossa Senhora, Irmão Denilson Mariano.

Danilo Alves – Tribuna do Leste

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