Padre João Batista realiza visita solidária e missionária a Brumadinho
Solidário a dor e sofrimento do povo de Brumadinho (MG), o vigário da Paróquia Divino Espírito Santo, de Divino, Pe. João Batista de Oliveira se sentiu impelido a levar seu apoio e presença junto a este povo que embora dilacerado pela dor, mantém viva a fé, a esperança e a convicção de que devem se unir, se fortalecer para fazer acontecer a Justiça. A passagem do clérigo pelo local devastado pela lama da mineradora Vale aconteceu no início do mês.
Próximo à área assolada, Pe. João Batista de Oliveira pôde visualizar de perto a imensa destruição provocada pelo rompimento da barragem, onde não há dúvidas que se trata de um crime, confirmado pelo cenário, as cercas da Vale, os depoimentos do povo. É oportuno recordar que na ocasião da tragédia de Mariana em 2015, que vitimou à morte de 19 pessoas, a Vale chegou a usar o slogan “Mariana Nunca Mais”, mas infelizmente o que ocorreu foi de uma proporção muito maior. A preocupação que acomete a todos, é quanto ao estado das outras barragens que a Vale administra, que somam aproximadamente 175 barragens.
De acordo com Pe. João Batista de Oliveira, no local de destruição, onde a lama encobriu e devastou plantações, construções e histórias de vida, encontra-se um grupo de heróis, verdadeiros anjos incansáveis a procura de corpos para dar às famílias, o direito de enterrar seus entes queridos. Na hora do almoço, Bombeiros da força Nacional se dispuseram a contar um pouco desta imensurável missão. Na oportunidade, vigário da Paróquia Divino Espírito Santo dirigiu-lhes palavras de agradecimento, incentivo e fé, e em seguida num momento de oração, todos rezaram pedindo bênçãos e forças para esses heróis, que após receber a bênção puderam retomar a vasculhar a lama em busca por corpos.
Pe. João Batista de Oliveira alertou para o risco de as autoridades, na medida que o tempo passa, ir esquecendo esta realidade o que, em sua avaliação, não pode ocorrer. “Agora temos esta situação que nos desafia não apenas para ações imediatas de solidariedade, muito necessárias, mas precisamos também de ações efetivas de prevenção para que não ocorra mais a destruição da casa comum e sobretudo da família que habita esta casa comum”, disse.
O vigário reitera que o cenário parece um mundo paralelo e é difícil acreditar e entender o que os olhos enxergavam. “Na medida em que chegávamos nas áreas rurais da cidade, começamos a ver a lama. Um verdadeiro deserto de lama e destruição. É um grande choque. São plantações, casas cobertas pela lama, empresas, de tudo. Parecia um cenário de guerra. Em alguns locais não era possível distinguir o que havia ali anteriormente, pois a lama atingiu uma altura de 20 metros. Os moradores locais apontavam lugares onde ficavam empresas, casas, caminhões, mas só era possível ver a lama. Em outros pontos vimos carros arrastados, troncos de árvores e ferros retorcidos. Um cenário de terror”.
O que verdadeiramente aconteceu em Brumadinho, Minas Gerais, não foi um desastre natural. Mas sim um crime, como se a natureza desse uma resposta aos abusos do capitalismo. Uma empresa chamada Vale que em nome do lucro manteve uma barragem ultrapassada em seu modelo. Em outras palavras, o lucro acima das pessoas. O resultado, conhecemos. Mortes, natureza devastada, rio poluído, economia local destruída. É o preço que pagamos quando o lucro se torna um deus.
A Companhia Vale do Rio Doce é uma mineradora multinacional. Uma das maiores do mundo no ramo de minério. Já foi empresa estatal. Hoje é privada de capital aberto. Em novembro de 2007, tornou-se a 31º maior empresa do mundo. Em janeiro de 2012 foi eleita como a pior empresa no quesito direitos humanos e meio ambiente. A prova disso foi o que aconteceu em Mariana e agora em Brumadinho. Seus atos sempre privilegiaram o capital. E não pessoas. O lucro sempre foi à bandeira motriz que impulsionou a empresa. “Nesse crime em Brumadinho há uma série de irregularidades. Esperamos que o ministério público, juntamente com a polícia e demais órgãos como IBAMA, faça um pente fino nessa empresa. Pois vidas foram perdidas para sempre. Dinheiro algum pode trazer uma vida de volta”, indaga Pe. João Batista de Oliveira.
“As perguntas que devemos fazer é: o que podemos aprender de tudo isso? A justiça se fará efetivamente? Mas independente das perguntas. Fica a indignação. O capital financeiro enterrou a dignidade humana. Esse crime não atinge somente a economia local. Atinge vidas. Devemos diante de tudo isso cobrar uma posição de nossas autoridades. A vida deve estar acima do lucro. A lama que passou não levou somente coisas. Levou sonhos, famílias, dignidade, e tal crime jamais deve acontecer. Pois, com os recursos tecnológicos que temos hoje é possível prever e prevenir tais acontecimentos. Os responsáveis devem ser nomeados e punidos. A empresa precisa rever seu modus operandi. Afinal de contas é possível ter o lucro respeitando a vida humana e toda a natureza. Sabendo que os recursos naturais possuem uma finitude e devem ser usados de forma racional. É preciso que toda a sociedade acorde do sono do lucro. E pensemos também nas pessoas” – complementa o vigário da Paróquia Divino Espírito Santo.
Danilo Alves – Tribuna do Leste