Eleições 2018: CNBB lança cartilha para orientação do pleito deste ano
A atual situação do país exige discernimento e compromisso de todos os cidadãos e das instituições e organizações responsáveis pela justiça e pela construção do bem comum. É neste contexto que dioceses e regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil Regional (CNBB) mobilizam-se para contribuir no processo eleitoral. E dentro das iniciativas consta a criação de uma cartilha de orientação política criada pela CNBB Regional Sul 2, que busca levar aos eleitores e candidatos subsídios para o entendimento das questões éticas, políticas e históricas do País.
A cartilha é dividida em quatro partes. A primeira trata sobre a crise política, o descrédito com os políticos e o acirramento da polarização. A segunda, fala da Igreja e as eleições, lembrando das contribuições da Igreja Católica na aprovação de leis importantes como a Lei contra a Corrupção Eleitoral e da Ficha Limpa, e pede uma maior participação dos católicos na política. A terceira parte traz informações sobre o processo eleitoral em si, explicando os cargos em disputa, coeficiente eleitoral, voto em legenda e financiamento de campanha. A última parte é sobre a responsabilidade de cada eleitor e como denunciar compra de votos. Um dos maiores desafios desta eleição será o combate às Fake News – o assunto também é contemplado na cartilha.
Para o secretário executivo da CNBB Regional Sul 2, Padre Valdecir Badzinski – em entrevista ao Jornal Tribuna do Leste, a cartilha de orientação política tem o objetivo de conscientizar e orientar os cristãos féis da Igreja Católica, quanto a palavras e orientações que nem sempre são importantes para o bem comum, pois podem ser informações consideradas tendenciosas, provenientes de diversos segmentos da sociedade. “Por meio da cartilha os bispos fazem uma análise da realidade brasileira, englobando a crise ética, as ameaças a democracia, as corrupções, os descréditos nas políticas e nos homens e mulheres que estão envolvidos no acirramento da polarização e também os sinais de esperança para a nação. O documento tem um novo olhar e tenta auxiliar os fiéis quanto a uma tomada de decisões na hora de votar”, explica.
A premissa do documento é a evangelização, missão da Igreja, pelo fato da instituição não se identificar com nenhuma ideologia ou partido político, de modo que a cartilha é um subsídio destinado a eleitores e candidatos, grupos, comunidades e os meios de comunicação social. Quando a Igreja fala de política, compreende-a no sentido amplo do termo, pois a política tem a ver com os valores da paz, da justiça, do amor, no cuidado das pessoas seja da cidade, seja do campo, sobretudo dos pobres e da humanidade. De acordo com Padre Valdecir Badzinski, a Igreja do Brasil sempre esteve atenta na orientação dos seus fiéis, pois a sua essência nasce de uma preocupação com o bem social e o bem comum, tendo a Igreja, desde o seu princípio e fundamento, sendo profética no âmbito social. “A cartilha faz uma análise da realidade do tecido social e, direcionando, a vida social a partir dos valores e dos princípios da ética e da moral. Por isso, ela tem a missão de orientar os cidadãos com a palavra dos valores e dos princípios. Não são orientações tendenciosas ou parciais, mas sim indicações para o bem comum. Esse é o papel da Igreja – auxiliar na construção do tecido social para um bem comum. Orientando, como uma mãe orienta um filho”, explica.
Não venda o seu voto
De fato, o slogan “Voto não tem preço, tem consequência” é repetido em diversos ambientes.
Na prática, há pessoas que falam sobre a moralidade e a corrupção, mas essas mesmas pessoas vão aos candidatos pedir emprego. É necessário crescer na consciência que, para ser um servidor público precisa prestar concurso e ter conhecimento técnico, o cidadão deve criticar os cabides de empregos nas prefeituras, governo do estado e federal. Muitos dos impostos são gastos para manter os “chupins” que não estão fazendo nada, apenas recebendo salário e sem condições de trabalhar em prol do bem comum.
O cristão leigo não deve pedir emprego e nem favor, mas exigir seus direitos e cumprir com os seus deveres. Segundo o secretário executivo da CNBB Regional Sul 2 este cenário não é um contexto apenas no período eleitoral, e por isso, cabe a sociedade refletir da forma em que se vive no contexto ético, moral e social. “É preciso uma mudança de comportamento para que se desvincule a compra do voto com uma realidade política. Essa realidade não pode permear a vida social, pois desequilibra todo o tecido social e deixa em descredito a forma de viver em sociedade. Por isso, o voto realmente tem consequência, não tem preço, não tem valor e não é algo a se trocar. Mas a consequência dele pode ser definida em uma sociedade boa e organizada para o bem comum, ou uma sociedade dirigida e governada para poucos ou para o bem particular. É preciso que todos tenham consciência que o voto não se vende, e o ato de cidadania deve ser realizado de forma que seja benéfico para o bem comum futuro”, disse.
Igreja atenta a situação do Brasil
Os cristãos são convidados primeiramente a votar, mas depois de eleger é preciso estimular a participação de cristãos e cristãs, leigos e leigas, em todos os âmbitos das políticas públicas para que haja um governo voltado para o bem-estar social, a partir de valores éticos e morais. Segundo Padre Valdecir Badzinski, todos aqueles que votam devem ser impulsionados e incentivados a fazer e a mostrar os caminhos do bem comum – seja nas políticas públicas, movimentos sociais, nos conselhos de escola, conselhos de instituições e de associações. “A Igreja no Brasil está atenta à realidade nacional e deseja contribuir mais uma vez na conscientização do povo brasileiro por ocasião das eleições gerais deste ano. Ela está a cada instante procurando conscientizar o povo brasileiro – em linhas gerais – na elaboração de uma melhoria no tecido social, seja orientando a sociedade através dos princípios de que ela se despõe e direcionando aqueles que forem eleitos para que faça o melhor pela sociedade em todas as instâncias do governo”, finaliza.
Danilo Alves – Tribuna do Leste