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Reflexão: o elogio da sede!

Pe. Mundinho, sdn

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Os Missionários Sacramentinos na Amazônia atuam em duas realidades na cidade de Manaus: uma na Área Missionária Tarumã (periferia da grande cidade, em meio a uma população diversificada, em área de ocupação), outra no bairro Flores, Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, região da cidade que acolhe o pessoal da classe média. Realidades diferentes em uma mesma cidade, com necessidades comuns no que diz respeito à vida e à existência.

Todos são objetos da atenção e da dedicação dos incansáveis missionários que ousam evangelizar os que estão sob sua responsabilidade na Arquidiocese de Manaus.

Manaus é a Pátria das Águas, muita água, abundância nos rios e nas torrenciais chuvas que caem todos os dias nesta época do ano. Um fenômeno curioso se dá no encontro das águas dos rios Negro e Solimões que margeiam a cidade. Paisagem encantadora – as águas não se misturam. Permanecem por determinado tempo em sua coloração escura e também barrenta, em temperaturas e PH (índice de acidez da água) diferentes.

A sede é um lugar necessário no itinerário cristão!

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Ao mesmo tempo em que refletia sobre a abundância das águas, deparei-me com o tema da sede. O Elogio da Sede”, tema do retiro quaresmal proposto ao Papa Francisco e aos responsáveis pela Cúria Romana pelo Pe. José Tolentino Mendonça. Com o mesmo título, foi posto à venda no dia 13 de Abril o livro (ed. Quetzal) que reúne os textos das meditações que o também poeta e exegeta bíblico português propôs ao Papa e aos seus mais diretos colaboradores.

O Pe. Tolentino, disse que escolheu o tema da sede porque parece indicar um patrimônio fundamental do crer. Crer não é satisfazer-se, não ter as soluções nem ter encontrado as respostas. Crer é habitar o caminho, habitar a tensão, viver dentro da procura. Os crentes em Deus, nesse sentido, mais do que estar saciados de Deus, aprendem os benefícios da sede, a importância de viverem no desejo de Deus, na espera de Deus. Um crente não possui Deus, não o domestica com os seus rituais e as suas crenças. Ele vive na expectativa de Deus e da sua revelação que, em grande medida, é sempre surpreendente, é sempre inédita.

“Qual é a primeira sede?… A primeira sede é a sede da sede, viver não na administração das nossas certezas, mas numa espécie de fronteira, numa espécie de limiar, que faz do ato de crer ou do ato de rezar uma forma de atenção: de atenção a nós próprios, de atenção à vizinhança de Deus, de atenção aos outros, à história…” expressou o padre e poeta Tolentino.

A satisfação dos nossos desejos é colocada como uma

promessa fantasma ao alcance da mão.

No mundo de hoje já não espaço para grandes sedes, para grandes desejos, porque vivemos numa época em que predomina o consumismo, numa sociedade de satisfação permanente e imediata. Não há espaço para a espera. Tem que ser pra já a satisfação dos desejos. Porém uma satisfação enganadora, porque não satisfaz. Um desejo que se possa satisfazer de um momento para o outro não é um verdadeiro desejo humano. O grande problema da ideologia dominante do consumismo é que ela não suporta a sede, não suporta o desejo. Todos os desejos são para ser realizados no mais imediato possível.

“Se quiseres construir um navio”, detém-te primeiro a acordar nos operários “o desejo do mar distante e sem fim”? (Saint-Éxupery)

A sede não é um tópico apenas religioso, a sede interessa a toda a gente. Seremos menos se descuidamos da atenção para com a nossa sede, se não a estimamos e a potenciamos. O que nos abre horizontes não são as certezas provisórias que vamos encontrando, mas a existência de nossa sede.

Se quisermos conhecer uma pessoa, devemos perguntar que sedes é que ela transporta, que sedes nós permitimos que nos habitem. São essas sedes – que não podem ser a sede de poder, a sede do ter, do dominar, do consumir, da violência, mas a sede de justiça, de solidariedade, de bem, de beleza – que são capazes de nos avizinhar do sentido, da verdade da própria existência. Ignorar a nossa sede é desconhecer-se a si próprio, é ser um estrangeiro da sua própria vida.

No final do retiro o Papa a concluiu:

“Uma das coisas que achei importante foi dizer que

Deus tem sede das nossas sedes.”

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