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Casa de Cultura de Manhuaçu: um tesouro escondido

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No espaço triangular, o prédio separa duas vias bastante movimentadas e se perde do olhar das pessoas que passam despercebidas, sem ao menos terem noção da grandiosidade e a rica história protegida pelas paredes construídas por tijolos maciços. Materiais trazidos à época de trem de ferro direto da cidade do Rio de Janeiro. Mais imponente quanto esta construção, que hoje some entre os novos prédios são as suas portas e janelas de ferro forjado que foram importadas da França. E, para a confecção não foi necessário importar profissionais de fora, apesar da encomenda ter sido feita a um estrangeiro. Não um estrangeiro qualquer, e sim a um libanês tão manhuaçuense como qualquer outro nascido aqui: Luftala Fadlala Abdala, ou simplesmente o Sr. Lutfala.

O imóvel foi inaugurado em 1929, funcionando como sede do Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais. Abrigava a então agência do banco e residência do gerente em um só edifício. Posteriormente funcionou como agência do então INPS e sede da Delegacia Regional de Polícia. Sendo hoje administrada pela Fundação Manhuaçuense de Cultura, a Academia Manhuaçuense de Letras e a Casa de Cultura, e com denominação atual de Palácio da Cultura de Manhuaçu (popularmente conhecida como Casa de Cultura).

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O local é referência cultural da cidade, abrigando biblioteca com arquivos de jornais e livros relacionados com a história da cidade, espaço para eventos, exposições e inclusive a Academia de Letras de Manhuaçu.

Com o passar do tempo, o avanço tecnológico está conduzindo ao esquecimento para muitos, o lugar onde abriga a história regional, que deveria estar sendo difundida pelos quatro cantos do mundo. A origem de tudo concentra em Caparaó, que ficou conhecida pela permanência de guerrilheiros. Mas, a nossa cultura está ficando adormecida.

Quem passa pela praça à frente, tem uma vaga impressão que o prédio está fechado por inteiro, para proteger todo o rico acervo escondido. Assim, distancia a curiosidade para saber o que está guardado e, entender a história e a identidade da região.

 Revitalizado há 4 anos atrás, em vários pontos da estrutura há pichações que tiram toda a beleza do “Palácio”. Por dentro, o forro de um dos cômodos se encontra parcialmente despencado. Além disso, o mato está tomando conta do jardim que fica na entrada do imóvel.

O desabafo de quem vê a história se apagando a cada dia

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O presidente da Fundação Manhuaçuense de Cultura, Dr. Luiz Gonzaga Amorim recebeu a reportagem “TL”, para falar sobre a situação do local que abriga uma riqueza regional, capaz de inspirar livros, com histórias maravilhosas do tempo passado para vislumbrar o momento presente. Dr. Luiz Gonzaga Amorim ressalta que todo um trabalho é feito, a fim de preservar o patrimônio cultural, mesmo enfrentando inúmeras dificuldades. O prédio da Casa de Cultura é um lugar tombado e deve ser preservado, bem cuidado e visitado por todos que desejam conhecer a história da região. No ano passado, mais de 2 mil estudantes foram à Casa de Cultura para realizar pesquisas, bem como muitos visitantes de fora passaram por Manhuaçu e foram conhecer o espaço dedicado à cultura.

Embora guarde uma riqueza literária invejável, a Casa de Cultura é atualmente um “tesouro esquecido” pelas autoridades locais, que sequer oferecem ajuda para a continuidade dos projetos para a conservação do acervo. O presidente da Fundação Manhuaçuense de Cultura, Dr. Luiz Gonzaga Amorim relata que o espaço é mantido pelos acadêmicos, que têm grande apreço pelo lugar. Para manter em ordem os arquivos, o acadêmico Wagner Orlandi permanece todo o tempo realizando o trabalho organizacional, na condição de voluntário da Casa de Cultura.

Ajuda financeira é coisa do passado na cultura

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As dificuldades são inúmeras para a manutenção do ambiente para receber visitantes, estudantes secundários e universitários, para a realização de pesquisas sobre a região. Há muitos anos, o município não passa nenhuma subvenção à Fundação Manhuaçuense de Cultura, para realizar a manutenção do “Palácio da Cultura”. “Aquela casa é o único bem patrimonial tombado pelo Patrimônio Histórico de Manhuaçu. A prefeitura, por meio do ICMS Cultural recebe uma quantia considerável mensalmente e, poderia muito bem ajudar a Casa de Cultura. Tem muito dinheiro lá, mas não temos ajuda financeira, nem apoio de ninguém”, ressalta Dr. Luiz Gonzaga Amorim.

Ao ser perguntado se a falta de compromisso e o olhar voltado para garantir a proteção da riqueza que compõe a Casa de Cultura, poderá comprometer todo o patrimônio cultural, o presidente da Fundação Manhuaçuensde de Cultura foi enfático ao afirmar que, o Palácio da Cultura não vai desaparecer porque está no DNA do coração de cada acadêmico. “Acredito que os 40 acadêmicos que estão ali habitam vão trabalhar, para que não desapareça. A nossa dignidade e nosso senso crítico pela cultura, não deixará que o patrimônio fique esquecido. Mas, certamente, se esperássemos pelo apoio do Poder Público, a Casa de Cultura já teria desaparecido”, sentencia Dr. Luiz Gonzaga Amorim.

  Eduardo Satil – Tribuna do Leste

 

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