Pessoas com deficiência: superando os desafios e quebrando tabus
Semana Nacional da Pessoa com Deficiência intelectual e Múltipla é comemorada em Manhuaçu
Toda mãe e todo pai sonham em ter uma filha ou filho sem nenhuma deficiência para poder brincar, jogar futebol, fazer tudo o que fizeram em suas infâncias. Mas nem tudo na vida é como a gente sonha.
Para um pai ou mãe receber a notícia que aquela criança tão esperada tem alguma deficiência é um choque na hora, nem todos estão preparados para receber esse tipo de notícia.
A primeira sensação é de negação, culpa, raiva ou tristeza, esses são alguns dos sentimentos pelos quais as mães e as mulheres grávidas, podem passar ao receber o diagnóstico que seu bebê terá algum tipo de deficiência.
É compreensível que esse turbilhão de emoções invada a vida dessas pessoas, e para que esses sentimentos se abrandem, a ajuda do pai, da família, de amigos e também de uma série de profissionais é fundamental. A primeira barreira a ser quebrada é a aceitação da condição de pai ou mãe de filho excepcional, depois dessa fase, que não tem tempo certo de duração, a adaptação começa e a vida segue o seu fluxo normal.
Mas o que é uma “criança excepcional”? Essa nomenclatura, ainda hoje, é usada tanto para designar uma criança com deficiência quanto para uma criança talentosa, porém, alguns consensos afirmam que a criança excepcional é toda aquela que difere das demais.
Segundo a psicóloga Denise Oliveira, após uma gestação, muitas vezes planejada e muito desejada, é comum para pais e parentes próximos vislumbrarem uma criança perfeita. “Ao ter um filho com alguma deficiência é comum, no início, os pais terem algum a dificuldade na aceitação do filho, o que é superado após o primeiro impacto”, disse.
Esse impacto produzido pela notícia de algo diferente do idealizado provoca nos pais dúvidas em relação à sua própria capacidade de ação, dificultando assim a aceitação, a formação de vínculo com o novo bebê e desestabilizando a rotina dessa família, forçando a mudança de papéis e projetos de vida.
“No processo de superação, na maioria das vezes a ajuda profissional é um apoio muito importante, pois os pais precisam estar fortalecidos para tomar as decisões necessárias para o desenvolvimento da criança e, principalmente, de coração aberto para dar muito amor. As necessidades de uma criança excepcional, tais como, as necessidades de afeto, proteção, social, educacional, psicológicas, são iguais às das outras crianças e, na maioria das vezes, podem ser atendidas com cuidados especiais”, ressalta Denise.
Os pais de crianças deficientes passam por diversas mudanças em sua vida, como: alterações em sua vida profissional; redução do tempo livre devido à sobrecarga de cuidados para com a criança, o que torna o cotidiano de muitas mães algo exaustivo e de dedicação exclusiva aos filhos; aparecimento de diversos sentimentos tanto em relação ao novo filho quanto em relação aos outros membros da família.
Na medida do possível e conforme a capacidade é importante integrar essa criança em convívio social normal como a escola. É vital que ela participe das brincadeiras e atividades, desenvolvendo um convívio social e conscientizando-se dos seus limites físicos. Especialistas da área afirmam que “a deficiência impõe seus limites sendo os cuidados e providências específicos necessários, porém, para que a criança desenvolva seu potencial ela não necessita ser poupada, superprotegida e nem sufocada com excessivo carinho e amor. Essa tendência natural dos pais e parentes próximos para compensar as limitações, em geral, produzem efeitos indesejados na criança, que percebe sentimentos de piedade e compaixão para com ela. As primeiras pessoas que devem ser trabalhadas nesse caso são os próprios pais”, completa a psicóloga.
Os pais
Edith Santiago, moradora do distrito de Vilanova, conta que quando recebeu a notícia de que sua filha Acsa era deficiente foi um susto muito grande. “No meu caso o susto foi maior ainda, pois durante toda a gravidez foi tudo normal, somente na hora do parto quando ela nasceu o médico me disse, ‘Olha sua filha tem uma má formação’. Mas com a ajuda dos amigos, familiares e principalmente da Apae, a gente vem superando. Cada dia é uma luta, mas estamos vencendo”, relata.
Acsa recebe atendimento na Apae de Manhuaçu deste os 15 meses de vida, deu os primeiros passos com 5 anos. “Hoje minha filha está com 7 anos e corre, brinca, se alimenta sozinha frequenta uma escola regular e é uma criança normal, claro, dentro das suas limitações e tem um amor muito grande, o carinho que ela tem por nós é imenso e isso nos dá força para suportar qualquer desafio”, conta Edith.
APAEs
O principal desafio para pais e educadores dessas crianças, ainda hoje, é evitar a segregação. Essas crianças serão futuros adultos e, como quaisquer outros, tem necessidades, desejos, qualidades e defeitos inerentes a todo ser humano.
Sempre marcado com grande rejeição, pais e amigos de pessoas com deficiência foram formando associações como a Apae – Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais, que no Brasil nasceu em 1954, no Rio de Janeiro. Com o objetivo principal de promover a atenção integral à pessoa com deficiência, prioritariamente aquela com deficiência intelectual e múltipla, a Rede Apae destaca-se por seu pioneirismo e capilaridade, estando presente, atualmente, em mais de 2 mil municípios em todo o território nacional.
A escola de Manhuaçu, como todas as outras, é uma entidade de caráter social e assistencial, sem fins lucrativos e sem vínculos políticos ou religiosos. As atividades são orientadas no sentido de promover o atendimento nas necessidades básicas dos indivíduos e sua inclusão com respeito no seio da família e de toda a sociedade.
Além do atendimento às pessoas deficientes a escola conta ainda com o Centro de Convivência, onde os assistidos participam de oficinas de arte e culinária, juntamente com o Clube da Família que oferece aos pais e familiares destas pessoas oportunidade de complementar a renda familiar através venda de produtos de artesanato.
Semana Nacional da Pessoa com Deficiência intelectual e Múltipla
As necessidades sociais, educacionais e psicológicas da criança excepcional são praticamente idênticas às das outras crianças e, com exceção das deficiências mais graves, podem ser satisfeitas sem cuidados especiais. Por isso, é bom que a criança estude em colégios normais e que participe, conforme suas capacidades, das brincadeiras e atividades da escola, aprendendo assim a se relacionar socialmente, aceitando e convivendo com seus limites.
A integração e a inclusão escolar são imprescindíveis para o excepcional ou especial desenvolver seu potencial e exercer seus direitos de cidadão.
É evidente que a deficiência impõe cuidados e providências específicas, e que as necessidades psicológicas têm algumas particularidades. Isso, porém, não significa que a criança excepcional necessite ser poupada, superprotegida nem sufocada.
Desde sua instituição, em 1964, a Semana é promovida anualmente de 21 a 28 de agosto e cria uma grande mobilização nacional em torno das pessoas com deficiência. Além disso, permite uma maior sensibilização e conscientização da população brasileira e dos governos em favor da busca pela garantia de direitos da pessoa com deficiência, e de sua inserção efetiva nos contextos social, cultural, educacional e político do cenário nacional.
A Semana é um momento de reflexão acerca da pessoa com deficiência, seus direitos e sua inclusão na sociedade. As APAEs são pioneiras no movimento de inclusão em prol da pessoa com deficiência.
Com base no tema: “Pessoa com deficiência: direitos, necessidades e realizações”, a Fenapaes- Federação Nacional das Apaes, tem como objetivo quebrar tabus e vencer as barreiras da desigualdade, lutando pelos direitos das pessoas com deficiência, que têm a necessidade de apoio em diversas áreas: social, familiar, escolar, trabalhista e etc, para que a inclusão se torne efetiva e as pessoas com deficiência se tornem mais preparadas e amparadas diante das dificuldades da vida.
“É muito importante que as pessoas com deficiência saibam de seus direitos, pois a Constituição Brasileira oferece a estas pessoas uma série de benefícios através da Lei 13.146 – a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania” explica o Presidente da Apae de Manhuaçu, Xerxes Albéfaro.
Em seu artigo 4º rege a lei que “Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”. A Lei garante ainda ao deficiente desconto de impostos ao adquirir veículos novos, passe livre em transporte intermunicipal, benefício social relativo a um salário mínimo por mês, dentre outros. “Estes são apenas um pouco dos direitos dessas pessoas, mas precisamos valer seus direitos para suprir as suas necessidades, que varia muito de pessoa para pessoa”, comenta o Presidente.
Infelizmente, a surpresa ou certo constrangimento causado inicialmente por algumas deficiências, faz com que as pessoas se fixem nisso e não consigam enxergar que estão diante de uma pessoa integral com necessidades, aspirações, qualidades e defeitos. “Resta, pois, que se construa uma sociedade verdadeiramente democrática, que possibilite a educação sem restrições, em obediência a Constituição Federal, que preceitua em seu artigo 3º, incisos I e IV: construir uma sociedade livre, justa e solidária; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, relata Xerxes.
Programação
A Semana do Excepcional na Apae de Manhuaçu começou a ser comemorada no domingo, (20/08) com missa de Ação de Graças na Matriz de São Lourenço. Na segunda-feira, dia 21, houve caminhada pelas principais ruas do centro de Manhuaçu. Na terça-feira, dia 22, foi realizada confecção de carteira de identidade e ação social promovida em parceria com o SENAC na sede da Apae.
Nesta quarta-feira, dia 23, foi promovido chá com os pais, seguido de teatro com os alunos da Facig. Às 19h30 ocorre o Culto de Ação de Graças na 1ª Igreja Batista de Manhuaçu.
Confira a programação da semana:
Quinta-feira – 24/08
Atividade: piquenique da Partilha no Burakão Clube
Horário: a partir das 8h30
Local: Burakão Clube
Sexta-feira – 25/08
Atividade: teatro com alunos da Faculdade do Futuro e encerramento das atividades com Balança Apae, com muita música, fantasia e dança, celebrando uma grande festa com os assistidos da Apae de Manhuaçu.
Horário: 9h
Local: APAE – Av. Eloy Werner, bairro Alfa Sul
Vale ressaltar que em Manhuaçu, apesar de possuir alguns lugares com acessibilidade, está muito aquém das necessidades reais. Por fim é preciso lembrar que os deficientes não se limitam apenas aos assistidos nas escolas Apaes, são pessoas cegas, cadeirantes, deficientes com a capacidade motora reduzida e muitos deles levam uma vida completamente independente e autônoma superando todos os desafios e quebrando tabus.
Jailton Pereira – Tribuna do Leste