Palavra de Vida: 21º Domingo comum
1ª LEITURA – Is 22,19-23
Este texto é parte do oráculo de Isaías sobre a deposição de Sobna, administrador do rei Ezequias, e a investidura de Eliacim no lugar de Sobna para fazer o que este mau administrador não estava fazendo. O texto mostra que é Deus quem delega o poder, e a autoridade para ser exercida a serviço do povo. Sobna, porém, a estava exercendo em prol de si mesmo. No nosso País, infelizmente, tipos como Sobna estão sobrando por toda parte! O problema é como depô-los e como arranjar substitutos adequados!
Depois o profeta relembra como Eliacim deverá exercer sua autoridade em benefício do povo. Ele deverá ser como um pai; além de título real, “pai” indica a solicitude que ele deverá ter com o povo. Ele vai receber as chaves do palácio real, ou seja, terá plenos poderes e o exercerá com firmeza (veja comparação com o prego pregado em lugar seguro).
2ª LEITURA – Rm 11,33-36
Este hino à sabedoria de Deus é o finalzinho do capítulo 11. Nos capítulos de 9 a 11 Paulo trata da incredulidade dos seus irmãos na carne – o antigo Israel tentando dar algumas explicações. Terminando este tratado ele canta um hino aos insondáveis e incompreensíveis desígnios de Deus. Deus é grande, sábio e justo. Infinito é seu amor para com todos, mas seus caminhos são impenetráveis. Ele é a fonte de todos os dons, de toda a riqueza, de toda a ciência, de toda a sabedoria. Não podemos trocar favores com Deus, pois Ele é o Senhor absoluto de tudo. Tudo Ele faz segundo a gratuidade do seu amor. A nós compete o agradecimento, o louvor e a fé. A fé de que Deus nada faz de errado, e mais ainda, o fato de que tudo o que Ele faz é para o nosso bem. Ninguém pode meditar sobre a realidade de Deus e a realidade do homem sem terminar em adoração como Paulo o fez: “Porque tudo é Dele, por Ele e para Ele. A Ele a glória pelos séculos!”
EVANGELHO – Mt 16,13-20
Este texto pertence à parte narrativa do livrinho sobre a Igreja. Este episódio se localiza em Cananéia de Filipe, que está no extremo norte da Palestina, ou seja, o lugar mais distante do centro de decisões, que é Jerusalém. Estamos, portanto, na periferia do País. O centro, na verdade, jamais seria capaz de acertar com a resposta à pergunta que Jesus vai fazer. Pergunta é: “Quem é Jesus?” Ela é muito importante e válida para todos os tempos. No fundo nossa vida depende desta resposta. Uma resposta naturalmente que deve brotar das atitudes e não das idéias. Jesus não quer uma elite de pensadores, mas um grupo de operários do Reino. A pergunta é dirigida aos discípulos, mas Jesus quer colher duas opiniões. Primeiro a opinião do povo, depois a opinião dos discípulos. Filho do Homem é um título que Jesus gosta de usar para si mesmo. Ele se identifica com a humanidade de tal modo que a maioria das pessoas não consegue ver nele mais do que um homem extraordinário na linha dos profetas.
- A opinião do povo
Os discípulos dizem que há 4 tipos de opiniões entre o povo: Jesus seria João Batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas. Todas as respostas ficam na linha dos precursores dos tempos messiânicos. Ninguém, apesar de todos os prodígios, conseguia ver em Jesus o inaugurador dos tempos messiânicos.
- A resposta dos discípulos
É Pedro o porta-voz dos discípulos, quem responde. Ele é visto como o chefe dos apóstolos e tem uma função de destaque em todo o Novo Testamento. Quem quiser pode conferir: Mt 4,18; Mc 5,37; Jo 6,67; 21,15-23; At 1,13.15; 3,1;10,5; Gl 2,7, etc. É Jesus que lhe dá o nome de Pedro para simbolizar seu indispensável papel na fundação e direção da Igreja. Pedro no evangelho de Mateus responde que Jesus é o Messias e o Filho de Deus. No tempo de Jesus a palavra Messias era mais importante, pois todos estavam esperando o Messias prometido. A expressão Filho de Deus para o povo tinha uma aplicação mais ampla. Referia-se aos anjos, ao povo eleito, aos israelitas fiéis e também ao Messias. Naturalmente para a comunidade, onde surgiu o evangelho de Mateus, o título de Filho de Deus professado por Pedro já tinha alcançado seu verdadeiro sentido, ou seja, Jesus tem uma relação filial única com Deus. Ele é a segunda pessoa da Santíssima Trindade. De fato, Jesus diz a Pedro que o que ele acaba de afirmar não provém de sua cabeça de homem, mas de uma revelação divina. Só mais tarde a Igreja vai perceber a profundidade da resposta de Pedro.
- A contra resposta de Jesus
Jesus muda o nome de Pedro, o que significa que Ele lhe atribui uma grande missão. E a missão é estar à frente da Igreja de Jesus (= minha Igreja). Essa missão de chefe da Igreja é hoje dada ao sucessor de Pedro que chamamos de Papa: “As portas do inferno nunca prevalecerão contra ela”, quer dizer que as forças malignas, forças que estão contra o projeto de Deus não serão capazes de derrubar a Igreja. De onde vêm estas forças? Do capeta? Sim! Não! Quer dizer…! É muito fácil jogar a culpa sobre uma identidade abstrata e tranquilizar a consciência. Estas forças malignas brotam do coração do próprio homem. Brotam de todos aqueles que oferecem resistência ao evangelho, à vontade de Deus, à justiça, ao bem. Toda vez que nossa atitude é egoísta, opressora e injusta somos “Satanás”. O próprio Pedro foi chamado Satanás por Jesus, porque naquele momento (alguns versículos abaixo) estava sendo obstáculo no seu caminho de cruz.
O poder das chaves
“Ligar e desligar” é linguagem técnica. Ligar (as cadeias) significa condenar. Desligar significa absolver. A Igreja, na pessoa de Pedro e seus sucessores (Jo 21,15ss) tem autoridade em assuntos doutrinais e morais. O que ela faz na terra, Deus ratifica no céu. Ela pode proibir (desligar) ou permitir (ligar).
Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo diocesano de Caratinga