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Palavra de vida: 14º Domingo comum

1ª LEITURA – Zc 9,9-10 

Estamos lendo um trecho do penúltimo livro (o último é Malaquias) do Primeiro Testamento. Ele é composto de duas partes de épocas diferentes. A primeira parte ocupa os oito primeiros capítulos. Situa-se após o Exílio Babilônico por volta de 520 a.C. Esta parte foi escrita com estilo profético-apocalíptico, contendo, portanto, oráculos e visões direcionadas para a certeza da realização das promessas de Deus. Já o segundo Zacarias (segunda parte) vai do cap. 9º ao 14º. Podeter sido escrito  por volta do ano 300 a.C., quando o mundo conhecido estava sob o domínio grego. Foi escrito em estilo apocalíptico. O último capítulo (14) trata do combate escatológico, lembrando o “Dia do Senhor,” que é ao mesmo tempo temível e desejável. O livro de Zacarias já nos é conhecido, pois aparece no Segundo Testamento, sobretudo Zc 9,9: “Ele vem, montado num jumento, num burrico, filhote de jumenta”, com também, a última frase do livro: “Naquele dia não haverá mais comerciantes dentro da casa do Senhor”. Estes textos são citados em Mt 21 (e paralelos) com a entrada solene de Jesus em Jerusalém e o episódio dos vendilhões do Templo.

            Os dois versículos da Liturgia de hoje foram tirados do início da segunda parte do livro – Zc 9,9-10. Os vv 1-8 destacam a vitória de Deus sobre os povos vizinhos. A chegada transformadora do grande Alexandre Magno (330 a.C.) é vista com bons olhos como sinal de renovação. Nossos dois versículos descrevem a chegada do Messias na sua simplicidade, porém trazendo a vitória. Ele vem montado num jumentinho como rei messiânico justo, vitorioso, humilde e pacífico.

            É interessante que apesar da opressão sobre Israel por potências estrangeiras, o profeta convida o povo de Jerusalém à alegria e à dança, na certeza da chegada do Messias, que acabará com a opressão do povo e reinará na justiça e na paz. A novidade com relação a outros oráculos proféticos é que o Messias não chegará como acontece com os grandes reis com o poder dos exércitos e das armas, mas na pobreza e na justiça: “Ele é pobre, vem montado num jumento, num burrico, filhote de jumenta” (final do v. 9).

            A ação do Messias é descrita no v. 10. Ele dispersará “cavalos” (expressão da riqueza, opulência e prepotência dos grandes reis) e “todas as armas de guerra”. Apesar do claro repúdio da força militar, ele chegará vitorioso e trará a paz para as nações através de sua palavra. Seu reino ocupará uma vasta extensão (final do v. 10). Um rei deste tipo só vai encontrar realização em Jesus de Nazaré com sua humildade e inversão dos então conhecidos valores de sua época.

 2ª LEITURA – Rm 8,9.11-13

                     O capítulo 8º da carta aos Romanos, que pode ser intitulado de “Vida no Espírito”, vai ser lido desde este XIV domingo comum até o XVIII. Diz a “Bíblia do Peregrino” (tradução e comentários de um dos maiores biblistas do século passado – Luís Alonso Schökel) que  Rm 8 é o ápice da carta aos Romanos, “uma das páginas mais ricas e belas de Paulo, uma página excelsa da literatura religiosa da humanidade”. Há no nosso trecho uma contraposição entre Espírito e carne. Espírito com letra maiúscula é o Espírito Santo. Com letra minúscula é o espírito humano. A palavra “carne”, neste contexto, pode ser melhor entendida como instintos egoístas” ou “baixos instintos”. A Bíblia da CNBB usa simplesmente os termos “Espírito” e “carne”. No fundo, o texto fala da contraposição e consequências de quem vive segundo o Espírito e de quem vive segundo a carne. Quem tem o Espírito de Cristo pertence a Cristo. Quem não o tem, não pertence a Cristo. Nós não vivemos segundo a carne (os instintos egoístas), mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus mora em nós. Este Espírito é quem ressuscitou Cristo dentre os mortos. Se este Espírito habita em nós, ele vivificará também nossos corpos mortais. “O instinto é um dinamismo no ser humano, que inspira e promove ações; mas deixado a si, se opõe a Deus e conduz à morte definitiva”. Entretanto, o Espírito de Cristo “se instala em nosso espírito como princípio de vida nova. Primeiro, inspira ações concordes com ele; depois, estende seu poder até vivificar o corpo mortal. Vence a fragilidade ética e a caducidade orgânica do homem. Salva o homem inteiro”. Estas informações devo à Bíblia do Peregrino.

            Depois deste arrazoado, Paulo chega a uma espécie de conclusão: “Portanto, irmãos, estamos em dívida, mas não com a carne, como devendo viver segundo a carne (v.12). Pois, se viverdes segundo a carne morrereis; mas se pelo Espírito, matardes o procedimento carnal, então vivereis” (v.13). Em síntese, podemos dizer, que nós, pelo batismo, recebemos o Espírito de Cristo e fomos renovados para vivermos não segundo a carne (baixos instintos), mas segundo o Espírito, este novo dinamismo interior, que foi implantado em nossos corações para superamos a lei do pecado e da morte.

EVANGELHO – Mt 11, 25-30

             Sabemos que o evangelho de Mateus é composto de cinco grandes narrações e cinco grandes discursos ou sermões. A cada grande narrativa segue um grande discurso. Temos assim cinco livrinhos. Depois dos primeiros capítulos que são o evangelho da Infância de Jesus vemos o 1º livrinho: A justiça do Reino  – a parte narrativa: A chegada do Reino (3-4). Depois, o discurso chamado o Sermão da Montanha. (capítulos 5-7). 2º livrinho: A dinâmica do Reino. A parte narrativa: Os sinais do Reino (8 – 9). O discurso – A missão dos discípulos (cap.10). 3º livrinho: O Mistério do Reino. A parte narrativa – A oposição a Jesus (11 – 12). É aqui que está o nosso texto de hoje. O discurso – As parábolas do Reino (cap. 13). 4º livrinho: A Igreja – Semente do Reino. A parte narrativa: o seguimento de Jesus (13,53 – 17,27). O discurso – A vida da Igreja (cap. 18). 5º livrinho: A vinda definitiva do Reino. A parte narrativa – O Reino é universal (19 – 23). O Discurso (cap. 24 – 25). Os capítulos finais 26 – 28 falam da Paixão e Ressurreição de Jesus.

            Assim o trecho 11, 25-30 pertence ao terceiro livrinho que trata do Mistério do Reino e está dentro da parte narrativa (11-12), mostrando a oposição a Jesus. O texto que precede imediatamente a nossa perícope é chamado na Bíblia da CNBB de “A incredulidade das cidades da Galiléia”. A edição Pastoral o chama de “O julgamento da autossuficiência”, e a Bíblia do Peregrino o intitula: Jesus “Recrimina as cidades da Galiléia”. Depois, segue o nosso texto 11,25-30 com diversos títulos: “O Pai e o Filho” (Bíblia do Peregrino e Tradução Ecumênica da Bíblia – TEB); “A revelação aos pequenos” (Edição CNBB); “Os pobres evangelizam” (Edição Pastoral); “Vinde a mim e vos aliviarei” (Edição das Vozes).

            Interessante é que é em meio a grandes oposições ao seu ministério que Jesus encontra um espaço para esta belíssima oração ao Pai, oração de louvor, agradecimento e conforto para os que estão cansados.

            A primeira parte do texto de hoje (vv 25-27) traze o louvor de Jesus ao Pai, porque aos pequeninos, ou seja, aos seus discípulos, o Pai tem o prazer de revelar os mistérios do Reino (“estas coisas”), enquanto aos seus adversários ferrenhos, fariseus e escribas, que se acham “sábios e entendidos”, o Pai esconde estes mistérios. A bondade, a misericórdia e a ternura do Pai não são conhecidas dos “sábios e entendidos” da Lei, para quem Deus é um legislador rigoroso e um juiz implacável, propenso à condenação. Bem diferente é o Deus revelado por Jesus, um Deus de amor, de justiça misericordiosa, que se compraz em olhar pelas pessoas mais humildes, mais pobres e desprezadas pela sociedade. O versículo 27 mostra a relação íntima entre o Pai e o Filho e apresenta o Filho como único revelador do coração do Pai. Assim não são os escribas e fariseus que tem condição de afirmar o verdadeiro conhecimento de Deus, mas apenas Jesus, a quem o Pai “entregou tudo”.

            Jesus é aquele de quem o Pai diz, por ocasião do Batismo: “Este é o meu Filho amado em que coloquei as minhas complacências.” Como também no momento da Transfiguração: “Este é o meu filho amado; ouvi-o”

            Na segunda parte (vv 28-30), Jesus faz um convite aos que estão cansados de carregar os fardos impostos pelos homens da lei (escribas e fariseus, chamados, ironicamente, de “sábios e entendidos”. O convite é para se dirigir a ele, pois ele lhes (aos pequeninos) promete descanso. Jesus não lhes impõe um fardo pesado, pois o seu jugo é leve. Jesus convida os oprimidos e esmagados pela Lei a ser seus discípulos, pois nele eles encontram alívio, paz, descanso. Bem diferentemente dos mestres da Lei, Jesus é manso e humilde de coração. O autorretrato de Jesus está claro nas bem-aventuranças do Reino (Mt 5, 1-12). Lá,  Jesus declara felizes, ou em marchar com ele, os pobres, os que choram,os mansos, os que tem fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que são perseguidos por causa da justiça. Os mestres da Lei não são capazes de entender “estas coisas” estes mistérios do amor apaixonado do coração do Pai. Só o Filho pode revelar tudo isso.

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