Artigo: Escola pra quê?
Além de inteligente, fina, ela é uma aluna muito aplicada. Dia desses, me interrompeu com uma pergunta: “Professor, sem querer ser grosseira, para que vai servir isso que você está ensinando? De prático, em que vou poder usar na minha vida, por exemplo?”
De uns tempos para cá, é muito comum o aluno questionar os porquês de se aprender determinado conteúdo. Quando era estudante e não conseguindo entender um tópico de álgebra, procurei o professor em particular e perguntei educadamente para que serviria aquilo. Ele, “muito gentil”, respondeu: “Primeiro você aprende isso, depois pergunte para que serve”. Fiquei tão embriagado de satisfação, que saí sem lhe agradecer.
Muitos “educadores” – uma gente à toa, que não dá aula, mas passa a vida inventando coisas e publicando bobagens – costumam afirmar que o professor deve contextualizar tudo o que ensina para que o aluno seja estimulado a aprender. Concordo. Mas aquela gentalha vai adiante: “Se o aluno não sabe onde vai usar o que aprendeu, como vai se interessar pela aula?” – emenda a besta, que só sabe futricar com a vida de quem trabalha. Quando surgem perguntas assim, normalmente respondo que o ENEM, os vestibulares e os concursos cobram. Noutras vezes, costumo dizer que aquilo não serve para nada, que a escola poderia fechar e dispensar a todos e que a sociedade economizaria muito com a extinção do ensino. Por que aprender Literatura, História, Geografia? Vai usar poesia onde?… A História foi escrita pelos vencedores, logo é mentirosa. Geografia é algo provisório, porque as fronteiras se movimentam sempre. Melhor mesmo é aprender uma profissão e ganhar a vida, fazendo pães, apertando parafusos, assentando tijolos, instalando antenas parabólicas… Opa! Eu disse ‘parabólicas’?!
Mas voltando à mocinha lá em cima, o conteúdo que lhe causou aborrecimento é bastante simples: equações quadráticas, que geram gráficos denominados parábolas e que são a base da tecnologia de transmissão de sinais em telecomunicação. Sem esse conhecimento, as tais ‘antenas parabólicas’ não existiriam e alguém já ficaria sem emprego! Expliquei à mocinha, que até o século dezenove muitas equações eram de amplo domínio, mas sem emprego prático. Caso os alunos de outros tempos aprendessem apenas o que lhes fosse de uso imediato, talvez estivéssemos ainda rolando cargas sobre toras, como fazíamos há alguns milênios.
Recentemente, a imprensa publicou matéria sobre a educação no País, dando destaque para Matemática: os alunos do Ensino Médio estão cada vez piores nessa disciplina. Fico tomado de angústia quando leio coisas assim. Mas, pensando bem, de quem é a culpa? É óbvio que é do governo, mas vamos fugir das obviedades. Não seria também dos pais, dos mestres, dos próprios alunos? Não sei responder. Mas sei que nosso aluno, em geral, está cada vez mais preguiçoso, não quer estudar, não quer pensar!
Albert Einstein, quando esteve no Brasil, impressionou-se com a malemolência do brasileiro. O ‘Pai da Relatividade’ teria afirmado que “o calor dos trópicos amolece o caráter do brasileiro”. Maldade à parte, penso que deveríamos ser mais responsáveis com nosso ensino formal. Se ‘a escola existe para desasnar o povo’, conforme ensina Renato Janine Ribeiro, ‘a sala de aula deve ser uma oficina de pensamento’. E um povo que não sabe pensar, não pode sequer sonhar um projeto de nação.
FILIPE