Coluna: Perdas
Felipe Moura
Perde-se sempre, e sempre se perde na busca
de um dia não vivido.
Da tarde de um domingo esquecido,
escondido nas entranhas do passado.
Abundante e traiçoeiro passado!
És tu que afugentas o futuro e o presente ofuscas?!
Perde-se sempre, e sempre se evita a perda.
Se o futuro não se faz presente
e o passado nada mais representa…
Então, o que fazer?…
Nada a fazer.
Esperar que nada aconteça é espreitar o vazio.
É o fim das lustrosas ilusões,
das esperanças vãs.
Quem espera quase sempre não alcança;
quem alcança, não espera alcançar sempre.
Mas, perdas…, sempre as há.
E a vida vai escorrendo
sobre as pedras da estrada, da escada.
Nesta escada fica, em cada degrau,
um pouco de vida não vivida.
Fica vida nos desvãos da escada,
como sombras.
Que sobram
lôbregas, pavorosas,
de um sonho interrompido.
Mas continua a assombrosa escalada.
No final, sobra-se só.
Soçobra-se.
Fonte: feldades.blogs.sapo.pt